“São as milhares de Jéssicas que irão mudar radicalmente a desigualdade no Brasil”. Essa foi uma das frases ditas pela presidenta Dilma Rousseff no início da tarde desta quinta-feira (31), durante encontro com intelectuais e artistas em defesa da democracia, no Palácio do Planalto. Dilma referia-se à personagem do filme “Que horas ela volta?”, da diretora Anna Muylaert, em que a filha de uma empregada consegue ter acesso à universidade, um dos objetivos principais dos programas sociais que vêm sendo implantados desde o primeiro governo Lula.

“Rompemos com a lógica de fazer o bolo crescer para depois repartir. O fim da miséria é só um começo”, disse Dilma.

A presidenta criticou duramente as tentativas de derrubar o seu mandato por meio de um processo de impeachment sem um crime de responsabilidade comprovado, e ressaltou que golpes podem receber diversos nomes. “Em 64 foi a forma de intervenção militar. Agora está havendo a ocultação com processos aparentemente democráticos. Se no passado chamaram de revolução, hoje tentam dar um colorido democrático a um golpe que não tem base legal”.

Ela lembrou também que o processo de impeachment só foi aberto depois que o governo se recusou a orientar deputados da base a votarem contra o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do cargo. “A partir de um determinado momento o presidente da Câmara entra com pedido de impeachment, porque o governo se recusou participar de qualquer farsa na Comissão de Ética que o julgava“

O clima de animosidade instalado no País, segundo Dilma, não vai ajudar a superar as dificuldades que o Brasil enfrenta. “Temos várias coisas sendo feitas. Continuamos funcionando a todo vapor, mas sem estabilidade política, é como se a gente se esforçasse e as coisas não andassem”, criticou antes de explicar que, por isso, barrar o golpe é fundamental para a retomada do crescimento econômico.

“Essa unidade que nós construímos em torno do não vai ter golpe. Ela também vai ser uma das pedras fundamentais da retomada de crescimento e da construção de uma sociedade melhor“.

A presidenta ainda condenou a intolerância entre pessoas de diferentes grupos políticos e citou, como exemplo, o caso de uma médica que se recusou a atender um paciente por conta da ligação dele com um partido político. “Não pode ocorrer. O Brasil não pode ser cindido em duas partes. As pessoas não podem ser estigmatizadas por aquilo que pensam. Nós temos que lutar para superar esse momento e voltar a crescer e criar na nossa sociedade um clima de união”.

Confira a íntegra dos manifestos de artistas e intelectuais em defesa da democracia

Artistas, cineastas, jornalistas e intelectuais brasileiros de diversos segmentos e correntes políticas entregaram nesta quinta-feira (31)  à presidenta Dilma Rousseff 13 manifestos em que defendem a democracia ameaçada pela tentativa de impeachment e os avanços sociais dos últimos anos. Confira abaixo a manifestação de atores e cineastas do audiovisual brasileiro:

Cinema e Audiovisual pela Democracia

“Nós, cineastas, roteiristas, atores, produtores, distribuidores, críticos, professores, pesquisadores e técnicos do audiovisual brasileiro, nos manifestamos para defender a democracia ameaçada pela tentativa de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Entendemos que nossa jovem democracia, duramente reconquistada após a ditadura militar, é o maior patrimônio de nossa sociedade. Sem ela, não teríamos obtido os avanços sociais, econômicos e culturais das últimas décadas. Sem ela, não haveria liberdade para expressarmos nossas distintas convicções, pensamentos e ideologias. Sem ela, não poderíamos denunciar o muito que falta para o país ser uma nação socialmente mais justa. Por isso, nos colocamos em alerta diante do grave momento que ora atravessamos, pois só a democracia plena garante a liberdade sem a qual nenhum povo pode se desenvolver e construir um mundo melhor.

Como nutrimos diferentes preferências políticas ou partidárias, o que nos une aqui é a defesa da democracia e da legalidade, que deve ser igual para todos. Somos frontalmente contra qualquer forma de corrupção e aplaudimos o esforço para eliminar práticas corruptas em todos os níveis das relações profissionais, empresariais e pessoais.

Nesse sentido, denunciamos aqui o risco iminente da interrupção da ordem democrática pela imposição de um impeachment sem base jurídica e provas concretas, levado a cabo por um Congresso contaminado por políticos comprovadamente corruptos ou sob forte suspeição, a começar pelo presidente da casa, o deputado federal Eduardo Cunha.

Manifestamos a nossa indignação diante das arbitrariedades promovidas por setores da Justiça, dos quais espera-se equilíbrio e apartidarismo. Da mesma forma, expressamos indignação diante de meios de comunicação que fomentam o açodamento ideológico e criminalizam a política. Estas atitudes colocam em xeque a convivência, o respeito à diferença e a paz social.

Repudiamos a deturpação das funções do Ministério Público, com a violação sistemática de garantias individuais, prisões preventivas, conduções coercitivas, delações premiadas forçadas, grampos e vazamentos de conversas íntimas, reconhecidas como ilegais por membros do próprio STF. Repudiamos a contaminação da justiça pela política, quando esta desequilibra sua balança a favor de partidos ou interesses de classes ou grupos sociais.

Nos posicionamos firmemente a favor do estado de direito e do respeito à Constituição Brasileira de 1988. Somos contrários à irracionalidade, ao ódio de classe e à intolerância.

Como construtores de narrativas, estamos atentos à manipulação de notícias e irresponsável divulgação de escutas ilegais pelos concessionários das redes de comunicação.

Televisões, revistas e jornais, formadores de opinião, criaram uma obra distorcida, colaborando para aumentar a crise que o país atravessa, insuflando a sociedade e alimentando a ideia do impeachment com o objetivo de devolver o poder a seus aliados. Tal agenda envolve desqualificar as empresas nacionais estratégicas, entre as quais se insere a emergente indústria do audiovisual.

Por todos esses motivos, nos sentimos no dever de denunciar essa enganosa narrativa e de alertar nossos pares do audiovisual em outros países sobre este assombroso momento que vivemos.

Usaremos todos os instrumentos legais à nossa disposição para impedir um retrocesso em nossa frágil democracia.”

Leia os outros manifestos entregues nesta quinta-feira (31) à presidenta Dilma

Fernando Moraes: ‘Por mais que tentem passar cosmético, trata-se de golpe de Estado’

Em evento com a presença de artistas e intelectuais de diversas tendências políticas em apoio à continuidade do governo da presidenta Dilma, nesta quinta-feira (31), o que fica claro é que a tentativa de impeachment é na verdade um golpe de Estado. A avaliação foi feita pelo escritor e jornalista Fernando Morais em entrevista ao Blog do Planalto.

“Por mais que tentem passar cosmético, chamar de impeachment, qualquer pessoa minimamente bem intencionada, qualquer pessoa de boa fé, sabe que se trata de um golpe de Estado. O fato de ter gente de todas as tendências do chamado campo democrático mostra isso que foi transformado em um bordão de rua que é: ‘Não vai ter golpe’.”

Morais chamou a atenção para o fato de estarem presentes no ato inclusive algumas pessoas que não votaram na presidente Dilma. “Gente que não tem relação com o PT, gente que não votou no Lula anteriormente, que estão unidos por alguma coisa que é mais importante que um partido político ou que um governante, que é a democracia, democracia e o risco de um golpe de Estado”.

Para diretor, país vive clima de ódio e manipulação de informação

Um dos mais conceituados diretores de teatro do país, Aderbal Freire Filho fez um duro discurso contra o que considera “manipulação dos fatos pela grande imprensa”, durante Encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia, no Palácio do Planalto, na manhã desta quinta-feira (31). Aderbal criticou o editorial de um grande jornal nacional que disse ser farsa a posição dos artistas contra impeachment.

“Não sou editorialista, mas sei o que é farsa. Farsa é exatamente o contrário, quando personagens ridículos, fanfarrões, enterrados até o pescoço em corrupção, herdeiros de uma tradição política antiga de conveniência, escândalos nunca apurados, são usados e usam a imprensa, que usa estes personagens para escrever a farsa do impeachment“, disse.

Aderbal traçou paralelo entre o momento político atual e o golpe de 64. “A imprensa hoje chama de impeachment o que antigamente chamava de Revolução“, assinalou.

Letícia Sabatella: ‘estão tentando tomar o poder na marra’

A atriz Letícia Sabatella disse há pouco, no Encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia, no Palácio do Planalto, que estão tentando tomar o poder na marra. “Criaram um clima de ódio, de irmão contra o irmão”, disse, durante seu discurso.

Letícia fez questão de dizer que não tem partido, e classificou as manobras pelo impeachment como um plano “maquiavélico”. Para ela, o tentam tirar Dilma do poder or seus acertos, e não pelos erros.  “Conheci o Congresso, o Senado, e sei  o quanto há de boicote contra a transformação social do Brasil. A gente tem que andar para a frente, não para trás“.

Ator norte-americano diz que democracia do Brasil está ameaçada e deve ser defendida 

O ator norte-americano Danny Glover enviou mensagem de amizade e solidariedade aos “milhões de brasileiros que valorizam a democracia” e pediu respeito à vontade popular expressa nas urnas. Para ele, a democracia é uma conquista preciosa e sagrada que deve ser defendida.

“Nos anos recentes, a massa dos cidadãos das classes progressistas e trabalhadoras conseguiu restaurar com sucesso a democracia, que floresceu, permitindo maiores níveis de inclusão social e desenvolvimento. Hoje, a democracia brasileira está mais uma vez ameaçada, dessa vez por setores da sociedade que se recusam a aceitar que foram eleitoralmente derrotados e buscam lacunas legais que possam levá-los à Presidência”, disse.

Ele encerrou a mensagem dizendo que os brasileiros não estarão sozinhos na luta pela democracia. “Sua luta é também a luta de todas as pessoas ao redor do mundo que lutam por democracia, paz, liberdade e justiça”.

‘Estamos lutando com você’, diz Maria da Conceição Tavares a Dilma

 

A economista e professora Maria da Conceição Tavares, ícone da militância pela democracia no Brasil, enviou, nesta quinta-feira (31), mensagem de apoio à presidenta Dilma Rousseff. A ex-deputada federal manifestou solidariedade e afirmou que o país está vivendo um momento duro de luta pela democracia. Ela lamentou o fato de não estar em Brasília para o encontro de artistas e intelectuais em defesa da Democracia. “Desejo, do fundo do coração, toda a energia e a confiança necessárias para aguentar o tranco desse período tão duro. Estamos com você todos”, disse.

Tico Santa Cruz critica atentado ao Estado democrático de direito

 

O cantor e compositor Tico Santa Cruz também se posicionou contra o processo de impeachment e afirmou que o Brasil está presenciando um “atentado político contra o Estado democrático de direito desse País”. Para ele, é preciso lutar e garantir o respeito ao resultado das urnas. “Nós temos que nos levantar e lutar até o final para garantir que sejam respeitados os 54 milhões de votos dos brasileiros e para garantir que a democracia prevaleça”, garantiu.

‘Vi o país sair das trevas para se transformar num exemplo para todo mundo’, diz cientista brasileiro

O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis defendeu as conquistas do país nos últimos anos e condenou as tentativas de remover a presidenta Dilma de seu mandato concedido democraticamente pelo povo brasileiro.

“Como todos já sabem, o crime de responsabilidade é a única forma de se instaurar um pedido de impeachment que visa remover um presidente, uma presidenta eleita democraticamente pelo povo brasileiro. Na falta, na ausência das evidências objetivas que caracterize esse crime, o nome do procedimento deixa de ser impeachment e passa a ser golpe. Vamos deixar muito claro isso”.

Ele disse que milhões de brasileiros estão dispostos a lutar pelas conquistas sociais  e pela democracia. “Nós temos nesse instante a responsabilidade com os nossos filhos, os nossos netos e brasileiros que ainda hão de nascer, de manter essa democracia, ampliá-la e lutar com todas as nossas forças para que as trevas que nós todos vivemos durante 21 anos jamais retornem à vida nacional”, finalizou .

Diretora de ‘Que horas ela volta’ ressalta lado democrático de Dilma

A cineasta Anna Muylaert, diretora do filme “Que Horas Ela Volta”, ressaltou o lado democrático da presidente Dilma Rousseff que, mesmo atacada politicamente, em nenhum momento cogitou uma atitude arbitrária. Segundo Anna, presente ao Encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia, que acontece agora no Palácio do Planalto, o que está se tentando com o impeachment é atacar um governo que busca formar cidadãos. “Dizem que vão manter os projetos sociais, mas a impressão que tenho é que eles querem manter os privilégios“, criticou.

Para ator Antônio Pitanga, ‘estão rasgando a Constituição do Brasil’

Ator Antônio Pitanga prestigia o encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia. Foto: Marco Mari/Blog do Planalto

O ator Antônio Pitanga, também presente na manhã desta quinta-feira (31) ao Encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia, no Palácio do Planalto, disse que estão tentando rasgar a Constituição do Brasil. “Não quero que meus netos presenciem isso em nome de um projeto golpista”.

Pitanga lembrou que já presenciou outro golpe (o de 64) e que o Brasil tem que olhar definitivamente para a cara dos mais pobres. “Não é possível que que esse país não consiga isso. Estou defendendo a cidadania, a democracia.”

Já o ator e produtor Tárik Puggina definiu com uma frase o momento atual do país. Para ele, o teatro “vai mostrar a farsa mal montada” do golpe. “Estamos nos mobilizando para mostrar às pessoas o que está por trás dos acontecimentos“, afirmou.

Físico diz que democracia está ameaçada

Luiz Pingueli (E) e Eduardo Fanhani (D) criticam processo de impeachment em curso na Câmara dos Deputados. Fotos: Blog do Planalto

À espera do início do evento que reúne daqui a pouco a presidenta Dilma Rousseff com artistas e intelectuais, no Salão Nobre do Palácio do Planalto, o físico Luiz Pingueli Rosa criticou o processo de impeachment que está em curso na Câmara dos Deputados. Segundo Pingueli, não existe crime de responsabilidade.

“Por isso o fundamento do impeachment é falso”, avaliou. Para ele, mais do que defender o mandato da presidenta, o que está em jogo é a democracia e o país. “O que está acontecendo é um retrocesso”, afirmou.

O professor Eduardo Fanhani, da Unicamp, também presente no encontro com artistas e intelectuais em Defesa da Democracia, ressaltou que 54 milhões de brasileiros escolheram Dilma Rousseff presidenta e que não se pode jogar fora a soberania popular. “É com muita preocupação que vemos este movimento golpista”, criticou.