Trata-se de um ato cultural e político, que reuniu não apenas os membros do partido, mas representantes de diversos setores da comunidade de Marabá e região, além de lideranças políticas e populares de várias partes do estado. 

Durante a programação em homenagem a Paulinho Fonteles (como era conhecido), foram declamados poemas, cantadas canções, exibidas entrevistas dele em vídeo, e feitas homenagens falando da militância política e social dele, desde os tempos de movimento estudantil, sua carreira política (eleito duas vezes vereador em Belém), até chegar à história que ele construiu na Comissão da Verdade e na luta pela memória dos mortos e torturados na guerrilha do Araguaia, uma militância que envolveu o acesso a direitos por parte dos camponeses que combateram o regime militar no Brasil.

Compareceram caravanas de camponeses dos municípios de Brejo Grande do Araguaia, São Domingos do Araguaia, Palestina do Pará e São João do Araguaia, além de municípios do Tocantins, localizados na região do Bico do Papagaio, onde ocorreu a guerrilha. Também compareceram a viúva de Paulo Fonteles, Angelina Anjos, e a mãe dele, Hecilda Fonteles Veiga, que sofreu nos porões da ditadura quando estava grávida de Fonteles. Irmãos, parentes e filhos também compareceram.

Coordenaram a atividade Sandra Batista, da Comissão Política Estadual do PCdoB, e Moisés Alves, do Instituto Paulo Fonteles. Saudaram o evento por meio de mensagem enviada pelo deputado Carlos Bordalo (PT) e pelo deputado Edmilson Rodrigues (PSol). Sandra testemunhou o enorme respeito e carinho dos povos indígenas conquistado por Paulinho. Eles não puderam comparecer devido à realização dos Jogos Indígenas Regionais, que ocorrem na terra dos Gaviões, reunindo os povos da região. 

Referência de luta de Manuela

“Vir ao Pará é vir a um estado de muita resistência. Aceitei seguir uma jornada que tem nesse estado uma de suas maiores inspirações. Voltar ao Pará na condição de pré-candidata à Presidência da República do meu partido tem uma carga emocional diferenciada, seja pela homenagem ao Paulinho – que já é algo suficientemente forte -, seja pelo fato de que aqui tombaram grande parte dos heróis do nosso país e do nosso partido. Daqueles que deram a vida para reconstruir a nossa democracia”, afirmou a deputada gaúcha, se referindo à Guerrilha do Araguaia.

O ato foi marcado pelo clima de emoção. Paulinho, como era carinhosamente chamado, faleceu em 26 de outubro, após um infarto fulminante resultado de complicações de uma pneumonia. Ele era filho do advogado comunista Paulo Fonteles, assassinado em 1987 a mando do latifúndio.

Em seu discurso, Manuela contou como conheceu Paulinho e destacou a importância dele na luta por justiça e garantia dos direitos. “Eu tive a honra de conhecê-lo em 2001, no Fórum Social Mundial realizado na minha cidade, Porto Alegre, em que nós lançávamos a ideia de que um outro mundo era possível. Não sabíamos, eu e o Paulinho, o tanto de vida que nos esperava. Nós não sonhávamos que viveríamos anos de mudanças tão profundas no Brasil e na América Latina quando gritávamos que um outro mundo era possível”, relatou.

 

A verdade

Manuela reforçou que o golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, trouxe novos desafios, mas a inspiração para garantir que a democracia prevaleça deve ser a trajetória de luta de Paulinho Fonteles.

“Marcou a luta de Paulinho pela memória, a verdade e a justiça e o quanto ele estava certo e de quanto poderia ter sido diferente a nossa história se tivéssemos tido mais debates sobre o significado da memoria, da verdade e da justiça no período da ditadura militar”, salientou Manuela.

“Temos muitos desafios daqui para frente. Se pensarmos no Paulinho que nasceu na cela, nós temos a obrigação de pensar no valor da democracia para o povo brasileiro. E temos a obrigação de contar a história dos filhos da ditadura militar para que nunca mais aconteça, já que vivemos um tempo em que brasileiros e brasileiras parecem esquecer e defender aqueles que reivindicam a tortura como uma prática de Estado”, enfatizou.

O sonho

Paulinho Fonteles nasceu na prisão, durante a ditadura militar. Sua mãe, Hecilda Fonteles Veiga, era estudante de Ciências Sociais quando foi presa, em 1971, em Brasília, com cinco meses de gravidez. “Que nós o tomemos como símbolo da lula pela reforma agrária e da luta pela paz no campo. Da luta para que todas as crianças, do campo e da cidade, tenham o mesmo direito à Educação”, disse.

Com a voz embargada em várias momentos de seu discurso, Manuela afirmou que a sua visita para homenagear Fonteles dá força para seguir sua jornada. Ela citou um trecho do poema de Lila Ripoll, Primeiro de Maio, que diz: Morreram? Quem disse, se vivos estão! Não morre a semente lançada na terra. Os frutos virão.

Para Manuela, “Paulinho já era fruto e agora é semente”. “Mas ele já era fruto de muitas lutas. Da luta pela democracia, mais atual do que nunca. Da luta pela justiça no campo. Da luta de Paulo Fontelles por terra, trabalho e uma nova independência para o Brasil”, declarou.

E concluiu: “Que essa homenagem nos faça ter forças para falar com o povo e construir e envolver o nosso povo num grande sonho de Brasil. O Paulinho é um homem que deu a vida por esse sonho. Se o espírito dele fundiu-se às matas do Araguaia, talvez reconheça ainda melhor os seus segredos. As tuas palavras e os seus exemplos se espalham, tal qual o orvalho por essa mata cuida. Sua inspiração é como o vento da floresta”.

A continuidade de uma luta

O secretário-geral da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, destacou a continuidade da luta de Paulinho, por meio do Instituto Paulo Fonteles. Ele chamou o plenário lotado da Câmara de Marabá de um “altar da honra”, no qual se respiram os ares de um novo mundo sonhado por Paulinho para seu povo oprimido nas florestas e no campo paraense. “Paulo seguiu a trilha de Maurício Grabois, trazendo a bandeira da Guerrilhado Araguaia até os dias atuais, dando-lhe visibilidade, fazendo-a ser escrita nos livros de história como um feito heróico do nosso povo, ajudando-a a ser levada às telas do cinema, da televisão e aos palcos de teatro, ainda que os ditadores quisessem enterrá-la num túmulo de chumbo. Paulo Fonteles Filho dedicou-se a divulga-la pelo Brasil afora e até para além das fronteiras do nosso país”, disse, sobre parte do entusiasmo e ação dedicada por Paulinho ao divulgar os acontecimentos e personagens da Guerrilha do Araguaia, que constituem a memória viva do conflito na região.  

Como o pai, que era chamado de “o advogado do povo da mata”, Paulo Fonteles Filho foi um militante abnegado. Monteiro destacou sua trajetória, desde o nascimento contra a vontade dos tiranos na prisão da ditadura, passando pela luta estudantil e na organização dos trabalhadores, denunciando os desmandos dos poderosos locais. “Seu falecimento abrupto, como se um raio tivesse lhe roubado a vida, causou um forte impacto no coletivo militante do Partido Comunista do Brasil”, admitiu. 

Como militante da luta pelos direitos humanos, Paulinho se empenhou na localização dos restos mortais dos guerrilheiros e guerrilheiras desaparecidos no Araguaia. Tanto nas expedições oficiais – numa das quais indicado pela ex-governadora Ana Júlia –, quanto por conta própria, com apoio da população local e das pessoas que conviveram com os combatentes. Monteiro também ressaltou o esforço dedicado perante às autoridades do governo brasileiro e do Pará, para fazer valer os direitos dos moradores da região que foram vítimas de agressões, torturas e violências de toda sorte à época da Guerrilha.

Nos últimos tempos, dedicou-se também ao registro da memória de seu pai, Paulo Fonteles, assassinado em 11 de junho de 1987 por balas de pistoleiros a serviço de latifundiários. “Criou, com outros familiares de vítimas da ditadura militar, o Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos, que prepara o livro biográfico do pai, intitulado Paulo Fonteles, sem ponto final, do escritor Ismael Machado, coeditado pela Fundação Maurício Grabois”, mencionou. Ele citou ainda o livro Araguaianas, legado editorial de paulinho pela Fundação Maurício Grabois. 

Perseguido e jurado de morte pelos mesmos que tiraram a vida do pai, teve de se ausentar, a contragosto, do estado do Pará. “Isso, para ele, era um sofrimento. Tirar Paulinho de Belém, e sobretudo do seu convívio com os trabalhadores, com os índios do sul do Pará, era quase como tirar um peixe da água”, relatou Monteiro, mostrando o vínculo afetivo que ele tinha com sua terra, mesmo podendo viver em tantos outros lugares por onde esteve de passagem.

“Quer ver a felicidade? Olhem as fotos, as imagens, ou leiam os textos de Paulinho, das suas andanças, suas longas marchas, ladeado por camponeses, ladeado por índios, ladeado por gente simples. Há um lavrador sendo injustiçado lá para as bandas da Serra das Andorinhas, para lá ia Paulo, do jeito que fosse, como um guerreiro, como um apóstolo. Ora era Dom Quixote, ora Sancho Pança”, comparou.

Adalberto mencionou a lembrança de Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois, ao comentar o falecimento de Paulinho, de como o PCdoB passou a levar muito em conta “a importância de preservar seus quadros, não se deixando levar por visões espontâneas, voluntaristas”. Referia-se às ameaças mais recentes à sua vida. “Renato Rabelo recomendou-lhe, pouco antes da sua morte, que saísse da região até a situação esfriar”.

A pedido de Paulinho, Renato Rabelo escreveu a apresentação da biografia de seu pai. Segundo Renato Rabelo, Paulinho era a expressão viva do pai. “Como o pai, ele vivia a luta política de forma muito intensa, de maneira abnegada, apaixonada. Havia uma verdadeira paixão pelo que eles faziam, ações cheias de sonhos, de utopias, de ideias. O contato com Paulo Fonteles Filho era quase uma revisitação à memória do seu pai, disse Renato. Até a voz, o jeito de falar. Na apresentação do livro ele cita que eram semelhantes até nas idiossincrasias”.

Monteiro observa que a comoção que tomou conta da militância comunista com a perda desse destacado quadro do PCdoB demonstra como seu valor era reconhecido. “O Sul do estado do Pará, região de agudos conflitos de classes, acostumou-se com a sua presença espalhando generosidade, sonhos e esperanças. A cidade de Belém da qual foi vereador presenciou sua intrepidez na semeadura de ideias para um Brasil democrático, soberano e desenvolvido.”

“Toda vez que um grupo de trabalhadores se unir pelos direitos; toda vez que um jovem de Marabá, de Araguaína, Xambioá, de São Geraldo, São Domingos, Brejo Grande, Palestina do Pará, São João do Araguaia, de Belém, de qualquer cidade do Brasil, escrever um poema enaltecendo Osvaldão, Dina, o doutor João Carlos Hass, Helenira, os guerrilheiros do Araguaia; toda vez que um parlamentar ocupar a tribuna de um parlamento para denunciar um grileiro e defender a reforma agrária; toda vez que uma canoa cruzar o Araguaia carregando livros, carregando a Boa Nova de um Brasil democrático, soberano, socialista, Paulo Fonteles Filho estará presente!”, concluiu o dirigente do PCdoB.

Companheira de luta

A viúva de Paulinho, Angelina Anjos, militante destacada nas causas paraenses, estava comovida com a presença de tantos que, naquela região, foram para ele a razão de viver a luta. Ela contou que não queria chorar mais, pois nos momentos difíceis, Paulinho costumava dizer: “Engole o choro e segue!” Mas ela lamenta chegar a Marabá e não encontrar “aquele sorriso cheio de ideias e novidades que sempre a esperava”.

“Esta homenagem é sobretudo um agradecimento à vida que Paulo escolheu ter sempre na defesa dos oprimidos”, afirmou ela. Angelina lembrou as grandiosas Caravanas da Anistia mobilizadas junto à Associação de Torturados na Guerrilha do Araguaia, que contribuíram para promover anistia e reparações a inúmeros camponeses e indígenas, num reconhecimento de que o Estado cometeu crimes contra estas populações.

Ela ainda mencionou as lutas inconclusas em que Paulinho se envolvera, como o tombamento da Casa Azul (aparelho de tortura do Exército), a realização do Memorial dos Lutadores do Povo, continuar a luta pela reparação dos atingidos pela Guerrilha, aprovar uma lei estadual de Anistia, garantir a devida reparação psíquica dos camponeses por meio de clínicas de testemunho e concluir o relatório da Comissão da Verdade do Pará.

“Eu quero agradecer por aquela vida que enchia a minha de fogueiras ardentes. Viver com Paulo foi a experiência mais incrível que eu poderia ter na vida. Foi o maior presente que eu poderia ter”, concluiu.

Foi Hecilda Veiga, mãe de Paulinho, uma das últimas a discursar falando de suas preocupações com os engajamentos que ele fazia contra gente perigosa, ainda que ela acabasse convencida da importância. Ela lamentou os militares e políticos, que Paulo enfrentou, que insistem na volta do regime militar que tantos prejuízos causou ao país e ao povo paraense. Ela disse que ao ouvir os relatos emocionados dos amigos, confirmou que a memória e a luta de Paulinho continua viva neles.

Parcerias inestimáveis

Sezostrys Alves da Costa, presidente da Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia (ATGA) e secretário de Saúde da Palestina do Pará, lembrou como Paulinho foi importante para a população de camponeses da região do Araguaia. Ele apontou para a necessidade de dar continuidade aos três âmbitos da luta que ele sempre pautava: o resgate e registro da memória, o reconhecimento da perseguição política aos camponeses e indígenas e a localização dos desaparecidos políticos que lutaram durante os anos da ditadura militar.

Costa foi particularmente preciso em pontuar os momentos em que Paulinho teve presença marcante na fundação da ATGA, em 2005, no modo como ligou a entidade à Comissão Nacional da Anistia, em Brasília, em 2007, realizando em 2008 uma primeira grande audiência na região com a presença do estado brasileiro para ouvir os camponeses. Em 2009, 44 camponeses foram anistiados e indenizados. “Paulinho era essa pessoa que fazia a ligação entre nós e as autoridades, pois tinha essa capacidade de articulação”, disse.

Com o avanço do governo golpista, essa luta sofreu um forte abalo, em que camponeses são julgados e têm seu pedido de anistia indeferido. Paulinho desencadeou outros movimentos de anistia, como a dos indígenas e a dos recrutas do Araguaia, jovens torturados e usados pelo Exército para perseguir guerrilheiros. Costa ainda pontuou cada um dos filmes, documentários, peças de teatro, pesquisas e livros que vieram a público a partir do esforço de Paulinho em articular com artistas e pesquisadores o acesso a camponeses, militares e indígenas. Ambos se consideravam irmãos, por meio das parcerias que sempre empreenderam.

O coordenador estadual do MST, Ulisses Manaças, salientou, diante do clima tenebroso que vivem os acampados na região, que “celebrar a memória é afirmar o futuro”. Ele enfatizou com superlativos o respeito conquistado por Paulinho no MST, por ter defendido o movimento em todos os momentos mais difíceis que passou, desde os massacres até ao processo perverso de criminalização. “Paulinho foi um dos mais dignos representantes do nosso povo, porque convivia de maneira harmônica e democrática com os mais diversos companheiros das mais diversas organizações, sempre trazendo uma mensagem de alegria e combatividade”, afirmou Manaças, lembrando do convívio pessoal nos momentos de agruras.

Para ele, Paulinho foi um dos mais brilhantes oradores da sua geração, além da “figura humana gigantesca”. Ele citou o episódio, em 2005, em que Paulinho incitou o MST a ocupar terras de seu pai no distrito de Mosqueiro, próximo a Belém, que é hoje um assentamento que homenageia Paulo Fonteles. “Ele comprou briga com parte da família, diga-se de passagem”, declarou, acrescentando que a última vez em que viu Paulinho, foi na discussão sobre uma homenagem que se faria no assentamento, construindo um monumento a seu pai.

O reitor da Unifesspa, Maurílio Monteiro, enfatizou que considera que o legado deixado por Paulinho foi “a capacidade de unir pessoas dos mais diversos espectros políticos em torno de causas muito caras aos socialistas e democratas em geral”. O professor fala de sua admiração pela alegria e vigor com que Paulinho defendia sua atividade permanente em defesa da memória dos camponeses, sempre solicitando alguma ajuda para a empreitada. “Era maravilhosa a capacidade de se entregar a essas causas e assombrosa a capacidade de nos mobilizar em torno delas”, afirmou.

Ele ainda desejou que quer ver os servidores da Unifesspa que forem trabalhar no campus da Avenida Paulo Fonteles Filho, número um, saibam que têm um compromisso com a luta pela democracia e pela liberdade, pela qual muitos lutaram e deram a vida. Ele se refere a sugestão dada por ele para que a Câmara de Marabá aprovasse a mudança do nome da avenida em homenagem a Paulinho. Ele também enfatizou a importância do tombamento da Casa Azul como memória da violência da ditadura contra o povo da região.

A ex-governadora do Pará, Ana Júlia, homenageou a mãe de Paulinho por ter suportado tudo, desde o nascimento dele, as duras lutas do pai e do filho, e agora tem que suportar esta segunda morte. Ana Júlia destacou a luta pelos direitos humanos do povo paraense,  inscrita na pessoa de Paulinho. Ela mencionou o caso do assentamento Hugo Chávez, em vias de sofrer reintegração de posse à concessionários que jamais cumpriram suas obrigações com aquela terra pública. A continuidade da defesa dessas populações na luta pela terra é a melhor homenagem a Paulinho, na opinião dela.

José Marcos, da CTB-PA, emocionou-se ao lembrar que conhecia Paulinho desde os 30 dias de vida, como primos. Devido à condição de presos políticos dos pais, ambos moraram juntos, cuidados pela avó comum, e nunca mais se distanciaram. Ele destacou a preocupação do primo em defender o direito à festa e à felicidade para o povo, e não apenas ao trabalho. Para o sindicalista, Paulinho se foi no momento de sua maior produtividade política. “Com certeza, o Instituto Paulo Fonteles vai dar continuidade ao trabalho que ele vinha fazendo de reunir e tornar palpáveis as 60 mil páginas da história da luta pela terra e pelos direitos humanos no Pará”, declarou.

Jorge Lucas, da UJS, contou do caráter mobilizador de Paulinho ao se indignar com algo que merecesse protesto. Segundo ele, a última atividade de Paulinho foi num protesto contra a visita de uma liderança fascista e obscurantista à Belém. Já diagnosticado com pneumonia, discursou com dificuldade. “A luta de Paulinho sempre vai ser lembrada pela UJS e ele sempre será um marco em nossa vida”, disse Jorge, encerrando com o poema “Pesadelo” de Paulo César Pinheiro, que Paulinho costumava citar em seus discursos.

Para Lélio Costa, do Comitê Estadual PCdoB-PA, não é fácil para o Partido viver este momento. Ele alinhavou as lutas de Paulinho, que muito ensinaram aos outros militantes comunistas sobre a firmeza na luta de ideias e nas convicções, além de ter a resiliência de dialogar com os demais campos da luta política. Para Paulinho, os inimigos são de classe, enquanto os demais podem ser aliados se a democracia e a soberania estiverem no centro do debate.

Neste momento de golpe de estado, a lição de Paulinho continua viva: é preciso unir o povo brasileiro contra a regressão, ao desmonte dos direitos sociais e conquistas dos trabalhadores. “O maior legado que podemos dar a Paulinho Fonteles é continuar seu legado, sua luta, combater desigualdades e preconceitos e lutar por uma Brasil soberano”.

O vereador de Marabá e anfitrião, Gilson Dias, falou que Paulinho “não fazia falta na cidade”, porque estava sempre presente, mesmo residindo em Belém. O vereador contava com ele para muitas lutas, mas infelizmente, ele se foi. Ele ressaltou a unanimidade em torno da aprovação de seu projeto de dar nome à avenida de Marabá, pela importância que Paulinho impôs na vida política da cidade.

O amigo de Paulinho, Márcio Holanda, lembrou de momentos cômicos como aquele em que ele aparece com um carro cheio de ossadas do Araguaia para guardar em sua casa. Segundo ele, eram descobertas que revelavam a história e seriam enviadas no dia seguinte para a Unicamp, em São Paulo. “Paulinho era isso! Ele conseguia nos dar uma energia fora do comum. Éramos apaixonados por ele”, disse ele, ressaltando que foram três horas celebrando uma vida que poderia atravessar a noite por horas.

Homenagem

A avenida principal de acesso à Unidade III do Campus da Unifesspa em Marabá, no loteamento Cidade Jardim (Cidade Universitária), mudará de nome para homenagear Paulo Fonteles Filho. A proposta de alteração do nome, que já foi autorizada pela Câmara Municipal de Marabá, é de autoria do vereador Gilson Dias, do PCdoB, acolhendo uma sugestão apresentada pela Unifesspa.

Paulo Fonteles Filho foi um importante defensor e ativista dos Direitos Humanos no Estado, incansável na defesa da Memória, Verdade e Justiça para as vítimas da Ditadura Militar na região do Araguaia, comprometido com lutas populares na Amazônia e um importante parceiro da construção da universidade na Região.

“Com esta ação reafirmamos o compromisso que Paulo Fonteles Filho tinha com a Universidade, que foi um parceiro da instituição, sempre envolvido nas lutas sociais. Esperamos que seja aprovado em plenário para consolidação do nome da avenida, homenageando esta importante personalidade da nossa história, afirmou o vereador.  

A exemplo desta iniciativa, outros nomes de ruas e logradouros poderão ser modificados no bairro. Um projeto da Unifesspa tem fomentado o debate sobre o tema, refletindo sobre a necessidade de identificação regional para os nomes de lugares. O objetivo do projeto intitulado “Identidade tem nome” é redenominar a cidade com nomes que dialoguem com a cultura e identidades locais, respeitando a opinião e desejo de quem mora e trabalha nessas localidades.

“Com a preocupação de fomentar elementos de identidade para o bairro, a ideia é propor uma nova redenominação das ruas, avenidas e do próprio bairro como forma de privilegiar a memória como um exercício da cidadania ativa, que vai além de denominar a rua em si, mas que esses nomes tenham sentidos e significados na construção de uma identidade do lugar”, adiantou o reitor da Unifesspa, Prof. Dr. Maurílio de Abreu Monteiro. 

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Com informações do Portal Vermelho.