Diante da vitória da saída britânica da União Europeia no referendo realizado nesta quinta-feira (23/05), setores da esquerda europeia apontaram as políticas de austeridade impostas pelo bloco e a divisão social fomentada por alguns líderes como responsáveis pela rejeição da maioria da população britânica e de parte da população europeia à UE.

Alexis Tsipras, primeiro-ministro da Grécia e líder do partido Syriza, ponderou que a decisão britânica “confirma a profunda crise política e identitária da União Europeia”, podendo ser “um despertar ou o começo de um caminho perigoso para o povo europeu”.

Para o primeiro-ministro grego, “as escolhas extremas de austeridade que aprofundaram a desigualdade entre países do norte e do sul, as cercas e as fronteiras fechadas e a recusa em dividir o fardo das crises financeiras e de refugiados indicaram uma crise maior na Europa”, com “o senso de um futuro comum dando lugar para uma suposta ‘segurança’ do isolacionismo e fechamento nacional”.

“Precisamos de uma Europa democrática e mais social”, afirmou Tsipras.

Pablo Iglesias, líder do espanhol Podemos, ressoou as afirmações de Tsipras, dizendo que o bloco “deve mudar”. “Ninguém iria querer partir de uma Europa justa e solidária”, escreveu o espanhol em seu Twitter.

Gabi Zimmer, presidente da Esquerda Unitária Europeia (GUE/NGL), grupo do Parlamento Europeu, lamentou o resultado do referendo, ressaltando porém que “os eleitores britânicos foram obrigados a escolher entre a agenda neoliberal cada vez mais antidemocrática da União Europeia ou uma visão nostálgica, xenófoba e anti-imigração do Reino Unido”.

Para Zimmer, a UE deve fazer uma autocrítica para entender por que a maioria dos britânicos resolver abandonar o bloco e porque esse sentimento se alastra por outros cidadãos europeus. “A UE necessita urgentemente de uma reforma progressista, pois sua agenda neoliberal de austeridade não só prejudicou seus países-membros, como também está perdendo apoio entre os que lutam por uma UE social baseada na solidariedade”, declarou a parlamentar em comunicado.

O partido britânico Left Unity (Unidade de Esquerda) classificou como “desastroso” o resultado do referendo e disse “deplorar” a vitória da Brexit. “O referendo veio da pressão da extrema-direita – motivada pelo sentimento anti-imigração, alimentado pelo racismo”, declarou a sigla em comunicado.

“Os problemas que enfrentamos são resultado de políticas neoliberais, desregulatórias e anti-classe trabalhadora impostas por sucessivos governos britânicos, e não têm a ver com imigrantes e refugiados – nossos companheiros trabalhadores”, afirmou a legenda britânica. “Chamamos todos aqueles que rejeitam esta desastrosa virada na política britânica a combater o racismo, defender os direitos dos migrantes e lutar para proteger e expandir os direitos trabalhistas e sociais que estão sendo ameaçados.”

O partido alemão Die Linke (“A Esquerda”) declarou que a vitória da Brexit “mostra a difícil crise da União Europeia” e “quebra irrefutavelmente o status quo europeu”. “Os tecnocratas da EU e suas políticas de austeridade neoliberais prepararam o ceticismo na Europa e o nacionalismo”, sustenta o partido, que diz defender “um continente europeu da esperança socialmente justo, pacífico e democrático”. “Com o dia de hoje a batalha por uma nova ideia social e política para uma Europa de paz e aberta para o mundo se acende novamente”.

Na Itália, Paolo Ferrero, secretário-geral do Partido pela Refundação Comunista, também culpou as políticas de austeridade da UE pela crescente insatisfação com o bloco por todo o continente. Para Ferrero, tais políticas “deteminaram uma escassez artificial e produziram um descotentamento social que se expressa hoje na ilusão nacionalista”. “Somente uma mudança radical nas políticas da União Europeia, com a saída do neoliberalismo e com a adoção de políticas socialistas de pleno emprego, baseadas sobre a redistribuição da renda e do trabalho e sobre a expansão do Estado de bem-estar social, podem nos tirar da crise e da barbárie”.