A mostra especial vai apresentar ao público, pela primeira vez, o painel Mulheres de Tejucupapo, a mais recente grande obra da artista. Com um tamanho que impressiona, a peça de 8m x 2,2m retrata um episódio da história pernambucana ainda não documentado de forma definitiva.

Corria o ano de 1646 e os holandeses já tinham perdido quase a totalidade de seu domínio. Estavam cercados e precisavam de alimentos e provisões. Tentaram, então, ocupar o vilarejo de Tejucupapo, área tradicional de plantio da mandioca, localizada nas proximidades do hoje município de Goiana. Para a investida, os invasores escolheram um domingo, dia em que os homens costumavam ir à capital comercializar seus produtos. Quando a notícia do iminente ataque se espalhou, quatro mulheres do vilarejo lideraram a reação em defesa de seus territórios e suas famílias: Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina. Enquanto os poucos homens que ficaram em Tejucupapo enfrentaram os invasores com tiros, as mulheres puseram água para ferver, acrescentando pimenta em tachos e panelas de barro. Escondidas em trincheiras, atacavam com a mistura, jamais esperada pelos soldados. Os olhos dos inimigos eram os principais alvos. Como saldo, mais de 300 cadáveres ficaram espalhados pelo vilarejo, sobretudo de holandeses. No dia 24 de abril de 1646, as mulheres guerreiras do Tejucupapo saíram vitoriosas, pondo um fim à dominação holandesa no Brasil.

“Até agora, nenhuma das tentativas de descrevê-lo foi baseada em documentos, embora haja muitas versões orais, relatos de antigos moradores. Tentando rever todos esses estudos, comecei a pintar um grande painel como contribuição de artista plástica à história de Tejucupapo”, conta Tereza. Para a artista, “essa guerra é mais um símbolo de liberdade e um grito contra a opressão do que um fato com data, número de participantes e consequências contábeis. Tejucupapo é um exemplo da coragem nordestina e ficará como memória, não só para Pernambuco, mas para o Brasil, como uma luz. E foi essa luz que me iluminou na longa caminhada de três anos para construir o meu projeto”.

Além do painel, a mostra que comemora a imensa contribuição de Tereza às artes plásticas, vai apresentar ao público objetos utilizados pela artista no seu cotidiano criativo, como pincéis, pintas, palhetas, esboços riscados e papel, entre outros. As cenas de horror eternizadas por Francisco Goya, pintor espanhol do século XVII, inspiram a mostra e também ganham destaque em uma das salas de exposição. 

Para o Secretário Estadual de Cultura, Marcelino Granja, “a mostra chega à Torre Malakoff em um momento peculiarmente propício às reflexões sobre a função da arte na interpretação, na reelaboração e na transformação política e social”. A presidente da Fundarpe, Márcia Souto, comenta que “esta é uma oportunidade do povo pernambucano e os turistas que frequentam o espaço se reencontrarem não apenas com uma grande artista do nosso tempo, mas também com nossa história e com a luta pela construção de um mundo sem opressões e pleno respeito à soberania de cada povo”.

SERVIÇO

Abertura da exposição ‘Mulheres de Tejucupapo – Tributo a Goya’, de Tereza Costa Rêgo
Sexta-feira, 28 de abril de 2017
A partir das 19h |
Torre Malakoff – Praça do Arsenal/Bairro do Recife Acesso gratuito