Em exposição no Museu de Arte de Goiânia uma mostra retrospectiva de 40 anos de exposição de Sanatan, intitulada “Mergulho visual no Encantado”. Tem sido a exposição mais visitada de quantas o MAG já realizou em sua trajetória – quem a vê deslumbra-se, fica encantado. Exclamações de deslumbre são colocadas no livro de registro, por parte de estudantes, pessoas do povo, e artistas renomados. De fato, ele é um pintor que reeduca a sensibilidade anestesiada devolvendo a quem contempla suas telas o sentido da beleza, o êxtase perante as formas, ritmos e cores da natureza.

      Sanatan não imita ninguém – e ninguém poderia imitá-lo, mesmo querendo, pelo simples fato de que sua técnica apurada não vem só de sua habilidade como pintor, mas de um dom profundo e autêntico, nascido de sua alma, seu espírito criador. Amaury Menezes, um dos artistas que visitaram a exposição, deixou um registro: “Como é bom apreciar as telas de um pintor que sabe pintar”. Palavras que têm peso, vindas de um que também alcançou a maestria em sua arte. Impossível não nos comovermos ante o esplendor e a maravilha de suas telas. Despertam ou exaltam no contemplador o sentido da beleza, o sentimento de reverência a tudo o que vive, o chamado para a comunhão.

      O jornalista e ambientalista Whashington Novaes, assinala, em texto de apresentação do catálogo: “Não é por acaso que Sanatan seja uma pessoa tão apaixonada pelo cerrado, como mais uma vez demonstra a exposição comemorativa de seus 40 anos como artista. Foi num lugar chamado Morro da Baleia, na Chapada dos Veadeiros, que ele teve, há quase quatro décadas, a primeira de suas visões premonitórias, em que viu o rosto do indiano que se tornaria seu mestre. Correu atrás da visão. E após uma série de coincidências, encontrou-se na rodoviária de Brasília com um amigo que lhe recomendou procurar um mestre, na Colômbia. Este, apontando-lhe uma fotografia na parede, disse-lhe para procura-lo num mosteiro á margem do Ganges, na Índia, onde Buda se iluminou. E foi lá que Sanatan deu seqüência à sua formação espiritual, que o levaria a tornar-se também um monge e mestre também”.

      Escrevi no catálogo desta mostra, que para Sanatan, o tipo de artista que faz concessão aos modismos ou à trivialidade do mercado de consumo passa a ser consumido como produto: perde sua identidade como artista. Sendo um peregrino defensor do cerrado, o rico e frágil bioma que vem sendo devastado, para engordar os lucros da insensatez, ele sente que, se a guerra de destruição não for contida, dentro de poucos anos essa riqueza não renovável, herança de milênios, do planeta Gaia, deixará de existir. Magníficas paisagens saem de seus pincéis, com a naturalidade com que a água cristalina brota da fonte. E por retratar o belo da última pátria do cerrado respeitando a sua pureza, ele se torna um artista universal. A paisagem é a sua partitura, ele tem o dom de fazer renascer a sensibilidade anestesiada por um mundo acostumado à feiúra e á brutalidade. E talvez por isto é de urgência urgentíssima abrir os olhos e ver, nas telas de Sanatan, ou em harmonioso convívio, o magnífico cenário deste paraíso ameaçado.

 Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.