Na UFMG, dividiu a mesa com Renato Rabelo, o professor do Departamento de Ciência Política da UFMG e vice-diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Bruno Wanderley Reis. Em suas pesquisas mais recentes, Bruno Reis analisa a relação entre poder econômico e sistema político no Brasil.

Renato Rabelo contextualizou o golpe de Estado, a crise brasileira e a avalanche de retrocessos, no quadro geral da crise do capitalismo e da ofensiva neocolonial. O intento do consórcio a frente do país em aliança com o Imperialismo é liquidar politicamente a Esquerda brasileira.  Do ponto de vista do desenvolvimento econômico, o atual governo conduz o Brasil para um neoextrativismo. Enfatiza que diante da situação de extrema dificuldade para as forças progressistas e de ataque aos direitos dos trabalhadores e venda de patrimônios estratégicos para a nação, a saída é eminentemente política e se sintetiza no esforço de constituição de uma frente ampla que tenha os trabalhadores como base social principal. As bandeiras capazes de gerar a amplitude que o tempo exige são, segundo Renato, a defesa da Democracia, dos direitos dos trabalhadores e dos interesses nacionais. Ao contrário das interpretações que propugnam a existência de uma incompatibilidade entre a frente ampla e os interesses da Esquerda, Renato assevera que as forças de Esquerda devem se emprenhar em serem condutoras da Frente Ampla, para ganharem mais musculatura e não se isolarem. O centro da tática da Frente Ampla deve ser a retomada da soberania popular, com eleição direta.

Em seguida, Renato Rabelo apresenta uma contribuição fundamental para o debate brasileiro acerca de qual programa devem as forças progressistas construírem. Ele discorre sobre vários elementos da alternativa estratégica para o Brasil. A industrialização seria o elemento principal dessa alternativa. “Não se sustenta o progresso social sem uma industrialização vigorosa”, enfatiza. A reforma do Estado que traga o Poder Judiciário para o controle do povo e que aprimore os mecanismos de seleção da burocracia estatal é elemento fundamental dessa estratégia. Para Renato, a ilusão quanto a neutralidade da burocracia pública foi um dos graves erros do ciclo progressista. Uma reforma e investimentos maciços em educação, somados a realização de uma reforma tributária progressiva são elementos decisivos para enfrentar a cruel desigualdade do país. Por fim, o componente estratégico dessa estratégia é um projeto especifico para a região Amazônica e de defesa nacional.

Professor Bruno Reis argumentou que modo peculiar como é estruturada a relação entre demandantes de recursos para campanhas (grande número de candidatos) e ofertantes desses fundos (poucas e grandes empresas) torna o sistema altamente favorável ao controle dos últimos. Tal situação é agravada, pois as grandes empresas financiadoras são, em grande maioria, clientes do Estado. Assim se fecha o círculo de controle do Parlamento por alguns oligopólios e se possibilidade de corrupção. Contudo, para Bruno Reis, apesar de haver relativa convergência de entendimento da necessidade de uma reforma política mais substantiva, não houve na última década uma convergência de qual deveriam ser as mudanças.

Para Bruno Reis, os partidos políticos continuam sendo essenciais como instrumentos de luta para os que não detém os meios de produção e, portanto, a defesa desse instrumento deve ser reforçada. Contudo, os efeitos causados pelas redes sociais, como a sensação de ser um ativista mesmo que sem sair de casa, e outras tendências de dispersão organizativa, tornam o cenário mais adverso para os partidos. Ele arrisca que essas tendências não se reverterão, e que, portanto, os partidos deverão construir estratégias para contorná-las.

Ao encerrar, Prof. Bruno Reis, defendeu que mais debates como esse promovido pela FMG deveriam acontecer na Universidade. Que o melhor que essa instituição pode fazer para o debate público é abrir suas portas para o confronto de pensamentos e contribuir com suas descobertas para sugerir caminhos.

Já na PUC-Minas campus Coração Eucarísitico, Renato Rabelo dividiu a mesa com o Professor da Faculdade de Direito da PUC e da UFMG, José Luiz Quadros Magalhães. Zé Luiz, como é conhecido, é pesquisador principalmente nas áreas de teoria do Estado e teoria da Constituição.

Esse segundo debate girou com maior intensidade sobre as características da atual fase do capitalismo. Professor José Luiz Quadros enfatizou a  forte ofensiva ideológica do capitalismo na sua fase neoliberal. Utilizou o conceito de “empreendedorismo” como ilustrativo dessa ofensiva. Esse conceito tem conseguido convencer os trabalhadores de que eles não são controlados pelos seus patrões, como no caso do Uber. A disseminação desse conceito tem um impacto profundo sobre a capacidade de coesão dos trabalhadores, pois age diretamente para tornar ainda mais difícil o reconhecimento de seus interesses de classe.

Zé Luiz levanta como um dos grandes projetos realizados pelos governos Lula e Dilma, a expansão e interiorização das universidades federais, bem como os projetos acadêmicos inovadores, a exemplo do da Unila. Aponta, por outro lado, que esses governos não conseguiram inovar no processo de desenvolvimento econômico, repetindo os modelos ocidentais tradicionais. No terreno do Desenvolvimento e da Democracia, portanto, defende que é preciso construir alternativas à racionalidade uniformizadora eurocêntrica.

Por fim, adentramos nessa dimensão do debate, Renato Rabelo afirmou que os grandes dilemas vividos pela humanidade atualmente decorrem de o capitalismo estar historicamente superado, ou seja, as relações sociais capitalistas não são mais capazes de colocar as enormes forças produtivas a serviço da maioria dos povos. Contudo, ainda não se afirmou no mundo a alternativa superior ao capitalismo, logo os impasses históricos vão se avolumando. Renato também aponta uma característica crucial do capitalismo atual para a luta dos trabalhadores, a de que as formas de trabalho sofreram profunda transformação nos últimos 30 anos, entretanto a Esquerda ainda não conseguiu atualizar sua tática para dar conta dessa transformação. Consequentemente a luta dos trabalhadores se tornou mais dispersa.

O presidente da seção mineira da Fundação Maurício Grabois, Edson de Paula Lima, encerrou as atividades do dia reafirmando o compromisso da FMG em aprofundar o diálogo com os intelectuais progressistas de Minas Gerais e também em fazer da Fundação um instrumento decisivo dos comunistas na intensa luta de ideias dos tempos atuais.