Israel lançou um ataque aéreo na Faixa de Gaza, nesta quarta-feira (23/04), ferindo 12 civis, incluindo crianças, horas após o grupo islâmico Hamas e a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), do presidente Mahmoud Abbas, anunciarem um acordo de reconciliação. Após o anúncio, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, cancelou uma sessão de diálogos pela paz que estava agendada com negociadores palestinos para hoje à noite.

A informação do cancelamento foi dada pelo gabinete do primeiro-ministro nesta quarta. No comunicado, Netanyahu afirma que “Abu Mazen [Mahmud Abbas] deveria escolher entre a paz com Israel ou o acordo com o Hamas”, e ainda argumenta que apesar de haver contato para “prolongar as negociações de paz, [ele] escolheu o Hamas ao invés da paz [com Israel]. Quem escolhe o Hamas não quer a paz”.

Os diálogos foram relançados em agosto de 2012 e estavam previstos para terminarem em 29 de abril.
Pouco antes, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Palestina, Riyad al-Maliki, havia afirmado, segundo a agência Wafa, que Israel não deve se preocupar com a reconciliação entre o Hamas e a OLP, e sim “ter em mente que um acordo de reconciliação não significa o fim das negociações com Israel” e ressaltou que “cabe ao povo decidir” sobre o destino nacional.

Ataque aéreo
Enquanto alguns palestinos de Gaza comemoravam, nas ruas o acordo histórico, que poderia encerrar um período de sete anos de divisão política entre os partidos que fragmentou a Palestina, Tel Aviv lançou o ataque aéreo ao território cercado. De acordo com o porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Ashraf Al-Qidra, a investida feriu 12 pessoas, incluindo crianças de cinco a 12 anos, e adultos, todos civis.

O acordo entre a OLP e o Hamas inclui a formação de um governo de transição em cinco semanas e a realização de eleições no prazo de seis meses. A declaração conjunta divulgada nesta quarta afirma o comprometimento dos dois lados com os princípios da reconciliação, já estabelecidos pelo Acordo do Cairo e pela Declaração de Doha, assinados em 2012 e ainda não implementados.

Os partidos também concordaram que tanto o Hamas em Gaza, quanto o Fatah, partido à frente da Autoridade Palestina,  na Cisjordânia ocupada, libertariam os prisioneiros detidos devido à filiação política.

Repercussão
O governo egípcio manifestou, em um comunicado, ser favorável à reconciliação palestina. O ministro de Relações Exteriores, Nabil Fahmi, disse ter esperança de que o acordo “conduza ao fim da divisão palestina” e que apoiará “de forma positiva” a postura palestina nas negociações de paz com Israel. De acordo com a nota, a questão palestina será um dos principais assuntos tratados pelo ministro sua visita a Washington nesta quinta-feira (24/04).

No mesmo sentido, a Jordânia declarou que “apoia a reconciliação”, além de ressaltar que “conseguir uma representação para todos os palestinos é um objetivo fundamental”. O primeiro-ministro jordano Abdolá Ensur afirmou, em coletiva de imprensa realizada em Ramalá, na Cisjordânia nesta quarta, que que seu país estará ao lado do Estado palestino no processo de paz com Israel e que fará o que for possível para que os palestinos tenham as fronteiras definidas e uma representação com maior legitimidade internacional.

Já os Estados Unidos observaram que se o governo palestino não respeitar os princípios de “não violência” e a existência de Israel, as negociações de paz poderão ser “seriamente” afetadas, como afirmou o porta-voz do Departamento de Estado Jen Psaki, em coletiva de imprensa. Ele ressaltou ainda que os Estados Unidos estão “decepcionados” e “inquietos” diante do anúncio de acordo entre as facções palestinas.