Era dezembro, último dia de aula,

Estridência de gritos,

Correria pelas escadas.

Todos tontos de alegria,

Chegava ao fim o Primário.

Eu pulava e corria com eles,

Pura falsidade minha,

Pois chorava por dentro,

Porque eu os amava

E jamais voltaria a vê-los.

Agora, pela frente

Um famigerado “exame de admissão”,

Uma espécie de vestibular para o Ginásio.

E nos dispersaríamos

Igual a um bando de periquitos que se espalha

Na imensidão do azul

Pelo estrondo de uma espingarda…

 

Por que pulavam, por que tanta alegria

Se a vida iria nos separar definitivamente?

Por um instante, tive raiva de todos,

Certamente, só eu os amava,

Só eu os considerava irmãos, irmãs,

Só eu os teria para sempre no meu coração,

Só eu os teria na minha memória,

Em que fila, em que cadeira cada um sentava,

Os quietos, os tresloucados,

Os alegres e os cabisbaixos,

Os sabichões, os medianos e os atrasados.

Todos igualmente amados por mim.

 

 

Underwood Archives

Só me consolei um pouco

Quando, conforme era o costume,

Começamos a assinar no branco algodão

Da farda da Escola Pública.

– João, assina na minha!

– Malu, deixa eu escrever…

 

Uma lágrima escorria no meu rosto

E alguém viu.

Mas, eufórico, pulando como um macaco,

Disse que era suor.

 

(Foto: Underwood Archives)

Monteiro, Adalberto

Pé de Ferro & Outros Poemas

São Paulo > Fundação Maurício Grabois; Anita Garibaldi, 2017