Após o período de intervenções dos participantes, abordando aspectos críticos do trabalho de formação e propaganda do Partido, Monteiro procurou salientar elementos positivos constitutivos dessa área de atuação partidária, para então apontar as debilidades e discutir as soluções propostas. “Temos um coletivo nacional de quadros que vai se constituindo, se reforçando e se sofisticando. Isso para um partido comunista que vai se consolidando nessa esfera teórica não é pouca coisa”.
Ele destacou ainda o prosseguimento de um trabalho “persistente e fértil”, só possível, porque há sete anos atrás, o Comitê Central do PCdoB hierarquizou a formação, a comunicação e as finanças como as frentes prioritárias. Mas para Monteiro, o traço do Partido Comunista e dos quadros leninistas é um rigor na auto-avaliação. “Uma rejeição a qualquer consideração baluartista que não escancare as lacunas, as debilidades e os erros”, destacou ele.
“Muito fizemos e construímos, mas quanto mar nos separa de um grau de resolutividade que a formação e propaganda precisa ter num partido comunista que tem o lugar e o papel do nosso, aqui no Brasil, e sem ufanismo, no âmbito do movimento comunista internacional”, pontuou o dirigente.
Monteiro apontou uma circunstância que afeta o funcionamento da formação e propaganda para o próximo período, ao lembrar que quando se constituiu a Fundação Maurício Grabois, em 2008, o Comitê Central decidiu fixar em 20% do fundo partidário para o trabalho de formação e propaganda. “Isso é priorizar na prática, pois valoriza, aporta quadros e recursos”. O alerta está na queda conjuntural do fundo partidário, devido ao resultado eleitoral no Congresso Nacional, que implica numa readequação geral de viagens para os estados, corpo de assessores e até mesmo a inevitabilidade do realocamento de quadros para outras funções.
A luta institucional da frente parlamentar comunista foi tema do debate. “Será que a queda da nossa votação, entre tantos fatores, não estaria relacionada ao tipo e qualidade de luta de ideias travadas pelos mandatos comunistas? Temos que reconhecer que há uma pressão para o rebaixamento de horizontes, e que o PCdoB não é imune a isso. Há uma poderosa pressão do status quo, da usina de ideias das classes dominantes, para domesticar o partido, descaracterizá-lo, afastá-lo da sua essência revolucionária”, questionou o dirigente comunista, a partir do debate feito pelos participantes.
Monteiro sustentou a necessidade de sistematizar as diretrizes e o plano de atividade da formação e propaganda para 2015 e até o próximo congresso, daqui a três anos. Mencionou a conferência, em maio, que virá com uma pauta sobre linhas para reforçar o PCdoB, a partir de um diagnóstico de um conjunto de lacunas e fenômenos negativos.  “Seremos chamados a examinar e diagnosticar, sublinhar nossos acertos nas linhas da acumulação de forças, mas também nossas distorções erros e equívocos”.
Ele defendeu a necessidade da formação e propaganda ir ao encontro das outras frentes de trabalho do partido, como o diálogo com os parlamentares. Monteiro citou iniciativas interessantes para além da luta política, como a sessão solene no Congresso Nacional em homenagem aos combatentes da Coluna Prestes e a restituição dos mandatos comunistas cassados como articulações dessas frentes.
Para ele, é fundamental romper com uma certa compartimentação que eventualmente ocorre nas instâncias partidárias. É preciso buscar uma ação combinada e articulada com as demais frentes de trabalho, como UJS e Secretaria de Organização. Seminários e debates têm que ser partilhados com a Presidência e Secretaria Sindical, conforme o tema, sugere ele. Isso reforça o engajamento e a possibilidade de êxito, em sua opinião. “Temos que participar dos eventos das outras frentes. Que área do PCdoB e que instituição fora do Partido podem ser nossos parceiros?” Setores importantes como a Secretaria de Formação e o departamento de quadros não podem caminhar para lados diferentes.
Outro tema abordado foi a necessidade de haver um nexo entre formação e realidade contemporânea da luta de classes. “A teoria buscando respostas aos problemas que uma vez examinados fazem avançar a jornada transformadora”, analisou Monteiro. A crise da teoria, “vitima da ossificação do dogmatismo” perdeu força, disse ele lembrando as palavras de João Amazonas. “Nosso movimento busca renovar e rejuvenescer essa teoria, desde então. Há uma demanda de estudo e elaboração da própria teoria marxista, nas suas categorias, na sua elaboração, nos seus fundamentos, nos seus conceitos”.
Para superar o fenômeno negativo do dogmatismo no debate sobre a teoria marxista, Monteiro disse que a chave foi disseminar os conceitos, o arcabouço dessa teoria e suas categorias numa dinâmica curricular que simultaneamente investiga a realidade no sentido da prática transformadora.
“O principal fenômeno a desafiar todas as correntes teóricas e filosóficas na atualidade é a crise estrutural e sistêmica do capitalismo que já dura oito anos e que provoca um conjunto de fenômenos”, citou ele. Se é para criar nexo com a realidade que está pulsando, Monteiro diz que uma tarefa foi elaborar centenas de páginas analisando a crise a partir do debate com cerca de 50 autores. “Se há uma escassez de autores no partido produzindo sobre esse tema, é porque nossa corrente teórica ainda não se refez daquela crise mencionada por João Amazonas”, sinaliza.
Qual a contribuição dos comunistas para o acervo de reflexões marxistas sobre a crise?
Esta é a pergunta que deve nortear o trabalho de pesquisa e elaboração teórica. Ele avalia que, para compreender o Brasil de hoje, os dilemas do Governo Dilma, há um impacto muito grande dessa crise internacional que a oposição faz questão de minimizar e esconder. “ A Formação e Propaganda tem que ser o centro da proposição de debates que discutam os dilemas do Projeto Nacional de Desenvolvimento”, afirmou categórico. “A eleição foi uma grande escola ao fazer vibrar o projeto nacional de desenvolvimento e fazer nossa militância mergulhar nesse debate”, lembrou ele.
Monteiro menciona o fato da presidenta Dilma sustentar a necessidade do reequilíbrio fiscal em sua primeira reunião ministerial do segundo mandato. “Mas e a reforma tributária? Porque não tirá-la da gaveta num país em que só os pobres e assalariados pagam impostos? Até o Obama está falando em taxar as grandes fortunas…” Esta foi uma sugestão que sinaliza para o papel do PCdoB no governo, ao apontar propostas focadas na diretriz de defender reformas estruturais.
“Na medida em que as pessoas nos identificarem com aqueles embandeirados que defendem as reformas estruturais, nós reforçamos nossa identidade de esquerda, política e eleitoral. Temos que nos apresentar como uma força que impulsiona de modo construtivo e crítico esse governo a realizar as reformas estruturais”.
Sem resvalar para o doutrinarimos, Monteiro acredita que é preicso avivar essa estratégia, dando mais visibilidade ao rumo proposto, o que configura uma demanda de propaganda. “Quem, além do nosso partido, concebe o Projeto Nacional de Desenvolvimento como caminho para o socialismo? Não há outro partido com uma visão estratégica rumo ao socialismo”.
O dirigente comunista diz que o Partido é “bombardeado” como reformista, “acossado pela esquerda”, porque estes setores  dizem que o PND é apenas um ciclo de desenvolvimento capitalista e não vêem rumo para o socialismo nessa estratégia.
“Comunistas são impelidos a elaborar, não para a crítica teórica ao capitalismo, mas dialeticamente, pela contradição, encontrar soluções para o nosso governo que está fazendo a gestão desse capitalismo”, define ele. Pela ótica comunista, o PND tem uma conteúdo anti-imperialista, anticapital financeiro e rentista e antilatifundiário. “Não dá só pra fazer crítica conceitual. Ajuste fiscal, somos contra! Podemos dizer que somos contra, mas percorrendo por dentro”.