O evento foi marcado por discursos emocionados que fez chorar parlamentares e familiares. Para a  líder do PCdoB na Câmara, deputada Manuela D´Ávila (RS), esse é um “Partido de muitas histórias bonitas e hoje vive com várias gerações; e é emocionante conviver com familiares dos mais antigos, que permitem que sejamos a continuidade desse Partido e dar continuidade a essa luta. Um Partido vivo, grande e mais forte”.

Ela disse ainda que a sala de reuniões onde se realizou o ato, “é a casa da nossa bancada – não é o Plenário da Câmara (onde ocorreu a sessão solene) -, mas certamente é o espaço em que seus familiares estariam organizados e militando com a gente”.

Manuela destacou que o evento representa o reconhecimento do que a interrupção da democracia provoca de danos para o nosso país. “Aquela bancada de 1946 foi uma bancada que muito antes das conquistas que tivemos em 1988, já lutava pelo voto dos analfabetos, liberdade religiosa, jornada de trabalho de oito horas, liberdade sindical, uma bancada impregnada do sentimento progressista”.

“Voltamos todos”

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), autora do requerimento que devolveu o mandato dos parlamentares, disse que a sessão solene foi resultado de um desejo de décadas dos parlamentares do PCdoB, de fazer justiça a esses brasileiros, e que só foi possível porque o hoje o momento é outro e a sociedade brasileira percebeu que a democracia não será completa se a história não for recuperada e seus brasileiros, que foram sacrificados por nós todos, não fossem reconhecidos.

Ela relembrou a frase que disse na sessão: “Voltamos todos”, citando Maurício Grabois que, no dia em que foi cassado, afirmou: “Um dia quando a democracia for recuperada, nós voltaremos”. Anos depois, quando Haroldo Lima foi eleito deputado federal pelo PCdoB da Bahia, ele disse: “Voltamos”.

“Se não fossem eles não estaríamos com o processo democrático em curso”, disse Jandira, destacando o sacrifício das famílias que acompanham a luta dos comunistas. “Olhar para vocês é olhar nossa história recuperada”, disse, lembrando que também a família de Alcides Coutinho foi localizada no Rio de janeiro, após a repercussão da sessão solene. “Faltam mais três famílias para completar o nosso trabalho, para que as famílias se sintam apropriado do que é seu”, afirmou.

Motivo de orgulho

Em nome dos familiares, falou a neta de Gervásio, a jornalista Paloma Alesso Oliveto, que agradeceu a homenagem e disse que o avô não ganhou nada material com a política, mas sempre foi grande orgulho da família. E que sua mãe contava que o pai lhe dizia; “Não vou deixar nada material para os meus netos, mas eles vão ter orgulho da minha luta”.

Marylene Kern, neta de Alcides, emendou a fala de Paloma, dizendo que mesmo cartilha foi ditada pelo seu avô, que não deixou bens materiais, mas deixou “valor moral, de caráter, de uma luta digna. Nós somos quatro mulheres herdeiras disso e quatro bisnetos, que são orgulhosos do avô que tivemos”.

Lara Regina Fernandes, irmã de Marylene, outra das quatro netas de Alcides, disse que conviveu com o avô e ouvia as histórias que ele contava em Pelotas (RS), das caminhadas, dos discursos, das prisões. Essas histórias que passaram de geração em geração e chegam hoje para o tataraneto dele. E lamentou que o pai dela, filho de Alcides, tenha morrido duas semanas atrás, sem ter oportunidade de participar da homenagem ao pai.

Sessão solene

A Câmara realizou sessão solene no último dia 13 de agosto para promover a devolução simbólica dos mandatos dos 14 deputados federais do Partido Comunista do Brasil eleitos em 1945 para a Assembleia Constituinte de 1946 e cassados em 1948.

A devolução dos mandatos aos deputados cassados foi possível devido a uma resolução aprovada na Câmara em março deste ano que anulou a resolução da Mesa Diretora da Casa adotada em 10 de janeiro de 1948. A resolução de 1948 extinguiu os mandatos dos deputados federais sob a legenda do Partido Comunista do Brasil. A Mesa da Câmara atual considerou que a decisão da década de 1940 contrariou a Constituição Federal democrática de 1946, promulgada após o governo de Getúlio Vargas (1930 a 1945).