O documento, que teve o primeiro lançamento no último dia 20 de fevereiro, em Brasília, foi desenvolvido pelas fundações Maurício Grabois (PCdoB), Perseu Abramo (PT), Alberto Pasqualini-Leonel Brizola (PDT) e Lauro Campos (PSOL). A vice-presidente nacional do PDT, Miguelina Vecchio, representou a Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini e Edson Carneiro, o Índio, representou a Fundação Lauro Campos, além de Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo. A ex-vereadora de Salvador, Olívia Santana, conduziu o evento em que Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois (FMG), abriu o debate de lançamento com uma apresentação do manifesto, que, segundo ele, é um “ponto de partida” para o debate entre as forças progressistas.

Renato explicou que o cenário político conturbado que o Brasil vive colocou as fundações diante de um grande desafio: “superar a grave e perigosa crise e ter um projeto de reconstrução do Brasil”. O documento representa, então, segundo ele, “um esforço comum em busca de uma base programática convergente”, uma espécie de novo Projeto Nacional de Desenvolvimento.

“Um projeto que dê conta dos dilemas atuais. É como um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento mais sistêmico, articulado, tendo como centro convergente os novos desafios nacionais. Alia progresso social e democracia; relaciona um Estado nacional forte, popular produtivista, soberano”, afirmou o presidente da Grabois.

Ainda segundo Renato Rabelo, com a proximidade das eleições, o manifesto serve, também, como um compromisso eleitoral dos quatro partidos envolvidos. “Seria um pacto eleitoral também, no primeiro ou segundo turno. É um trabalho coletivo, que é um ponto de partida, aberto ao diálogo, à discussão. Não acreditamos que seja um documento completo, mas tivemos que dar o primeiro passo”.

Na ocasião, Renato também analisou o cenário internacional, e criticou a hegemonia que o capitalismo tem do capital financeiro global, pelo que provoca a imposição da globalização neoliberal e uma nova ordem neocolonial. Essa nova ordem colonial, de acordo com ele, visa impedir o desenvolvimento autônomo de países como o Brasil, que tem se rendido a ela, com o governo do presidente Michel Temer.

“A ordem do governo Temer está atrelada à subordinação ao neoliberalismo e ao domínio neocolonial. As medidas todas são ultraliberais. O governo rompeu o pacto constitucional de 1988, provocando uma ruptura com pactos democráticos. Nunca se viveu um retrocesso tão grande em tão pouco tempo. Cresce o estado de exceção e a Nação está diante de uma encruzilhada”, analisou Renato.

União ideológica

O presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Porchmann, reforçou as críticas ao governo Temer, e lembrou que o Brasil não tem uma tradição democrática, apenas algumas experiências democráticas que são exceção à regra. O manifesto é importante, segundo ele, para perseguir a retomada da democracia no Brasil, o que exige abandonar velhas táticas e apostar em união ideológica.

“A mudança de rumo histórico exige, portanto, uma saída fora das saídas tradicionais. O papel dos partidos políticos é dar esperança ao povo. Esse manifesto é um primeiro passo, e pode ser o último.  Para superar esse momento de tragédia, só a nossa união, a nossa organização, o nosso comando. Temos a certeza que esse projeto que está aí [de Temer] não representa o povo”.

Homenagem a Marielle

O lançamento do manifesto também prestou uma homenagem a Marielle Franco, vereadora do PSOL no Rio de Janeiro, assassinada na última quarta-feira (14), junto com o motorista. Os participantes do encontro fizeram um minuto de silêncio em memória dos mortos, e condenaram a onda fascista que assola o país.  

O representante da Fundação Lauro Campos, Edson Carneiro, que é do PSOL, defendeu a unidade das forças progressistas, também, como um meio de conter o fascismo. “Nós estamos diante de uma situação muito grave e nós, os movimentos sociais e os partidos de esquerda, temos que criar essa ponte e debater, ainda que com as nossas diferenças”, disse.

Renato Rabelo transmitiu solidariedade ao PSOL em nome do PCdoB e acrescentou que, com a tragédia, Marielle Franco se torna um símbolo da luta desses novos e difíceis tempos no Brasil. “Essa companheira é uma mártir da nossa luta, da luta dos que não têm voz”.

Eleições com Lula

O lançamento também serviu para os partidos reafirmarem a defesa do direito do ex-presidente Lula (PT) se candidatar nas eleições deste ano, apesar de cada uma das legendas possuir os próprios pré-candidatos à presidência da República: Manuela D’Ávila (PCdoB), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL). Para Renato Rabelo, eleições sem Lula são uma agressão à soberania do voto popular. “Querem impor as condições deles [os adversários] para ir para as eleições”.

O apoio ao registro da candidatura de Lula deve ser mais uma manifestação da unidade dos setores progressistas, e uma demonstração da necessidade da luta eleitoral agregar amplos setores, segundo o presidente da Grabois. “Encarar esse grande desafio requer ampliar essa resistência e aglutinar forças. Precisamos aglutinar amplas forças econômicas, culturais e sociais”.

Construção

Miguelina Vecchio, representante da Fundação Alberto Pasqualini-Leonel Brizola, lembrou que o documento é uma construção e está aberto às contribuições, de modo a torná-lo afinado com os anseios populares. “É preciso ampliar o manifesto, para que contemple ainda mais as necessidades do povo brasileiro, especialmente para as mulheres. Essas mudanças que a gente tem propugnado, temos que começar a fazer pelos coletivos, de mulheres e de todas as naturezas”, finalizou.

A íntegra do manifesto ‘Unidade para Reconstruir o Brasil’ pode ser lida AQUI.

 

Público do lançamento do manifesto Unidade para Reconstruir o Brasil (Foto: Adalberto Monteiro)