(Cantiga de roda)

Ó pássaro traz-me o meu filho
que o sol vai desaparecendo
mualeba kuleba
pássaro que vais esvoaçando
com o sol que vai desaparecendo
longe, tão longe
Kumbi dia kinjila!

Desce dos ares, desce à terra
ave grande
traz-me o meu filho
são horas, o sol vai desaparecendo
mualeba kuleba.

Já trabalhei ó pássaro
já cansei
varri a casa
acendi o lume
cozinhei
já zuquei no meu pilão
traz-me já o meu filho ó pássaro
que o sol vai desaparecendo
Kumbi dia kinjila!

Ó pássaro
o sol vai morrendo
mualeba kuleba
e hoje ganhei o meu dia
já cansei
já capinei, lavrei
já fui acarretar água
tenho a casa limpa
recolhi a criação
cumpri os meus deveres
o sol vai morrendo
são horas de ir descansar
traz-me o meu filho ó pássaro
o kinjila ki-ngi-bekele mona!

Anda, dá-me já o meu filho
são horas
Kumbi dia kinjila
longe tão longe…

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– minha negra, que pedes o filho ao pássaro
olha o teu homem
que vem cansado da tonga
dá-me um seio
tens dois – deixa ao teu filho o outro
que o sol já vai morrendo
mualeba kuleba
longe, tão longe
Kumbi dia kinjila!

 

Poesia Africana de Língua Portuguesa (Antologia)
Maria Alexandre Dáskalos, Livia Apa, Arlindo Barbeitos
Lacerda Editores – edição 2003