"Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás" (Che)
 
                       

Ao companheiro Luiz José da Cunha ("Criolo"),
                        assassinado em julho de 1973.
 
 
 

Há nesta cidade uma oficina.
Há nesta noite uma oficina.
Os ferreiros são apenas sombras,
na hora tardia dos encontros.
 
Reter a palavra quando o gesto é possível.
Descer a rua como a bruma sobre o mar.
O vigia não perceba mais que o vento,
um sereno mais intenso.
 
Há neste país uma oficina.
Há uma oficina na América.
Percebemos daqui o martelar das ordens:
recortar no aço o rosto dos ferreiros,
 
a mão taciturna dos ferreiros.
Trabalhar no ferro a vontade
dos escolhidos, a alma retificada
na dor, a crença que resistiu purificada.
 
Há na madrugada uma ofcinia.
Há no sangue do povo uma oficina
de reservas infinitas,
que se reconstrói a cada minuto.
 
Você, companheiro, encontre os homens
que labutam na forja
e diz a eles por mim:
não malhem na bigorna sem ternura.

 

poema escrito em 1973 para lembrar um companheiro assassinado