O historiador latino-americanista é autor de América para la humanidad: el americanismo universalista de José Martí (CIALC/UNAM/FMG, 2012), tradução de sua pesquisa para o espanhol. Este livro foi publicado com parceria da Fundação Maurício Grabois e Universidade Nacional Autônoma do México. O secretário-geral da Grabois, Adalberto Monteiro, prestigiou a defesa de Carvalho no dia 28 de outubro.

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MEMÓRIAS DE UM HISTORIADOR LATINO-AMERICANISTA 

Na sessão pública de defesa de seu Memorial Acadêmico com vistas à promoção à classe de Professor Titular da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás (UFG), o historiador destacou os principais marcos de sua trajetória acadêmica e intelectual, especialmente como historiador latino-americanista.

Como uma exigência para a ascensão ao último nível da carreira de docente das universidades federais – o de Professor Titular –, nos últimos anos tem ocorrido em várias universidades brasileiras diversas sessões públicas de defesa de Memorial Acadêmico, em que esses docentes expõem suas narrativas autobiográficas, suas trajetórias acadêmica e intelectual, que são submetidas à apreciação de uma banca formada por professores titulares de outras universidades brasileiras. Trata-se de uma oportunidade ímpar de conhecer a contribuição desses profissionais para as áreas de ensino, pesquisa, extensão, gestão acadêmica e produção profissional, enfim, a sua contribuição para o desenvolvimento de seus respectivos campos do conhecimento.

Uma dessas apresentações foi a do historiador e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Eugênio Rezende de Carvalho, ocorrida no último dia 28 de outubro, nas dependências da Faculdade de História da UFG, oportunidade em que seu Memorial Acadêmico foi submetido à arguição e à avaliação da banca formada pelos professores, historiadores e doutores Estevão Chaves de Rezende Martins (Universidade de Brasília), Janice Theodoro da Silva e Dario Horacio Gutierrez Gallardo (Universidade de São Paulo) e Leandro Mendes Rocha (UFG).

O professor Eugênio de Carvalho tem doutorado em História pela Universidade de Brasília (UnB), estágio doutoral na Universidade Complutense de Madri e pós-doutorados em História pela Universidade de São Paulo e pela Universidade de Brasília. Nas últimas décadas, tem atuado nas áreas de História das Américas – especialmente História da América Latina – e de Teoria e Filosofia da História, dedicando-se privilegiadamente aos temas de história intelectual e das ideias na América Latina e Caribe e, sobretudo ultimamente, às temáticas do tempo e das temporalidades históricas.

Ao longo de sua exposição, o professor narrou os principais marcos de sua trajetória intelectual e acadêmica, desde as circunstâncias e o momento em que abraçou a área de história, em meados da década de 1980; passando pela sua descoberta e envolvimento com temáticas e problemáticas da história da América Latina, no início dos anos 90; pelas suas pesquisas de mestrado e doutorado sobre as ideias americanistas do intelectual, escritor e líder político cubano José Martí (1851-1895); pelo seu ingresso em 1996, como docente, no Departamento de História da UFG; pela sua experiência de estágio doutoral na Universidad Complutense de Madrid, Espanha, em 1999; pela sua experiência de trabalho e atuação, a partir dos anos 90, junto à Associação Nacional de Professores e Pesquisadores de História das Américas (ANPHLAC) e ao Centro de Estudos do Caribe do Brasil (CECAB); pelas suas experiências de gestão acadêmica, na primeira década do século XXI, como Chefe de Departamento e como coordenador do Programa de Pós-graduação em História na UFG; passando ainda pelos seus estudos de pós-doutoramento na USP sobre a história das ideias (e intelectual) na América Latina no século XX; pela sua atuação como bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq, a partir de 2009; chegando até o momento de abertura e desenvolvimento de sua nova frente de estudos, ao lado dos estudos latino-americanos, sobre o tempo e o tempo histórico, temática sobre a qual iria realizar novo pós-doutorado em 2012, na UnB, período em que se tornou membro da International Society for the Study of Time – ISST e da Asociación Interamericana de Estudios sobre el Tiempo.

Na parte final de sua exposição, o professor tratou da sua experiência internacional mediante o relato de suas diversas atividades acadêmicas exercidas no exterior, nos últimos cinco anos, mediante a realização de alguns convênios/intercâmbios e missões de estudos, algumas como professor visitante estrangeiro, na Argentina (Universidad Nacional de Córdoba), em Cuba (Centro de Estudios Martianos, Casa de las Américas e Universidad de La Habana), na Grécia (15th Triennial Conference of the International Society for the Study of Time – ISST), nos Estados Unidos (San Francisco State University) e, sobretudo, no México (Centro de Investigaciones sobre América Latina e y el Caribe – CIALC e Programa de Posgrado en Estudios Latinoamericanos – Humanidades y Ciencias Sociales, ambos da Universidad Nacional Autónoma de México – UNAM): ministrando conferências e palestras, participando de eventos, realizando pesquisas e buscas de fontes documentais, exercendo coorientações, visitando programas de pós-graduação e centros de pesquisa, lançando e apresentando livros e outras publicações, reunindo-me com outros pesquisadores especialistas em suas áreas de atuação, abrindo possibilidades de publicação etc.

Nas duas últimas décadas, o professor Eugênio de Carvalho publicou sete livros, entre os quais Nossa América: a utopia de um novo mundo (Ed. Anita Garibaldi, 2001 – e versão digital em 2014); América para a humanidade: o americanismo universalista de José Martí (Ed. UFG, 2003); O pensamento latino-americano: o movimento latino-americano de história das ideias (Ed. UFG, 2009); além de duas traduções, uma ao inglês, em formato digital – Our América: the utopia of a new world (Cia do eBook, 2016) –, e outra ao espanhol, impressa e publicada no México, em parceria com a Fundação Maurício Grabois – América para la humanidad: el americanismo universalista de José Martí (CIALC/UNAM/FMG, 2012). Publicou ainda oito capítulos de livros em obras coletivas – duas delas internacionais, publicadas na Espanha e no México; 27 artigos completos publicados em periódicos – nove deles em publicações internacionais no exterior; 12 trabalhos completos publicados em anais de eventos acadêmico-científicos – dois deles no exterior; dois livros e vários artigos traduzidos, além de inúmeros outros tipos de produção (traduções, textos de divulgação, resenhas, editoriais, entrevistas etc.) e de outros trabalhos em preparação ou encaminhados e aguardando publicação. Na média, quase um terço de todos os artigos e capítulos foram publicados no exterior. Salvo algumas exceções, suas publicações podem ser agrupadas, de certa maneira, em três grandes conjuntos temáticos: 1) publicações específicas sobre as ideias de José Martí; 2) publicações mais gerais sobre intelectuais, ideias e identidades na América Latina e Caribe; 3) e, mais recentemente, publicações teóricas sobre tempo e tempo histórico.

Em sua exposição, além de apresentar esses dados, o professor destacou ainda os seus mais de 20 anos de experiência docente nos diversos níveis de ensino, da graduação ao doutorado, nas áreas de História das Américas, História Intelectual e das ideias, Teoria e Metodologia da História e de Temporalidades históricas. Nesse período, orientou ainda 44 trabalhos acadêmicos em todos os níveis (pós-doutorado, doutorado, mestrado, especialização e graduação); realizou inúmeras atividades de extensão acadêmica; participou de quase 60 eventos acadêmicos, sendo 34 como convidado e 14 no exterior, além de dezenas de bancas de concurso e de trabalhos de conclusão; trabalhou como assessor e consultor ad hoc para o CNPq e CAPES e exerceu ainda atividades editorias diversas.

Ao final de sua apresentação, Eugênio de Carvalho, num momento mais poético, evocou metaforicamente a sua terra natal, a pequenina e pacata cidade de Dores do Indaiá, localizada no interior de Minas Gerais. Segundo ele, essa típica corruptela mineira, onde o tempo parece não passar e a vida seguir sempre devagar – numa referência a um verso de Drummond –, seria um lugar onde a longa duração braudeliana – numa referência ao historiador francês Fernand Braudel –, do tempo quase imóvel, encontraria a sua máxima expressão. Por outro lado, essa mesma Dores do Indaiá, assim como tantas outras cidadezinhas de Nossa América, lembraria ainda a Macondo de García Marquez – eternizada em seu clássico Cem anos de solidão. E assim, ao evocar Dores do Indaiá, o professor quis simbolizar o encontro entre o tempo histórico e a América profunda, com as dialéticas permanência-mudança que lhe são inerentes; quis simbolizar, enfim, segundo ele próprio, as duas identidades resultantes da sua trajetória pessoal e acadêmica.