No embalo da sacola
sacode o coração
por aquele vestidinho macio
contrário da máquina e do brutalhão.

Sim, ali vai toda perfeita
com a silhueta cheia
e a cintura estreita,
fazendo tapete do chão

No bar, a vista acompanha
a total ignorância
de quem vai,
e não tendo,
conhecendo a sanha,
pensa mal e dia um sai.

Então vem a cachaça,
soma de cansaço, submissão,
desistência e ódio,
jogando minério de alcool
no forno estomacal.

E quando o dia se acaba
lá vai junto o operário
sem rosto, sem gosto,
escondido da vida,
para sua casa tosca.

Fotos da mãe na parede,
vizinho de planta de plástico,
café aguado e morno.

Oh, amor de oprimido,
ejaculado num banheiro em construção,
com o sexo arrebentado
por uma secretarinha
de nariz arrebitado.