O presidente da sessão, deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO), primeiro secretário da Câmara, abriu os trabalhos com esse espírito. Ele leu uma mensagem do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia (PT-RS), ressaltando “o exemplo de coragem, solidariedade e capacidade de luta que engrandece a trajetória dos comunistas como defensores intransigentes da justiça social”. Segundo a mensagem, João Amazonas e Maurício Grabois são “exemplo maior para os que são conduzidos aqui (no parlamento) pelos eleitores”. Marco Maia asseverou que a Câmara dos Deputados muito se orgulha de tê-los em sua luta aguerrida pela justiça social.

Perpétua Almeida (PCdoB-AC), Amaury Teixeira (PT-BA), Luciana Santos (PCdoB-PE), Inácio Arruda (PCdoB-CE), Claudinei do Nascimento e Randolfe Rodrigues (PSOL-AC). Foto: Bruno Arantes

Na mensagem, ele abordou conceitos intrínsecos à ideologia dos dois históricos comunistas homenageados, como a solidariedade como base da sociedade em oposição ao pensamento utilitarista fomentado pela lógica da circulação do capital acima dos valores humanos. Segundo o presidente da Câmara dos Deputados, João Amazonas e Maurício Grabois também são exemplos de lutadores por uma sociedade em que os interesses da coletividade sejam levados em conta na distribuição da riqueza, preservando o bem comum em detrimento da ganância de poucos. “A Câmara dos Deputados muito se orgulha de tê-los em sua luta aguerrida pela justiça social”, enfatizou Marco Maia.

Marco Maia Foto: Bruno Arantes

Do mesmo modo, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) enalteceu os valores dos homenageados. “Maurício Grabois e João Amazonas não são patrimônio só de vocês, do PCdoB, mas de todos os brasileiros que sonham com uma pátria justa e democrática”, afirmou. Segundo ele, a conhecida poesia de Bertold Brecht sobre os homens que lutam se encaixa perfeitamente na trajetória de João Amazonas e Maurício Grabois. Eles pertencem à categoria dos lutadores do povo brasileiro por terem se dedicado à mais belas das causas humanas, a do socialismo, afirmou Randolfe Rodrigues, enfatizando que “todas as conquistas do povo brasileiro nos últimos 20 anos não seriam possíveis sem João Amazonas e Maurício Grabois”.

Líder da bancada

A líder da bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados e autora do requerimento para a sessão solene, deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), também ressaltou os valores humanistas dos homenageados. Segundo ela, João Amazonas e Maurício Grabois são dois ícones da história do Brasil. Mais do que dois valorosos dirigentes do Partido Comunista do Brasil, eles representam a luta pela democracia, pela soberania nacional e pela valorização dos trabalhadores e dos direitos do povo brasileiro, destacou. “Como deputados constituintes, esses dois homens foram verdadeiros exemplos de combatividade na defesa dos temas mais caros à população, buscando construir um terreno democrático em meio a um cenário de cerceamento da liberdade e crescente violência e repressão”, enfatizou.

Luciana Santos Foto: Bruno Arantes

Luciana Santos asseverou que o trabalho parlamentar de Amazonas e Grabois foi profícuo. “Da atuação de João Amazonas surgiram emendas importantes à Constituição e à luta dos trabalhadores, incansável defensor do proletariado insistiu que figurasse na Carta Magna o direito a uma jornada de no máximo oito horas de trabalho, assim como o direito de greve e a liberdade de organização sindical. Maurício Grabois, como líder da bancada comunista na Câmara dos Deputados, defendeu com força a soberania nacional; a autonomia dos municípios e do Distrito Federal; falou pelo fim dos monopólios e em defesa da indústria nacional; foi enfático nas ações pela liberdade de expressão e de imprensa”, discursou a líder da bancada do PCdoB.

Ela rememorou que para além da atuação parlamentar os dois líderes comunistas tiveram papel fundamental na construção do PCdoB. “Maurício Grabois é um exemplo de disciplina revolucionária. Sua biografia orgulha não só os comunistas, mas todo o povo oprimido a quem ele corajosamente defendeu. Nos relatos a respeito de Grabois uma palavra especificamente me chama a atenção. A despeito de toda a responsabilidade advinda das tarefas estratégicas que assumiu ao longo da militância, é a palavra ‘alegria’ que marca as lembranças de quem conviveu com esse valoroso camarada”, observou.

Luciana Santos ressaltou que a leveza e o bom humor são traços marcantes da vida de Grabois. “Embora não seja especialista no assunto, ouso relacionar essa característica à firmeza da sua convicção ideológica, à certeza que norteou sua irretocável trajetória de lutas, de que o Partido era o instrumento para construir um futuro bom e digno para todos os homens e para todas as mulheres dessa nossa terra aguerrida”, afirmou, complementando que justificava a observação com um trecho do discurso de Grabois publicado no Diário do Congresso Nacional em 9 de janeiro de 1948, no qual, falando sobre a cassação de mandatos dos comunistas, ele inscreveu nos anais do Congresso Nacional uma bela página sobre esperança e sobre confiança na justeza e longevidade dos princípios comunistas.

Na passagem mencionada, Maurício Grabois diz: “Somos a juventude do mundo, os homens que lutam pelo progresso do Brasil. Somos soldados do grande Prestes. Sabemos que a luta para muitos será difícil, muitos serão sacrificados; mas outros ocuparão nossos lugares, erguerão a bandeira de defesa da democracia e do nosso povo e o triunfo será certo e decisivo.”

João Amazonas

Sobre João Amazonas, Luciana Santos disse que sua história se entrelaça com a construção do campo democrático no Brasil. “A atuação de Amazonas, seja no ambiente parlamentar, na região do Araguaia ou nos embates pela redemocratização do país se constitui como verdadeiros pilares da construção do Brasil livre, democrático e em franco desenvolvimento que experimentamos nos dias de hoje”, afirmou.

Segundo ela, a simplicidade e a serenidade de Amazonas, aliadas à sua grande capacidade de compreensão e descortino dos momentos políticos, constituem um precioso tesouro dos comunistas brasileiros. “Sua clareza foi fundamental para explicar, por exemplo, a crise do Leste Europeu na década de 1980, dando grande contribuição ao movimento socialista internacional ao explicar aquele fenômeno e defender um posicionamento, apontando que aquela não era uma crise de perspectivas, mas sim uma crise de desenvolvimento do socialismo.”

A vida de Amazonas, asseverou Luciana Santos, é um verdadeiro legado revolucionário para todas as gerações do Partido Comunista do Brasil que, a despeito dos seus 90 anos, guarda em suas fileiras grande número de jovens, plenamente identificados com a força de suas ideias. “O PCdoB é hoje um Partido influente e em franco crescimento. Temos atuação relevante nos mais diversos movimentos sociais e sindicais. Mulheres, negros, jovens, artistas, estudantes, operários… representantes do povo construindo no dia-a-dia da luta o progresso e o desenvolvimento da nação. Na Câmara e no Senado constituímos combativas bancadas, buscando dar voz aos anseios da população e legislar pela justiça e pelo equilíbrio social. Nos municípios registramos significativas vitórias e considerável aumento no número de prefeitos e vereadores eleitos neste pleito de 2012.”

A líder da bancada do PCdoB enfatizou que todo esse conjunto de atuação é resultado do esforço dos dois líderes homenageados naquela sessão. Eles representam, segundo ela, “uma geração de homens e mulheres que não se intimidaram diante da perseguição e da ferocidade das classes dominantes em nome de um ideal, de um futuro que podemos vivenciar agora”. Luciana Santos encerrou citando um pensamento de João Amazonas, considerado por ela um “verdadeiro poema, o retrato de uma vida dedicada a edificação de um sonho”: “Verbo por verbo — no presente ou no futuro —, lutar ainda é o melhor. Lutar para transformar a nossa pátria na terra da liberdade, da cultura, da fartura, da justiça social, da solidariedade humana. Terra de homens livres, terra da revolução libertadora!”

Luciana Santos também leu uma carta do sobrinho-neto de Maurício, Carlos Augusto Grabois Gadelha, justificando a ausência por problemas de saúde e reafirmando a luta do tio-avô pela construção de uma nação socialista. Ela saudou também a presenças dos filhos de João Amazonas — Zélia, João Carlos e Helena — e dos netos. 

Renato Rabelo

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, recordou passagens da sua convivência com João Amazonas, para ele um “um gigante político” que desempenhou importante papel no terreno político, ideológico e na prática. Ao lado de Grabois e de outros históricos dirigentes comunistas, disse Renato Rabelo, Amazonas foi uma das principais referências da luta democrática no Brasil no século XX. “Esses dois grandes líderes comunistas tiveram papel destacado no legado da segunda geração do nosso Partido, cujo líder central foi Luís Carlos Prestes. Enfrentando a ditadura do Estado Novo, fizeram parte da Conferência da Mantiqueira para reestruturar a direção nacional do Partido, que tinha sido desmantelada pela feroz repressão do Estado Novo.”

Para o presidente do PCdoB, aquele acontecimento reafirmou o caráter revolucionário do Partido Comunista do Brasil, permitindo a sua existência até nossos dias. “A trajetória dos dois se confundem com a trajetória do PCdoB. Suas lutas são expressões do caráter do Partido”, afirmou. Segundo Renato Rabelo, a luta para enterrar a ditadura de 1964 e reerguer o Partido no final da década de 1980 também foram pontos altos da atuação de Amazonas. “Ele teve papel fundamental quando foi derrotada a proposta das eleições diretas, entendendo que devia derrotar a ditadura com as armas da ditadura no Colégio Eleitoral”, afirmou.

Biografias

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) também destacou a formação dos dois líderes e suas escolhas pela causa comunista. “Esses homens, que se formaram no ardor da causa social, que precisavam resolver problemas do povo brasileiro, construíram o nosso Partido e ajudaram a história do Brasil, procurando o caminho da democracia”, discursou.

Inácio Arruda Foto: Bruno Arantes

Os deputados Jô Moraes e Assis Melo, do PCdoB de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, respectivamente, também discursaram. Eles saudaram a militâncias que esteve presente ao evento e, a exemplo de Luciana Santos, ressaltaram que aquela sessão solene não era apenas de homenagem aos dois bravos brasileiros — era também uma reafirmação de seus compromissos, a luta pelo socialismo, pela transformação do país.

Augusto Buonicore Foto: Bruno Arantes

Presente no encerramento da sessão, o deputado Amaury Teixeira (PT-BA) discursou enfatizando a histórica aliança entre o Partido Comunista do Brasil e o Partido dos Trabalhadores. A mesa foi composta por Luciana Santos — que presidiu os trabalhos —, Inácio Arruda, Renato Rabelo, Claudinei do Nascimento — representante da ministra da Relações Institucionais da Presidência da República, Ideli Salvati — e Pérpétua Almeida (PCdoB-AC) — presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.

Osvaldo Bertolino Foto: Bruno Arantes

Na abertura da sessão, foi exibido o documentário “Companheiros”, nos qual os autores das biografias de Amazonas e Grabois — Augusto Buonicore e Osvaldo Bertolino, respectivamente — narram um breve resumo da história dos homenageados.

Além da habitual execução do Hino Nacional, o Trio de Cordas de Brasília tocou a “Internacional”. Em seguida, foram lançadas as biografias Meu verbo é lutar — a vida e o pensamento de João Amazonas e Maurício Grabois — uma vida de combates. Renato Rabelo autografou o livro PCdoB: 90 anos em defesa do Brasil, da democracia e do socialismo.

Trio de Cordas toca a “Internacional” Foto: Bruno Arantes