O jornalista Leonardo Attuch participou do debate do Observatório da Democracia, observando que havia a ilusão que as plataformas de redes sociais fossem neutras, e viu-se que não são, têm viés e atendem interesses econômicos. “Por outro lado, muitos se tornaram empresários no campo da comunicação e tiveram espaço pra se desenvolver com sua própria narrativa. Ao mesmo tempo, existe uma ampliação da democracia mesmo não sendo um ambiente de total neutralidade”, acredita ele.

Attuch relata que sempre quis ter um veículo de comunicação, mas acreditava que era preciso ser milionário ou ter esquemas políticos e financeiros pra isso. Ele mencionou o caso do jornalista Samuel Wainer, que conseguiu com suas conexões políticas no governo do Getúlio Vargas, que abriu linha de crédito e permitiu fundar seu Última Hora. “Mas é muito difícil um jornalista se tornar empresário na comunicação”.

A vantagem da internet, na opinião dele, foi romper a barreira de entrada. A barreira de entrada era a necessidade de um capital gigantesco.

Attuch observa na evolução da tecnologia da informação, que, quando as tecnologias portáteis avançaram, já era possível antever um declínio do jornalismo impresso.

Pelas redes sociais, passou a haver uma capacidade de distribuição formidável. Ficou mais barato produzir e distribuir a informação. “Hoje, sinto que a gente é muito vulnerável aos algoritmos. Você nunca vai entender o critério que te coloca no fim da fila de uma busca no Google. As redes sociais também definem se você tem autoridade como meio de comunicação para ser distribuído, sem que você tenha qualquer controle sobre isso. Isto vai te expondo à falta de neutralidade dessas ferramentas”, falou ele, como comunicador.

Ele acredita que veículos de imprensa independente têm que reforçar a vinculação com o público. “Sabemos que o sistema não quer uma narrativa contra-hegemônica”, disse ele, referindo-se ao conteúdo ideologicamente mais aberto de seu portal.

Ele acredita que tem algo muito bom em criar novos veículos de comunicação, mas existe também uma tentativa de controle da circulação da informação que ficou claro nos últimos anos.

“O gabinete do ódio tem como objetivo destruir o discurso. A esquerda opera com a dialética e a argumentação. Quando o debate parte para o xingamento, para o linchamento do adversário, ele exclui não apenas a esquerda, como a direita civilizada”, analisou.

Mas Attuch defende que o campo progressista poderia ter feito coisas que a extrema direita fez nas redes, como por exemplo estimular novos comunicadores, “algo que o Bolsonaro fez com muita inteligência”. Se alguém fazia um vídeo defendendo um ponto de vista, eles propagavam e amplificavam. Gente com pouco alcance era incentivada a entrar para a rede bolsonarista e passavam a ser remunerados pelas plataformas.

Ele tenta pensar um exemplo de como isso se daria, embora não tenha segurança da mecânica disto. Empresários do gabinete do ódio patrocinavam buscas relacionadas a Luladrão. Isso criava um incentivo para youtubers colocar no título de seus vídeos Luladrão. “Então, há uma combinação de dinheiro entrando na plataforma para esse viés de direita, e tem candidatos estimulando comunicadores anônimos para fazer esse discurso sendo remunerados por isso”, concluiu.

A esquerda, no entanto, ele observa ser mais cautelosa em relação a essa estratégia. “Porque vou abraçar esse youtuber da Paraíba que faz um conteúdo favorável a mim. Será que ele é do nosso campo?”, indaga. A direita, para isso, é mais pragmática, embora ele admita que “não dá para a esquerda competir com a mamadeira erótica da direita”, repetindo a estratégia da mentira. “Mas daria para costurar redes mais eficientes”.

Ele critica o fato de muitos parlamentares do campo progressista preferirem endossar um fato a partir da imprensa tradicional, porque consideram respeitável, do que retuitar o Brasil 247 ou a Forum. “Temos cada vez mais jornalistas respeitáveis no campo da mídia independente, assim como fontes e comentaristas melhores do que a Globonews, modéstia à parte”.

Sobre regulação das redes, ele contou que estava acompanhando com atenção o debate da, então candidata a Presidência dos EUA, Elizabeth Warren, que falava em quebrar as empresas de tecnologia em grupos separados, porque tem muito controle da informação em poucas mãos. Ele mencionou também a presidenta Dilma Rousseff ao falar que, nunca na história, tanta informação esteve nas mãos de tão poucas pessoas. Enquanto Zuckerberg tem Facebook, Instagram e WhatsApp, o Google controla o Youtube, duas plataformas fundamentais para monetização de conteúdo.

Attuch disse que assistiu um especialista em tecnologia que dizia que o código de busca deveria ser neutro. O Google deveria compartilhar seu código entre várias empresas para gerar competição nas buscas. “Não que deveria haver vários sistemas de busca alternativa, mas que o código de busca do Google fosse um bem público”, sugeriu.

Ele também defendeu que fake news e discurso de ódio deveriam ter uma regulação própria, pois ele acha que não estão no campo da comunicação. “Para proteger as pessoas que são muito vulneráveis à mentira”, justificou.

Outro assunto que ele considera importante neste tema é a comunicação pública, incentivada desde o Governo Lula e desmontada desde o golpe com Michel Temer. “Os governos deveriam fazer uma defesa contundente da comunicação pública. A Agência Brasil era uma agência de notícias e agora é só propaganda. As pessoas têm direito à informação pública”.

Os comentários de Attuch fazem parte do debate ocorrido, nesta quinta-feira (28), promovido pelo Observatório da Democracia, sob o ciclo Diálogos, Vida e Democracia, com o tema Jornalismo, Comunicação e Política nas Redes Sociais. O Observatório da Democracia reúne as fundações Maurício Grabois, Perseu Abramo, Leonel Brizola-Alberto Paschoalini, João Mangabeira, Lauro Campos e Marielle Franco, Claudio Campos, Ordem Social e Astrojildo Pereira.

O debate teve a mediação da jornalista Renata Mielli, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, acompanhado dos convidados Sergio Denicoli, diretor da AP Exata – Inteligência em Comunicação Digital, e Renato Rovai, jornalista e diretor de redação da Revista Forum.