Uma vez mais, no início de dezembro, o governador Alckmin recorreu ao argumento da força, lançando tropas de choque da PM contra a juventude estudantil, que se mobilizara para denunciar a chamada “reorganização” das escolas da rede pública. Mais do que de hipocrisia, é preciso dose cavalar de desfaçatez para dar esse nome ao fechamento sumário de noventa e quatro unidades de ensino, completado pela supressão, em 754 outros estabelecimentos estaduais, de um dos dois ciclos de ensino que eles até então ofereciam (fundamental e médio). Trata-se, pois, de uma vasta desorganização do ensino público, imposta burocraticamente, sem explicação nem conversa, que veio transtornar a vida de cerca de trezentos e onze mil estudantes. Para o PSDB, principal agência brasileira do “Consenso de Washington”, reduzir as despesas sociais do Estado é a melhor maneira de enxugar o orçamento. O resto é com a PM. 

Alckmin é um reincidente em matéria de brutalidade policial contra populações pobres. Entre seus feitos bélicos à frente do governo de São Paulo está a desocupação do loteamento comunitário do Pinheirinho em janeiro de 2012. Cerca de trezentas famílias de sem teto nem terra se tinham instalado nos anos anteriores. Para garantir a reintegração de posse a favor do milionário salafrário Nagi Nahas, uma expedição de dois mil policiais militares, apoiada pela guarda civil municipal de São José dos Campos, e acompanhada de um destacamento quadrúpede de quarenta cães e cem cavalos e reforçada por helicópteros, blindados e outros veículos (cerca de 220 no total), invadiu o bairro no dia 22 daquele mês disparando bombas de gás e balas de borracha. Cenas de mães e crianças espavoridas suscitaram forte impacto em âmbito nacional, com repercussões internacionais.
Não deixando passar oportunidade para baixar mão pesada contra movimentos populares, o governador açulou a PM contra cerca de cinco mil manifestantes que, no dia 10 de junho de 2013, pediam a revogação de um aumento do preço da passagem dos ônibus urbanos. Uma reivindicação justa, que conduziu a uma vasta mobilização articulada pelo Movimento Passe Livre de São Paulo. Os relatos e imagens da estupidez policial levaram cerca de 22.000 manifestantes às ruas, no dia 13, em solidariedade aos agredidos e em defesa do direito imprescritível de se reunir para reivindicar. Eles caminhavam rumo à Avenida Paulista clamando “Sem violência!” quando foram cercados pela tropa de choque da Polícia Militar, que chegou atirando as costumeiras bombas de gás e balas de borracha e prendendo quem vestia camisetas de partidos de esquerda ou de movimentos sociais.  
No mesmo momento em que açulava sua polícia contra os estudantes, Alckmin implementava, longe do alarde das ruas, outro importante aspecto de sua política educacional. No dia 14 de junho de 2013, o Diário Oficial do Estado anunciou a compra de 5.200 assinaturas semestrais da revista Veja pelo preço de R$ 669.240,00, para serem distribuídas nas escolas da rede pública.

Como consta do “Extrato de Contrato” acima reproduzido, a conta foi paga pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação, órgão do governo estadual. Portanto, como costumam dizer os coxinhas quando se trata de criticar os gastos sociais do governo federal, é com o dinheiro dos contribuintes, com nosso dinheiro, que Alckmin promove a intoxicação mental dos alunos das escolas públicas paulistas. Os critérios pedagógicos que o inspiram provêm de sua formação e militância na Opus Dei, seita clérico-fascista fundada pelo padre Josemaría Escrivá, que foi assessor espiritual do generalíssimo Franco (o carniceiro da República Espanhola). A linha editorial de Veja segue a mesma inspiração. A única diferença, em relação ao facho-franquismo é que este tinha um componente nacionalista, ao passo que a revista da famiglia Civita é abertamente pro-imperialista.

JQM