Os integrantes da Missão de Solidariedade ao Povo da Síria divulgam um relato completo da visita ao país árabe, com informações sobre a composição do grupo, as entidades representadas e as reuniões com membros do governo e partidos políticos. Organizada pelo Comitê de Solidariedade ao Povo da Síria, integrado por 45 entidades, a missão aconteceu entre os dias 24 de novembro e 2 de dezembro, com atividades diversas relatadas no documento divulgado pelo sociólogo Lejeune Mirhan, anexo à matéria (na área de downloads à direita) ou integralmente abaixo das fotos.

“Já faz 32 longos meses que a República Árabe da Síria vem sendo covardemente atacada por terroristas mercenários, que praticam contra o povo sírio as piores atrocidades e barbaridades que temos presenciado nos últimos tempos,” escreve o sociólogo Lejeune Mirhan, membro do PCdoB, autor do relato publicado abaixo.

“Presenciamos, na vista de três dias à capital, Damasco, uma unidade política muito grande entre os partidos com quem conversamos, lideranças do parlamento, do poder executivo e autoridades religiosas. Pelas informações que nos chegam a todo momento, nos pareceu uma questão de tempo para que o conflito caminhe para seu desfecho”, afirma.

A missão reuniu-se com autoridades governamentais, com membros do Partido Baath, que governa a Síria desde 1963, e com autoridades religiosas. Os integrantes do grupo também concederam entrevistas a diversos canais de televisão, jornais e emissoras de rádio e visitaram um hospital militar, onde conversaram com soldados sírios em recuperação.

De acordo com o relato, as autoridades sírias reafirmaram o compromisso noticiado reiteradamente pelo Portal Vermelho com a Conferência Internacional de Paz na Síria, “Genebra 2”, planejada para o próximo 22 de janeiro, num empenho diplomático aliado às negociações construtivas do governo sírio sobre o seu arsenal químico, com a adesão à Convenção sobre Armas Químicas e a eliminação das capacidades de produção destes recursos.

Leia a seguir, no documento anexo ou abaixo das fotos, o relato completo elaborado por Lejeune Mirhan, e veja algumas imagens fornecidas pelo fotógrafo que integrou o grupo, Leandro Taques.

         
               Missão de Solidariedade ao Povo da Síria encontra-se com o primeiro-ministro
           Wael Nader al-Halqi (no centro).

         
             Grupo reúne-se com o secretário-geral adjunto do Partido Baath, Abdallah el-Ahmar.
              Foto: Leandro Taques.

         
              Missão de Solidariedade ao Povo da Síria é recebida pelo antigo cônsul sírio no
              Brasil, Ghassan Obeid, atualmente chefe de protocolo no Ministério de Relações 
              Exteriores. Foto: Leandro Taques.

          
              Missão reúne-se com o presidente do Parlamento, Mohamed Jihad al-Laham. Foto:
              Leandro Taques.

         
            Missão visita a sede do Partido Comunista Sírio Unificado. Foto: Leandro Taques.

        
            Grupo visita hospital militar em Damasco e conversa com soldados do Exército.
            Foto: Leandro Taques.

Nossa Viagem de Solidariedade à Síria

Lejeune Mirhan *

Fazia alguns meses que o Comitê de Solidariedade ao Povo da Síria, fundado em São Paulo e que conta com 45 entidades, planejava organizar uma Missão de Solidariedade ao Povo da Síria. Finalmente, entre os dias 24 de novembro e 2 de dezembro, conseguimos viabilizá-la. Fazemos, através desta matéria, um relato o mais detalhado do significado e dos desdobramentos dessa importante atividade internacionalista.

Já faz 32 longos meses que a República Árabe da Síria vem sendo covardemente atacada por terroristas mercenários, que praticam contra o povo sírio as piores atrocidades e barbaridades que temos presenciado nos últimos tempos. Achávamos que a era medieval e as barbaridades que se cometiam naquela época haviam acabado. Ledo engano. Terroristas matam indistintamente cidadãos sírios, mulheres e crianças, abrem seus ventres e vimos cenas nas TVs de terroristas devorando corações e fígados de seres humanos.

Ouvimos relatos de que mercenários de 83 nacionalidades distintas, boa parte vindos da Europa, Ásia e parte do Oriente Médio. São chamados de jihadistas, ou de takfiristas, salafistas, wahabistas, Al Qaeda, Frente Al Nusra e outras denominações menos conhecidas por nós no Ocidente. Mas, o que têm em comum é serem aliados dos Estados Unidos no ódio contra o presidente da Síria, Dr. Bashar Al Assad e financiados a peso de ouro pela Arábia Saudita, Turquia, Qatar, países do Golfo em geral, com apoio total dos Estados Unidos e israel.

Não pretendemos neste breve relato e relatório, fazermos novas análises políticas sobre a situação. Presenciamos na vista de três dias à Damasco, uma unidade política muito grande entre os partidos com quem conversamos, lideranças do parlamento, do poder executivo e autoridades religiosas. Pelas informações que nos chegam a todo momento, nos pareceu uma questão de tempo para que o conflito caminhe para seu desfecho. No plano militar, pequenas partes do território sírio encontram-se nas mãos dessa gente. Nos pareceu bastante definido o fim do conflito, a vitória do ponto de vista militar, político e diplomático do povo e do governo da Síria.

Agradecemos em especial ao Partido Socialista Árabe Sírio – Baath pela hospitalidade com que nos recebeu todos esses dias em Damasco. Quatro altos dirigentes do Baath nos acompanharam o tempo todo, chefiados pelo Dr. Nabil Makhoul, que eu havia conhecido, pois viera como chefe da Delegação do Baath ao nosso 12º Congresso do PCdoB em 2009 em São Paulo. Falávamos com eles em francês e inglês. Mas, o árabe foi a língua principal que era traduzida pelo camarada Khaled Mahassen, que integrava a delegação. Ao final, recebemos presentes e lembranças, além de um álbum com todas as fotos que foram feitas pelo fotógrafo oficial que também nos acompanhou.

Concedemos entrevistas para quatro televisões sírias, sendo uma delas da Síria Internacional que é vista em todos os países árabes. Demos entrevistas para diversos jornais árabes e sírios. O maior deles, vinculado ao Partido Baath. A agência SANA de notícias, oficial do Governo publicou no seu site em árabe (www.sana.sy) pelo menos seis matérias sobre nossas atividades.

Temos que agradecer ainda o esforço do ex-cônsul geral da Síria em São Paulo, Dr. Ghassan Obeid, hoje chefe do protocolo do Ministério das Relações Exteriores da Síria, assim como ao atual cônsul em SP, Dr. Elias Bara e ao embaixador em Brasília, Dr. Ghassan Nseir. Especial agradecimento ao companheiro Hassan Abbas, do Baath em SP, que nos acompanhou e articulou bastante para que pudéssemos ter sucesso nas visitas e encontros.

Passo a seguir ao relato da Missão de Solidariedade.

1. A delegação

Integraram a delegação brasileira, seis pessoas, sendo um sírio residente, um brasileiro naturalizado de origem libanesa e quatro brasileiros. São elas:

1. Lejeune Mirhan – Sociólogo, Professor Universitário de Sociologia e Escritor. Representante do Partido Comunista do Brasil – PCdoB. Coordenador Executivo do Comitê de Solidariedade ao Povo da Síria. Chefe da Missão.

2. Khaled Fayez Mahassen – Jornalista, escritor, poeta e empresário. Editor da revista Sawtak.

3. Edson de Paula Lima – Professor, Advogado. Presidente da Federação Interestadual de Trabalhadores em Educação e diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CONTEE e da Central dos Trabalhadores do Brasil – CTB.

4. Caio Marcos Botelho Ferreira – Advogado. Dirigente da União da Juventude Socialista – UJS e do Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta dos Povos – CEBRAPAZ.

5. Leandro José Taques – Jornalista e Fotógrafo profissional e professor de fotojornalismo em Curitiba – PR.

6. Hassan Abbas – Advogado e professor de língua árabe.

2. As Entidades que Assinaram o Manifesto

O CSPS redigiu um pequeno e simples manifesto de solidariedade ao povo da Síria. Onde repudia as agressões dos terroristas financiados pelo imperialismo. Defende a paz. Defende uma solução política e diplomática, chama ao diálogo. Ainda que em cima da hora, conseguimos as adesões de várias entidades e instituições, bem como algumas pessoas. Sabemos que o potencial de assinaturas é bem maior do que essas listadas, mas sabemos também que a pressão midiática muitas vezes impede que alguma entidade ou cidadão assine um manifesto dessa natureza, ainda que simples e sem polêmica alguma.

São as seguintes as entidades e pessoas:

PCdoB (Partido Comunista do Brasil); CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil); UNE (União Nacional dos Estudantes); UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas); UEE/SP (União Estadual dos Estudantes do Estado de São Paulo); UJS (União da Juventude Socialista); MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra); FDIM (Federação Democrática Internacional de Mulheres); UBM (União Brasileira de Mulheres); CMB (Confederação das Mulheres do Brasil); CONTEE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino); FITEE (Federação Interestadual de Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino); FENATEMA (Federação Nacional dos Trabalhadores em Meio Ambiente); FLEMACON (Federação Latino-Americana de Trabalhadores na Construção); SINTRACON/BA (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil da Bahia); SINPRO/GO (Sindicato dos Professores do Estado de Goiás); CONAM (Confederação Nacional das Associações de Moradores); UNEGRO (União dos Negros pela Igualdade); CEBRAPAZ (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz); FEPAL (Federação Árabe-Palestina do Brasil); FEARAB/SP (Federação das Entidades Árabes-Brasileiras de São Paulo); CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais); GT Árabe (Grupo de Trabalho de Estudos de Oriente Médio e Mundo Árabe); Revista Zunái; Revista Sawtak; SBIASP (Sociedade Beneficente Islâmica Alauita de São Paulo); Oriente Mídia (www.orientemidia.org) – Portal de Notícias Árabes; CBDDPP – Comitê Brasileiro de Defesa dos Direitos do Povo Palestino; CEA – Centro de Estudos Árabes – Paraná; MDD – Movimento Democracia Direta – Paraná; Jornal Água Viva – Paraná; ACSB – Associação Cultural Sírio-Brasileira – Paraná; Jornal Gazeta de Santa Cândida; IBEI – Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos – Paraná; ACJM – Associação Cultural “José Marti” – Paraná; Casa do Trabalhador – Paraná; CEPAT – Centro de Pesquisas e Apoio aos Trabalhadores – Paraná; Instituto Ekkoni de Desenvolvimento em Educação – Paraná; Assad Frangiéh – Médico; Baby Siqueira Abrão – Jornalista; Gilberto Abrão – Escritor; Haroldo Lima – Engenheiro, ex-diretor da ANP e membro do CC do PCdoB; Hélio de Mattos Alves – Professor da UFRJ; João Augusto de Lima Rocha – Professor da Escola Politécnica da UFBA; Lejeune Mirhan – Sociólogo, Escritor e Arabista; Liége Rocha – Membro do Comitê de Direção da Federação Democrática Internacional das Mulheres; Maria José Braga – Vice-Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas; Marly Cuesta – Conselho Nacional de Pontos de Cultura; Natália Forcat – Cartunista e Ilustradora; Nereide Saviani – Diretora da Escola Nacional de Formação do PCdoB; Marcelo Fernandes – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ; Raul Carrion – Deputado Estadual do PCdoB do Rio Grande do Sul; Remi Castione – Professor da Universidade de Brasília; Sérgio Barroso – Médico, membro do CC do PCdoB; Tânia Elias Magno – Universidade Federal de Sergipe – UFS.

3. Autoridades que Visitamos na Síria

Em três dias de atividades intensas, mantivemos contatos com autoridades governamentais, o Partido que governa a Síria desde 1963, que é o Baath, com autoridades religiosas. Concedemos entrevistas e ao final visitamos um hospital militar e conversamos com soldados sírios em recuperação. Neste caso, percebemos um elevado moral nos soldados em tratamento. Muitos diziam que lutavam pela Síria e pelo presidente Bashar e que não viam a hora de se recuperar e voltar ao front de combate para limpar a Síria dos terroristas.

Registro a imensa pontualidade, tanto da nossa delegação quanto das autoridades que chegavam sempre no horário programado, acompanhadas sempre de diversas equipes de TVs, rádios e jornalistas.

São as seguintes as autoridades:

Dr. Wael Nader Al Halqi, médico, 1º Ministro da Síria e chefe de governo;

Dr. Omran Al Zoubi, Ministro da Informação. Ele é o porta voz do governo junto aos meios de comunicação de massa na Síria e com as agências internacionais;

Dr. Faisal Al Mekdad, vice-Ministro das Relações Exteriores. Ele esteve conosco no Centro Cultural Árabe-Sírio em SP no primeiro semestre. A sua fala em nosso encontro foi amplamente distribuído à imprensa. Na volta da Síria li na edição em inglês do NYT o resumo de seu posicionamento;

Dr. Jihad Lahham, presidente do Parlamento da Síria, que tem representação de nove partidos com parlamentares eleitos, que escreveram a nova constituição de 2012, referendada pelo povo da Síria. Registramos que a Síria tem legalizados hoje 22 partidos políticos. Os dois partidos comunistas que existem na Síria participam do governo e têm um ministério cada um. O presidente do parlamento presenteou-nos com uma caixa entalhada por marchetaria contendo uma caixa de doces sírios dentro;

Ahmad Badreddin Hassoun, Grão Mufti de Damasco. Registro aqui que esse é um cargo que cuida de assuntos jurídicos e religiosos de linha sunita. É cargo nomeado. Ele teve seu filho assassinado pelos terroristas. Presenteou a nossa delegação com uma masbaha, espécie de terço islâmico;

Abdallah Al Ahmar, Secretário-Geral Adjunto do Partido Socialista Árabe Sírio – El Baath. Eles dizem “adjunto” por ser o SG o próprio presidente, Dr. Bashar El Assad. Uma cadeira vazia ao lado do Abdallah simbolizava a presença do presidente. Ele é antigo lutador, uma lenda na Síria e tem 86 anos. Almoçamos com ele posteriormente e tivemos condições de conhecer melhor as posições do Partido. Ele mencionou o acordo e protocolo que o Partido Baath tem com o PCdoB e o PT no Brasil. Fez muitas perguntas sobre nossa situação. Falou do socialismo árabe, que seguiu uma vertente não marxista. Falou que o proletariado e os trabalhadores em geral estão no poder na Síria. Que lá foi feito a reforma agrária e que a economia é estatal, mas combinada com iniciativa privada. Algo que pareceu com o modelo chinês.

Ahmad Dawa, jornalista, editor chefe da Agência Árabe Síria de Notícias, SANA, do Ministério da Informação. Com ele mantivemos profícua conversa. Falamos que participamos de um site de notícias do mundo árabe no Brasil, totalmente em português, que é o Oriente Mídia (www.orientemidia.org) que produz conteúdo próprio no Brasil, onde vários brasileiros de origem árabe ou não colaboram e escrevem artigos e que publicamos traduções diretas do inglês produzidas pelo coletivo de tradutores da Vila Vudu e que podem ser usadas livremente na parte em português da Agência.

Dr. Ali Diab, Diretor da Escola Central da Quadros do Partido Baath. Ele foi embaixador no Brasil durante quatro anos e tivemos com ele várias vezes, em especial na 1ª Cúpula América do Sul Países Árabes, inaugurada por Lula em 2005, realizada em Brasília. Ele manifestou interesse em realizar um convênio com a Escola Nacional do PCdoB.

Louka H. El Khouri, Patriarca auxiliar do Patriarcado Grego-Ortodoxo de Damasco. No brasil eles possuem uma Igreja no Paraíso, a Catedral Ortodoxa cujo responsável é Dom Damaskinos Mansour, a quem elogiamos pelo apoio que tem dado à solidariedade ao povo da Síria no Brasil.

Reunião com o Partido Comunista

Faço destaque especial à nossa reunião com o Partido Comunista Sírio Unificado. Estivemos em uma espécie de reunião bilateral que durou quase duas horas. Ouvimos mais do que falamos, como se diz.

Registro aqui os camaradas presentes: Hunein Nemer, Secretário-Geral e deputado federal por três mandatos; Hassib Chamas, membro do CC do PCSU e ministro de Estado; Adnam Quizawi, membro do CC e ex-deputado; Rafic Smile Hajô, membro do CC e ex-deputado; Enam Masri, membro do CC e da União Geral dos Trabalhadores de Damasco; Najum Kharete, membro do CC, ex-ministro e ex-deputado e Deir Razur, membro do CC e da Juventude do Partido.

Como não tivemos tempo para nos encontrarmos com o presidente da Federação dos Sindicatos da Síria e a Juventude e a União dos Estudantes, membros de nossa delegação fizeram contatos bilaterais com o sindicalista e o jovem que estavam presentes nesta conversa.

O Partido agradeceu a nossa visita e justificou as dificuldades que os sírios vivem, para nos dizer da impossibilidade deles estarem em nosso 13º Congresso do Partido. Reafirmaram a prioridade dos comunistas da Síria hoje no sentido de lutar pela libertação completa da Síria de qualquer influência imperialista, fazem a defesa da soberania e autodeterminação.

Falaram em uma batalha de civilizações. Descreveram a luta contra o terrorismo que assola a Síria hoje com apoio dos Estados Unidos e seus aliados no mundo árabe. Registraram a invasão de 75 mil mercenários vindos de 83 países, chamados jihadistas. Disseram que os sírios representam a humanidade nessa luta hoje.

Mencionaram as imensas perdas humanas e a destruição de parte da infraestrutura geral do país, que levará anos para se reorganizar. Mencionou a destruição da indústria síria e parte delas foi levada para a Turquia, desmontando seu parque industrial. Até o petróleo sírio vem sendo roubado pelos mercenários. Dos mais de cem mil mortos, a maioria eram cristãos. Ainda assim, os comunistas sírios mantém firme seu otimismo.

Essa luta prova que os bárbaros são os terroristas e que o povo sírio defende a civilização. Agradeceu o apoio dos BRICS, em particular do Brasil. Registrou o importante papel da Rússia, China e Irã nesta conjuntura. Que nasce hoje na Síria um novo mundo, de multipolaridade.

Disse que os comunistas participam de alguma forma do governo desde 1966. O Partido não tem posição ainda sobre as eleições de maio de 2014, se vai lançar candidato ou coligar com o presidente Bashar. Disseram defender a democracia na Síria, a ampliação dos direitos e das liberdades e apontam o socialismo como solução.

Possuem uma relação fraternal com o partido do governo, o Baath. Registram diferenças de concepções sobre o socialismo do Baath, mas convivem em harmonia. Participam da Frente Nacional desde 1970, que dirige a Síria, sob a liderança do Baath. Têm muito pontos de unidade, mas o principal é a defesa da pátria e da laicidade do Estado. Existem diferenças. Deu como exemplo o papel mais de protagonismo que a FN deveria ter. que deveriam ter maior compartilhamento de poder.

Fala que a nova constituição mudou e para melhor. Está mais democráticas. Não poderá haver nunca mais candidato único à presidente. Precisa ser multipartidário. O partido tem três deputados federais, um ministro, muitos prefeitos e vereadores e forte influência na juventude, sindicatos, movimentos sociais. Defendem o progresso geral do país.

Por fim, disse que os terroristas que massacram o povo da Síria não são muçulmanos, que não fazem isso jamais. Esperam que haja uma interpretação mais lógica e racional e científica do próprio islamismo.

Avaliação preliminar

Faremos mais duas matérias sobre nossa Missão à Síria e ao Líbano. No entanto, no que diz respeito à visita à Síria a avaliação que fazemos, ouvidos todos os membros da Missão é de que foi extremamente vitoriosa e proveitosa. Fomos recebidos com a maior hospitalidade por um povo que luta com sacrifício contra um ataque externo. Que resiste de armas em punho.

Dissemos a eles que nós é que devemos agradecer à luta resistente do povo sírio que combate em nome de todos nós, lutadores anti-imperialistas do mundo inteiro. Que eles nos representam no seu tenaz combate à agressão externa. Que o imperialismo sai derrotado de sua empreitada ao tentar destruir a Síria e o seu Estado Nacional. Ainda que tenha imposto destruição e sofrimento ao povo sírio, este em alguns anos reconstruirá o país. Sairão mais fortalecidos do processo.

Os sírios nos disseram que irão à Conferência de Genebra 2 que ocorrerá em 22 de janeiro próximo. Os sírios já advertiram que não aceitam pré-condição alguma. Os destinos da Síria e da sua liderança nacional quem deve decidir serão os sírios. Eleições ocorrerão em maio do próximo ano e o presidente da Síria, Dr. Bashar deve concorrer à reeleição e segundo pesquisas, deve obter pelo menos 75% dos votos ou ainda mais. A oposição externa, que pegou em armas contra seu próprio povo e conclamou o tempo todo para que a OTAN atacasse o seu próprio país, deve continuar no exílio. Não há espaço na nova Síria para traidores do povo, à serviço de potências estrangeiras, no país. Como eles dizem, a era do colonialismo acabou e potências como os EUA, França e Inglaterra ainda não perceberam.

Saímos da Síria com a impressão de que o povo sírio, em aliança com seu exército nacional e a liderança do governo, sob o comando do presidente Bashar Al Assad venceram a batalha. Percebemos sim a tristeza, o sofrimento que é visível nos rostos das pessoas. Percebemos sim medo nos rostos das pessoas. Natural. Bombas implantadas por terroristas que vieram de fora da Síria podem explodir a qualquer momento.

Nós mesmo vivemos isso. Ao visitarmos uma das Mesquitas mais antigas da Síria, construída no período Omíada, em 720, que fica ao lado do mercado mais antigo do mundo, que é o de damasco com 10 mil anos, algumas horas depois que de lá saímos, uma bomba explodiu na Praça em frente a Mesquita, matando dez pessoas e ferindo mais de 30. Nós nos perguntamos porque os terroristas fazem uma coisa dessas? Porque os que os financiam defendem esse sofrimento e destruição da Síria? A resposta é clara. Restou apenas a Síria hoje na defesa da luta anti-imperialista. Restou apenas a Síria na defesa dos direitos do povo palestino e na luta contra o sionismo. Restou apenas o Estado Nacional sírio, laico e independente, que luta pela soberania e autodeterminação de seu povo e do seu país. Por isso o ódio do imperialismo e seus aliados ao país e ao seu governo.

Por fim, a popularidade do Partido Baath. A impressão que me ficou é que ela seria parecida com a popularidade que tem o Partido do trabalho da República Popular da Coreia. Seus dirigentes são queridos pelo povo, existe uma liderança nacional forte e respeitada e há um carinho popular para com a família do presidente. A impressão que eu tive.

Voltamos com a firme convicção de que a Síria vencerá e com ela todos os povos em uma nova ordem mundial, multipolar, mais progressista e avançada que o momento que vivemos hoje.

Agradecimentos

Quero agradecer particularmente a algumas pessoas e as nomino neste final de relatório.

Ao jovem secretário internacional do CC do PCdoB, o economista Ricardo Alemão Abreu, que não só integra o CSPS, como foi o maior incentivador da nossa Missão e quem abriu muitas portas no Brasil, na Síria e no Líbano para a nossa delegação.

Agradecer em particular ao amigo e camarada do nosso Partido, Khaled Mahassen que, mesmo sem ter a função de tradutor, contribuiu imensamente com as traduções, de forma que sem ele teríamos que ter nos comunicado em inglês ou francês, cujo domínio não é homogêneo entre os membros da delegação. Ao mesmo tempo que agradecemos ao Dr. Hassan Abbas, secretário-geral do Baath no Brasil, que também contribuiu com o sucesso da Missão.

Ao Caio Botelho, jovem dirigente da UJS e do Cebrapaz/BA, com elevada consciência internacionalista, jovem advogado que deu grandes contribuições com seus posicionamentos e questionamentos.

Ao dirigente da minha categoria, professor e também advogado Edson de Paula, dirigente da CONTEE, presidente da FITEE e dirigente nacional da CTB. Ao mesmo tempo que agradecemos aos comunistas que atuam no setor privado de ensino no Brasil, que ajudaram na Missão. Aqui também o agradecimento ao novo presidente da Central, o combativo baiano Adílson Araújo, a nossa CTB, pela compreensão e o apoio para a viagem, sem a qual não teríamos participado.

Por fim, ao meu novo amigo, o fotógrafo profissional, jornalista e professor de fotojornalismo em Curitiba, Leandro Taques, que tive a honra de conhecer em abril quando fomos juntos para a Palestina em Missão de Solidariedade. Leandro, cujas fotos são publicadas nesta matéria e nos cedeu, é fotógrafo respeitado e com elevada consciência internacional. Visitou a China, Afeganistão, Paquistão, Angola e Palestina, além da Síria e Líbano, onde nos encontramos com o PC Libanês, com o Hezbolláh e os acampamentos de Sabra e Shatila. Mas, essas serão outras matérias.

* Sociólogo, professor escritor e arabista. É colaborador do portal Vermelho, da Fundação Grabois e da Revista Sociologia da Editora Escala.