Quem é que já tendo lido algum livro não teve vontade de continuar a estória ou colocar a sua versão? E Assim é que decidi utilizar o argumento de O Cobrador de Rubem Fonseca.

      Está o cobrador espreitando o desembarque e, quando desce a comitiva do FMI, ele agarra um gringo branquelo, encosta o canhão na cabeça do peste e diz: "Vamo lá! diz aí pro seus cupinchas que eu quero resolver a vida dos meninos da ladeira da memória. Quero todos com casa, comida e dinheiro no bolso, e não é pra daqui uns anos não, é pra já!"

      A essa altura, o gringo está com o cu apertado pra não se cagar. E, como é de se esperar, logo o mundo fica coalhado de policia, porque sempre tem policia aos montes quando tem algum bacana envolvido. Mas o cobrador não quer virar celebridade e acabar numa sela com TV, nem lhe interessa mais dentista, nem buceta, assim, num segundo, manda o gringo direto pro inferno e, é claro, morre alvejado logo em seguida sem mudar o rumo da história.

      E o Brasil continua pagando a divida externa com o sofrimento do povo, a televisão e os jornais ganhando dinheiro às custas das tragédias humanas, os meninos da ladeira da memória continuam cheirando a mesma alegria perversa, os policiais comendo coxinhas encostados no balcão e as pessoas que saem a procura de emprego, lendo as notícias penduradas na banca de jornal, e, um alguém anotando o nome do cobrador… pra botar no filho que vai nascer.