O FMI admite em relatório elaborado por técnicos da organização que os resgates à Grécia foram concedidos ignorando alguns dos critérios fundamentais em que deveria assentar a “ajuda”, sobretudo o da sustentabilidade da dívida. Segundo o documento do Fundo, as dúvidas sobre o que poderia vir a acontecer na Grécia “eram tão grandes que os técnicos não estavam em condições de dar garantia de a dívida ter probabilidade de ser sustentável”.
De acordo com o conteúdo do documento, o FMI acaba por reconhecer que as políticas de austeridade implicaram um agravamento contínuo da recessão, cujo fim ainda não está à vista. A produção na Grécia caiu 22 por cento desde 2008 e o desemprego atingiu os 27 por cento, criando uma situação de caos social no país enquanto a percentagem da dívida em relação ao PIB continuou a crescer. Atenas pretende, por isso, que Bruxelas lhe permita utilizar os fundos europeus para combater o desemprego.
O FMI admite também que poderá ter sido excessivamente otimista sobre as possibilidades de a Grécia regressar aos mercados para financiamento. O Fundo considera que a dívida de Atenas a privados deveria ter sido reestruturada em 2010 e não dois anos depois.
Para o FMI, a outra parte da troika, constituída pela Comissão Europeia e o BCE, não tem experiência em processos como os que estão a se realizar em países sob intervenção, preocupando-se mais com o cumprimento das normas internas da União Europeia do que com os efeitos da austeridade sobre as populações e o tecido social dos países.
Tanto a Comissão Europeia como o BCE manifestaram já o seu desacordo em relação ao conteúdo do relatório do FMI.
Segundo o organismo presidido por Durão Barroso, a posição do FMI é “totalmente errada e sem fundamento”, uma vez que sempre pretendeu que a austeridade fosse acompanhada por reformas estruturais para o crescimento econômico e o crescimento do desemprego. Os resultados, porém, foram a recessão e o crescimento exponencial do desemprego, que continua.
Simon O’Conner, o porta-voz do comissário das Finanças, Olli Rehn, afirmou que o programa para a Grécia tinha como objetivo “construir uma base sólida para o crescimento e criação de emprego baseado em finanças públicas sustentáveis, num sistema financeiro estável e numa economia dinâmica e competitiva”, mas também “assegurar que o país continuaria no euro”. O’Connor acrescentou que os objetivos citados eram os de toda a troika, dos governos da Zona Euro e do governo grego e “continuam tão válidos hoje como então”. O porta-voz alegou ainda que o relatório foi elaborado por técnicos do FMI mas não reflete a posição oficial da organização chefiada por Christine Lagarde.
Mário Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), assumiu praticamente a mesma posição da Comissão Europeia em relação ao documento do FMI. Interrogado se estava de acordo com a posição do Fundo, Draghi respondeu “nem por isso”. Além disso contestou a própria Comissão Europeia quanto à disponibilidade para adiar os prazos de cumprimento das metas do déficit, perspectiva que se coloca a Portugal. “Se um país consegue um adiamento e, um ou dois anos depois apresenta um déficit ou dívida superiores, os mercados não vão gostar e acabarão por castigar esses países”, acrescentou o presidente do BCE.