– Marineide, quêde minha escova?

      – Oxente. E não taí na pia?

      – Tivesse, eu tava perguntando?

      – Deixe de sê grosso, Elia. Custa muito sê educado, é? Pois olhe a escova aqui, seu entojado.

      – Olhe como você fala comigo, Marinêêide… Olhe como você fala comigo.

      – Espie pra isso! Tá pensando que tenho medo de você, é? Pois um fute que tenho!

      – Arrepare o atrevimento: logo em jejum, nem lavou a cara, já tá me desfeiteando!

      – Mané enfeitando, dando, ando! Quem começou com rudeza fui eu não, rapaz! Deixa suas coisas por aí, quando acabá vem praqui com suas grossura. Já ando é por aqui com esses seus coice, visse.

      – Tá gostando do pirão não, nêga?, pegue o caminho da roça!

      – Mas olhe só préssa cara lisa! Você me tira da casa de meu pai, me traz prêsse fim de mundo, se deita mais eu naquela rede que mãínha mesmo quem fez e agora quer me mandar desonrada de volta?! Pois fique sabendo, seu Elia, que subiu na canoa, tem que remar, meu filho.

      – Canoa… canoa… E desde quando um vaso de guerra feito tu é canoa?

      Ninguém sabe; ninguém viu. Mas, manhã raiada, Elia aparece na bodega, boca inchada, banguela.
      
      – Que foi isso, Elia?

      – Caí no banheiro, de borco, escovando os dente…

      – É nada, seu Marinho! – grita, de passagem, dona Inácia, vizinha do casal parede-meia – Isso foi é batalha naval!

      Por sob risos e apupos, Elia, derrotado, abandona a arena.