Ela entrou, esfuziante. Do cantinho do bar, eu a observei abraçar a todos, dar risadas, pedir um drinque qualquer e sentar-se de pernas cruzadas e cruzadas de novo. Só ela sabia enroscar as pernas assim.   Tinha essa energia que deixava tudo com cara de sábado à noite. Era sábado à noite, mas não dentro de mim.

      Nos meus interiores, devia ser segunda-feira pela quinta vez na semana. Um cansaço tão grande, um desânimo maior que o lusco-fusco e uma sensação de não haver nenhum lugar no mundo que fosse adequado para mim. Para nós, eu e minha infelicidade latente.

      Enquanto ela gesticulava, a boca dançando nas palavras que eu tentava decifrar, minha testa era só aborrecimentos e eu não queria mais guardar tudo aquilo. Precisava ir até seu pescoço e fazer-lhe arrepios. Não, aliás, precisava ir até sua retina, seus miolos, seus segredos, e compreender o que a deixa assim – incrivelmente serena.

      Eu, desajeitado, quase-bêbado, talvez não fosse mais capaz de provocar-lhe vertigens. Isso não seria fácil de suportar. Quem sabe ela me olhasse com naturalidade e soltasse um sorriso despretensioso…. Seria a morte. E aquele não era ambiente para suicídios.

      Mas se eu já estava ali à mingua, à margem da composição noite-feliz em preto e branco, não me restava mais nada, a não ser levantar-me e seguir meu próprio olhar. Quando atravessei mesas, burburinhos, solidões e cumplicidades, já me sentia um herói. Muita gente entre nós, já não conseguia avistá-la, mas ainda ouvia sua voz. Um garçom cruzou meu trajeto, me distraí e, quando notei, ela não estava mais ali.

      Não. Estava aqui, à minha frente. E, sim, ela sorriu despretensiosamente e eu morri. Não antes que ela me abraçasse, roçasse seus lábios em minha orelha e me pedisse para não ir para casa sem ela. Depois saiu, voltou para sua mesa, olhou-me cheia de promessas. E eu permaneci inerte alguns instantes. Como alguém poderia ser assim, tão simples?