Antes da exposição principal, os membros da mesa, comandada por Luiz Dulci, ex-ministro e diretor do Instituto Lula, falaram sobre a guinada conservadora no Brasil e na América Latina. Estavam representadas todas as entidades organizadoras da atividade.

O diretor de Políticas Públicas da Fundação Maurício Grabois, Rubens Diniz, discursou representando também o Grupo de Reflexão em Relações Internacionais, destacando a nova dimensão obtida pela política externa no período de Lula e Dilma. Ele mencionou a ampliação do interesse pelo tema, na imprensa, na academia, na sociedade de um modo em geral. 

“Não há como pensar um projeto nacional de desenvolvimento sem a existência de uma política externa autônoma. A inserção internacional do país está profundamente relacionada com o modelo de desenvolvimento que o país adota”, disse Diniz. É nisto que, segundo ele, se apoiou a política externa ativa e altiva: nas profundas transformações que se desenvolveram internamente no país. “Foi reconhecer e transformar em ação política o tamanho, o peso e o papel que o Brasil poderia ter nas grandes questões internacionais”.

Diniz também comentou o governo interino e golpista de Michel Temer, e o modo agressivo com que o novo ministro de Relações Exteriores procura desmontar todas as políticas anteriores. “José Serra, mais parece o secretário de relações internacionais do PSDB, do que um chanceler, de tão ideologizada, de tão partidarizada as linhas de sua ação internacional”.

No entanto a melhor síntese que expressa a política externa dos golpistas, de acordo com Diniz, foi dada pelo novo embaixador do Brasil em Washington, Sergio Amaral, em artigo publicado na imprensa nacional. No texto, ele afirmou que, “o Brasil necessita de uma política externa modesta”. “Modesta no sentido de não se envolver nos grandes temas, reconhecer sua pequenice… É novamente a síndrome do PSDB de complexo de vira latas reaparecendo”, lamenta ele. 

Segundo Pablo Gentili, secretário-geral da Clacso, o evento foi uma oportunidade de refletir: “Estamos aqui para entender como podemos articular melhor o campo popular, como nos organizar”. “O Instituto Lula, quanto mais atacado, mas se sentirá motivado a fazer atividades”, afirmou Luiz Dulci.

O ex-chanceler, que fez parte do governo Itamar Franco, abriu sua fala comentando o processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff e o comparou com o de Collor: “O impeachment do Collor uniu o Brasil. O impeachment da presidenta Dilma está dividindo o Brasil”.

Continuamos grandes

Intitulada “Em defesa de uma política externa ativa e altiva”, a fala de Amorim recapitulou os princípios de sua atuação como chanceler do Brasil.

Para Amorim, nosso país “é importante demais para ficar escondido em um cantinho”. “O presidente Lula mostrou que não fazia sentido o Brasil se portar de uma maneira modesta. O Brasil não é modesto. O país, com a dimensão que tem, não tinha só que reagir de maneira altiva, mas ser um construtor da agenda internacional.”

Amorim explicou que o foco da política externa era a diversidade: “O que nos interessava era criar uma agenda internacional diversificada, como a aproximação com a África”. “Para cada problema africano, existe uma solução brasileira. E é verdade. Temos uma solidariedade ativa.”

Outra prioridade da agenda era a integração e a proteção dos interesses da América do Sul: “O Mercosul não é apenas uma zona de livre comércio, é criar uma identidade latino-americana. A ALCA não foi aprovada porque trabalhamos muito pelos nossos interesses”.

“A verdade é que o Brasil passou a ser muito respeitado em todo mundo”, resumiu o ex-chanceler. “A propensão do presidente Lula ao diálogo, só fez melhorar nosso relacionamento com o resto do mundo. A consciência de querer um país mais justo é que fez Lula querer fazer essa política externa ativa e altiva.”

Celso Amorim terminou sua fala com um alerta: “O Brasil não pode se ausentar das questões mundiais”. “Sempre com senso de justiça e solidariedade. Se a política externa não for ativa e altiva, ela não é política externa”, completou. 

O evento foi realizado pelo Instituto Lula, a Fundação Perseu Abramo, a Frente Brasil Popular, o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), a Fundação Friedrich Ebert e o Grupo de Reflexão do sobre Relações Internacionais (GR-RI).