Na avaliação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram os sucessos das gestões do PT que motivaram o ódio ao partido. A declaração foi dada durante pronunciamento na tarde desta quinta-feira (15), um dia após a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF).

“Meu fracasso não teria despertado tanto ódio contra o PT. O que despertou tanta ira foi o sucesso”, declarou. “A maior política de inclusão social desse país. O ódio deles é porque durante 500 anos eles não acreditam que era preciso investir na educação, porque podiam estudar no exterior. Quem tinha que estudar aqui era o pobre que terminava o ensino fundamental e tinha que trabalhar para sobreviver. Quando cheguei no governo eu disse: Aqui não vai se falar mais em gasto para a educação. Educação é investimento. Não seremos só exportador de soja, mas exportador de conhecimento. Isso foi acumulando um ódio”.

Em um discurso emocionado, que durou mais de uma hora, o ex-presidente destacou que a lógica de parte do Poder Judiciário “não é mais os autos do processo” e sim das manchetes dos meios de comunicação, interessados em ter alguém para “criminalizar e demonizar”.

“Conquistei o direito de andar de cabeça erguida nesse País. Tenho convicção que quem mentiu está num enrascada. Provem uma corrupção minha, que eu irei a pé para ser preso”, afirmou.

 

Lula começou sua fala dizendo que não faria um pronunciamento como ex-presidente, como alguém perseguido ou que reivindica algum favor, mas como um “cidadão indignado”.

“É uma declaração pura e simplesmente de um cidadão indignado com as coisas que aconteceram e que estão acontecendo nesses dias”, enfatizou, lembrando que poucas figuras públicas no Brasil têm a vida mais fiscalizada que ele.

Lula afirmou que respeita as instituições do estado brasileiro e lembrou que foi em seu governo e no da presidenta Dilma Rousseff que o Ministério Público e a Polícia Federal foram fortalecidos.

“Quero o Ministério Público e a Polícia Federal cada vez mais fortes, mas cada vez mais responsáveis. Ninguém acredita na instituições fortes mais do que eu, porque somente com instituições fortes a gente garante a democracia”, afirmou.

E pediu que os membros do Ministério Público tenham atenção, para que “meia dúzia de pessoas não estraguem uma instituição tão importante”.

Novela de horário nobre

O ex-presidente afirmou que foi construída uma mentira “e tornaram essa mentira uma verdade aos olhos da opinião pública e agora tentam concluir a novela”.

“Eles construíram uma mentira, uma inverdade, como se fosse um enredo de uma novela. E está chegando ao fim o prazo, afinal de contas já cassaram o Cunha, já elegeram o Temer pela via indireta, pelo golpe, já cassaram a Dilma, agora precisam concluir a novela: acabar com a vida política do Lula. Porque não existe outra explicação para o espetáculo de pirotecnia”, disse o ex-presidente.

“Todas essas denúncias, tenho a consciência tranquila, e mantenho o bom humor, porque me conheço, sei de onde vim, sei para onde vou, sei quem me ajudou a chegar onde estou, sei quem quer que eu saia, sei quem quer que eu volte”, ressaltou Lula, reforçando que seu governo e da presidenta Dilma Rousseff atuaram para o fortalecimento do Ministério Público e da Polícia Federal e pediu respeito à instituição e à sua família.

“Não é que somos mais honestos que ninguém, mas tiramos da sala o tapete que escondia a corrupção do país… Sou daqueles que acreditam que só com instituições fortes há democracia… Eu respeitaria mais a família deles do que eles respeitaram a minha. Vocês pensam que foi fácil suportar a invasão da minha casa? Invadiram as casas dos meus filhos… Até os meus discursos eles levaram do instituto, certamente para plagiar”, ironizou.

Lula disse que a coletiva dos procuradores do MPF do Paraná foi para garantir as manchetes dos jornais. “A lógica não é mais o processo. A lógica é criar as manchetes. Quem é que nós vamos criminalizar pelas manchetes? Quem vamos demonizar? Isso acontece desde 2005. O PT é tido como partido que tem que ser extirpado da política brasileira… Tentaram fazer comigo o que fizeram com a Dilma em 2005. O objetivo era tirar o Lula já em 2005”, declarou.

Convicção
Lula chamou a denúncia apresentada pelo MPF de “espetáculo de pirotecnia” para justificar a mentira que foi construída, “como se fosse um enredo de uma novela” e que agora precisam concluir a história, escolhendo os bandidos e os mocinhos.

“Ontem eu não quis ficar zangado, mas não compreendia aquilo. Como você convoca uma coletiva, gasta dinheiro público, para dizer que não tem prova, mas tem convicção?”, indagou.

“Peçam desculpas. Mas parem de inventar coisas para justificar a primeira mentira”, completou.

O ex-presente comparou com o caso dos mais de 400kg de cocaína encontrados em um helicóptero que pertencia à família do senador Zezé Perrella (PTB-MG).

“Eles sabiam e tinham prova de um helicóptero com 450kg de cocaína. Eles tinham prova, mas não tinham convicção”, declarou.

O ex-presidente falou que a sua convicção é que o Brasil pode ser um País melhor e que seu governo é prova disso.

“Tenho a convicção que é possível mudar esse País e tenho prova, porque mudei o País. Promovi a maior inclusão social que este País já viu sem dar um tiro, usando os instrumentos da democracia”, destacou.

Lula afirmou que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, os procuradores, os ministros do STF e os delegados da Polícia Federal devem estar pensativos. “O que aconteceu? À custa do que esse espetáculo? Por que vender um produto que não tem como entregar? Não adianta matar e esquartejar, como fizeram com Tiradentes… Vocês vão ter problema com o golpe que vocês deram”, alertou.

E advertiu: “Vocês não podem permitir que meia dúzia de pessoas estrague a reputação de uma instituição como o Ministério Público. Eu conheço gente que vive por cinco minutos de fama na televisão, essa pessoa vive pouca. A única coisa que eu peço, por favor, é que respeitem a minha família”, pediu.

Lula destacou que, apesar da situação imposta à sua família, ele não perdeu o ânimo de luta por esse país. “Eu não tenho tempo de parar, o país que eu sonho ainda está muito distante de ser construído. Nada, só Deus, pode me fazer parar de lutar”, afirmou. “Esta meninada que tá vindo pra rua lutar é um Lula multiplicado por 50 milhões de Lulas pelo país!”, completou.

“Tem gente que passou em concurso público que é analfabeto político, não sabe o que é governo de coalizão”, disse Lula, rebatendo a tese de “propinocracia” apresentada por Dallagnol para explicar o governo de coalizão e fundamentar a sua tese de crime.

“Quando eu transgredir a lei, me punam para servir de exemplo. Mas quando eu não transgredir, procurem outro para criar problema”, reafirmou.

“Estou com 70 anos e com vontade de viver mais 20, a história mal começou”, concluiu.

E garantiu: “Não tenho a vocação do Getúlio para me dar um tiro, nem a do Jango para sair do Brasil. Se quiserem me tirar, vai ter que ser na urna”.

Desvio de conduta
Ainda nesta quinta-feira (15), os advogados de Lula informaram que dariam entrada no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em acusação de desvio de conduta de membros do MPF no caso da coletiva de ontem.