LEOCIR COSTA ROSA

Meus amigos, rapidamente, a gente vai passar a palavra, inicialmente, aqui para o Walter Sorrentino, e depois para o Aldo. Só queria dizer, mais uma vez, reitero aqui que essa atividade está sendo transmitida pelo portal Grabois e pelo portal Vermelho. E também pela página do facebook. Através da página do facebook é possível ter uma interação com o público, é possível formular questões. E, na medida do possível, nós vamos nos organizar aqui para que a mesa possa responder. Inicialmente, cada expositor terá 25 minutos a 30 minutos. Aí repassaremos aqui, abriremos para 30 minutos de perguntas e volta para dez minutos, aqui, dez minutos a 15 minutos para os expositores finalizarem as suas falas.

Eu queria, antes aqui de passar a palavra para o Walter, dar um destaque aqui, mais um lançamento da Fundação Maurício Grabois e Editora Anita Garibaldi. É um livro, do Aldo Arantes, “Reforma Política e um Novo Projeto para o País”, onde o Aldo traça aqui essa batalha que foi a luta pela reforma política democrática. Há um capítulo importante da história do Brasil, que é a luta pela reforma política democrática. Infelizmente, vivemos aí uma quadra de restrição de direitos, direitos civis, direitos econômicos e direitos políticos. Então, não podemos deixar de colocar a importância desse debate sobre a reforma política nesse contexto. Um contexto de retrocesso, de governo ilegítimo, de crise política e de crise econômica. Então, o livro pode ser adquirido aqui, quem estiver presente. Pela internet, através do site da editora Anita Garibaldi, ou da Fundação Maurício Grabois.

Então, eu passo aqui a palavra e agradeço aqui a presença do Walter, agradeço a presença do Aldo. E passo aqui a palavra ao Walter Sorrentino para as suas considerações.

WALTER SORRENTINO

Boa noite a todas, a todos. Aldo Arantes, saudações. É um prazer discutir aqui o assunto com o Aldo, que há mais de 20 anos enfrenta o tema como um dos condutores da resistência democrática para uma pretendida reforma política. Em primeiro lugar, companheiros, o meu sentimento, que eu creio ser o da maioria, é que a gente não encontra palavras para expressar a perda de Fidel Castro.

É um tipo de situação no qual as pessoas têm mais sentimento do que o que conseguem expressar. A gente não encontra as palavras por que se trata, certamente, de um dos maiores estadistas do século XX, comparado aos grandes que vieram do pós-guerra, do ponto de vista político. Comparado ao papa João Paulo II, independente do rumo político. E é um dos grandes nomes do século XX, mas é um dos grandes nomes marxistas e leninistas, revolucionário, patriota.  Antiimperialista consequente, sem o qual Cuba e América Latina não poderiam ostentar essa chama revolucionária, que como disse o Leo, aqui, formou e forma gerações inteiras de jovens, que somos nós, hoje. Mas, felizmente, também os jovens atuais, com ele e com Che Guevara.

O Consulado de Cuba em São Paulo, que fica na rua Cardoso de Almeida, abriu, hoje, a recepção e adesões a condolências, na embaixada e no consulado, onde se pode assinar o livro de condolências. Vocês todos estão convidados. Quem puder, sobretudo quem representa entidades sociais, entidades políticas e organizativas, seria muito bom.

Em segundo lugar, sim. Me vem a mente isso. Quem navega, no mar não tem estradas. Quem navega no mar precisa estar de olho, porque tem pedras, icebergs e não pode se chocar, mas precisa olhar para cima. Para frente e para cima, porque se guia pelas estrelas. Isso desde tempos imemoriais. Os homens se guiam pelas estrelas. E gente como Fidel Castro, é isso. Se transforma numa nova estrela, luminosa, no firmamento político, que haverá de guiar ainda por muitos anos, por muitas décadas, pelo advento de uma nova sociedade socialista, da qual nós todos somos tributários. Então, Fidel Castro vive na nossa memória e vive no nosso ideal.

Em segundo lugar, agradecer aqui o convite. Embora eu não vim aqui para debater o tema, porque o tema será muito bem tratado por Aldo Arantes que, como eu disse, acompanha, há décadas, essa luta. Eu vou apenas tentar emoldurar algumas questões, rapidamente, no tempo previsto e dar a palavra para o Aldo. E, antes de começar, vocês me permitam, fazer saudações palestrinas, porque fomos campeões brasileiros e acho que até os corintianos iriam se orgulhar dessa vitória (risos).

Bem companheiros, nós todos sabemos, é claríssimo, que nós vivemos uma nova fase na vida política de um país, econômica, social, que é uma fase dura, difícil, que demanda tempo para ser digerida e poder apontar para novas perspectivas da esquerda e do povo brasileiro, das forças progressistas. Que demanda uma enorme mobilização política do povo brasileiro, aglutinando forças.

É uma fase na qual o país e o povo estão sangrando. Na essência, a realidade é de tentativa de impor uma nova ordem política e social no nosso país, como disse Renato Rabelo, no ciclo anterior, e essa nova ordem política e social exige o desmanche da Constituição de 1988, dos seus aspectos essenciais. O desmanche da norma democrática. Qual seja, a soberania popular pelo voto, já que o impeachment foi uma violência indescritível contra essa norma.

Um desmanche dos interesses nacionais, que atinge as empresas nacionais, que atinge as empresas de engenharia nacional, por conta da Lava Jato, mas atinge a Constituição. O regime de partilha, o papel do monopólio que tem a Petrobras. E, fundamentalmente, atinge os direitos do cidadão e os deveres do Estado, que eram uma das principais marcas, é uma das principais marcas da Constituição, fruto da nossa luta contra a ditadura, da organização e mobilização popular. A PEC 241 (55), a reforma previdenciária, a reforma trabalhista, tudo isso implica em mudanças constitucionais, que eles apregoam aos quatro ventos.

Inesperadamente, atinge também o próprio pacto federativo, que é uma questão menos clara do que significa para a vida do povo, mas é uma coisa tremendamente importante para a república e para os fundamentos constitucionais. Porque você hoje vive não apenas uma crise econômica, mas também uma crise fiscal, sobretudo nos estados e municípios, que vão se suceder agora num tormento. O Rio de Janeiro já está em falência, o Rio Grande do Sul, idem. Paraná já entrou nessa rota. São Paulo, de Alckmin, já está sentindo esses efeitos. E quando esse tipo de coisa vem, ela vem que nem um dominó. É que nem um tsunami. Evidentemente, quem sofre isso são os munícipes: saúde, educação, emprego.

E, talvez por isso mesmo, por causa da violência dessa tentativa, o país está mergulhado numa crise política de grandes proporções, acompanhada de uma crise institucional dentro de vários poderes e em um choque de vários poderes, principalmente Judiciário e Legislativo, porque se politizou a atividade judiciária e se partidarizou o Judiciário. E se judicializou a política; a política crime. A tentativa é de criminalizar todo o sistema político e não apenas os corruptos.

Nessa crise, companheiros, vão avançando, claramente, medidas de estado de exceção, no seio do estado democrático de direito e não resolve a crise econômica. Ao contrário, ela não tem perspectiva de saída, tende a se agravar, porque as medidas tomadas aprofundam a recessão. Esse ano já foi revisado, agora vai para 3,5% ou 3,7% de decréscimo do PIB, crescimento negativo. O ano que vem também já foi revisado para baixo. Por quê? Porque as medidas ultraliberais não apontam para maior confiança, como eles esperavam: vai retomar a confiança, os investimentos vem, se retoma a atividade econômica. Não, ao contrário.

O país vive uma grande situação de desmanche. O governo vive também uma situação de desmanche. Eu não vou entrar nisso mas, é evidente que isso ocorre num quadro mundial também piorado. Para o Brasil e para os pobres. Porque a crise econômica e financeira capitalista não tem perspectivas de saída. As forças de direita vão empalmando o ressentimento popular, as saídas não estão vindo pelo lado progressista. Estão vindo pelo lado conservador, reacionário. A vitória do Trump, a saída da Inglaterra da Europa. Ou seja, parcelas crescentes do povo vão rechaçando o discurso da globalização neoliberal, mas por um caminho conservador, um caminho regressivo.

E, claro, isso aí está criando uma grande confusão no panorama mundial, na geopolítica mundial. Então, companheiros, nesse quadro de instabilidades, incertezas, é isso. O governo também se revela além de ilegítimo, golpista, também se revela um governo fraco. Um governo que tem uma base essencialmente no estamento político. Na chamada classe política, que é uma invenção brasileira, a classe política. Um estamento político. De costas para a sociedade e sem grande apoio do restante dos setores. Porque até os próprios empresários já estão percebendo as labaredas. Não vou entrar em detalhes porque quem assiste à Globo e Globonews já viu tudo. Estão insuflando ali, porque a situação de Temer é muito instável.

Eu tenho dito há muito tempo que a tendência mais provável era, e vai se confirmando que, se o governo Temer não cai, que é uma possibilidade real, a melhor hipótese para ele é se transformar num governo de sarneyzação. Muitos daqui não viveram o período do Sarney – nós levantamos a bandeira “xô, Sarney” – ou seja, um governo fraco, um governo com necessidade de negociar cada passo que está dando. De costas para a sociedade, depois do Plano Cruzado, principalmente. E que a cada medida que anuncia tem que negociar, na ponta da linha ali, para conseguir apoio. E a medida propõe 100, ele cede 20. Daqui a pouco, quando você vai ver, ele toma uma série de medidas que rompe aquela medida… Então, tem um ajuste fiscal, grosseiro, tosco, violento. Mas aí, dá 57 bilhões para o Judiciário, de aumento. Dá três bilhões para o Rio de Janeiro. Porque ele tem que manter apoio, não tem força. Então ele está negando até a sua própria agenda.

E essa sarneyzação é um dos desfechos possíveis dessa situação. Poderia permanecer assim, chantageado pelas forças da plutocracia. Chantageado pelo PSDB e etc mas, ao mesmo tempo, chantageando. “Oh, vocês não vão ter outra alternativa. Sou eu mesmo”. Isso poderia ser um desfecho. Mas o outro desfecho é que eles têm uma saída. Eles, a direita, têm uma saída possível, de reserva, que seria provocar, a partir de 1º de janeiro, eleições indiretas. Substituir o Temer, pura e simplesmente. Não é fácil, não há nomes muito fortes disponíveis para isso. E o país vai viver o caos, porque Temer é PMDB e PMDB é uma das maiores forças do Congresso.

Então, a tendência é de as coisas se deteriorarem ainda mais. E, por outro lado nós, nesse momento, não temos uma saída a oferecer. Ou seja, a esquerda, política, social, progressista, tem que ter muito juízo nessa hora. Porque em todo processo de crise, que chega a uma crise de governo aguda, você precisa pensar nas saídas. O que você propõe, tem que ter consequências. Nós dizemos hoje “fora Temer”, o que acaba sendo uma bandeira importante. Mas, diretas já? A quem serve as diretas já? Alguém tem viabilidade nas diretas já, real? Como saída para uma crise, não para agitação? É um beco. Mesmo o impeachment, que é hoje uma tendência para aparecer essa palavra de ordem central, ela também é uma palavra que tem consequências. A quem beneficia? É muito possível, companheiros que, nesse quadro de forças e de desarranjo profundo da vida brasileira onde, principalmente, há uma mobilização social e política, nós temos relativas forças, mas a grande massa da população e dos trabalhadores está alienada de tudo o que está em jogo. Não sabe nem sequer ainda o que é a 241. Alienada e anestesiada. Porque a situação presente teria sido fruto dos erros da Dilma, que afundou o país. Então, demos um voto de confiança nessa gente, vamos dar um tempo para essa gente.

O impeachment passou, só nós estávamos na rua. Os trabalhadores nem sequer estão nos ouvindo nesse momento. A massa de trabalhadores. Ainda mais esse povo, da periferia. Então, a luta e a mobilização popular são importante, mas elas são insuficientes, todavia. Então, num quadro desses, você tem que se acautelar. As coisas tem que amadurecer. Maturar. Ser consequente numa crise de governo. Porque, se não, você pode propor coisas que levem água ao moinho da reação dos conservadores.

E anotem, anotem. Se não tomar cuidado, qualquer saída. Qualquer, não. Se não tomar cuidado, uma saída, derrubando o Temer, vai ser uma saída ainda mais grave. Essa é a realidade de forças que nós temos no país. Ainda mais raivosa, ainda mais violenta. Então, esse é o momento que nós vamos discutir no Comitê Central. Nesse fim de semana, para avaliar melhor esses acontecimentos.

E eu paro por aqui, para dizer, é nesse ambiente que se quer fazer uma reforma política, que é a mãe de todas as reformas? Porque diz respeito à soberania popular, como ela se constrói, como ela se expressa. A representação dos múltiplos setores da sociedade brasileira. E os poderes institucionais constituídos. Senado, Câmara, Legislativo, portanto. Judiciário e Executivo. Mas, nesse ambiente, qualquer reforma política só pode ser antidemocrática, ainda mais regressiva. Ainda mais antipopular.

Todas as reformas que foram feitas no curso do neoliberalismo são muito vastas e muito fortes, sobretudo na Europa. Na Itália, na França, em Portugal. Portugal menos. Na Espanha. Para dar funcionalidade ao sistema político para cumprir os desígnios da agenda neoliberal, liquidou a esquerda.

Voto distrital na Itália acabou com o Partido Comunista. Na França teve um experimento também… Num quadro desse, se esvaziou a democracia. O neoliberalismo, companheiros, é exatamente a emergência, a hegemonia, não só da força militar, diplomática e política das potências imperialistas, que seguem, estão em ofensiva – haja vista o que está acontecendo em toda a América Latina, a começar aqui pelo Brasil. Mas são, sobretudo, os poderes financeiros, os poderes midiáticos, os poderes das corporações que, muitas vezes, capturam, sequestram e dominam a pauta política.

Isso é o neoliberalismo. Então, a democracia, a norma democrática, ficou um rótulo. Ficou um invólucro vazio. Ficou só a norma, mas não tem conteúdo democrático real. Isso está na tentativa de implantar isso no Brasil. Aliás, falando em neoliberalismo, é muito bom, porque, vejam só. Há mais de 22 anos que se tenta uma reforma política no Brasil, desse tipo que estou descrevendo.

O Aldo é um dos campeões dessa resistência. Mas é curioso, porque a Constituição brasileira de 88 tem 28 anos. E faz 22 já que está se tentando mudar a reforma política. A norma política. E exatamente quando começou a implantação do neoliberalismo, com Collor, com Fernando Henrique. Adequar a ordem política e a norma democrática aos imperialismos da agenda neoliberal, há mais de 22 anos.

Quer dizer, nós estamos conquistando o direito de um pluralismo partidário, próprio da realidade brasileira, expressando múltiplos setores, das múltiplas camadas, das múltiplas regiões, num país que é continental, que é o sistema mais democrático que pode existir. Pluralismo, pluripartidarismo. Que, na ciência política é notório, depende essencialmente do voto ser proporcional e não distrital. Nós conseguimos isso. Nós propúnhamos voto em lista, porque é tradição dos comunistas fortalecer mais o programa e o projeto do partido do que os candidatos apenas. Uma chance de combatermos o financiamento empresarial. Porque isso nega a soberania popular, ou deforma a soberania popular. E nós temos que ter coligações, como um sistema integrado. Porque coligações parecem hoje um crime. Ou parecem hoje um refúgio dos que não têm força. Não é assim.

Esse país é muito complexo. Tem 27 estados, cinco regiões. Histórias diferentes, tradições diferentes, múltiplos setores em cada um desses lugares. Quer dizer, você não consegue representar tudo numa única corrente partidária. A ditadura, o que fazia, Aldo Arantes? A ditadura tinha sublegendas. Eram dois partidos, MDB e Arena. Porque não dá conta de representar. A coligação é mais um movimento que você tem para flexibilizar as alianças e permitir essa representação.

Desde início, a reforma política de FHC tinha duas bases, básicas, para oposições. A cláusula de barreira para, supostamente, enxugar os partidos políticos. Que na verdade é enxugar a representação popular pluralista; tinha o financiamento empresarial, sempre proposto por eles. E, desde o tempo do Fernando Henrique, até hoje, os tucanos sempre propunham o voto distrital, que é um voto majoritário, ao invés de proporcional, que favorece duas coisas: o poder econômico – porque é como uma eleição de prefeito, para eleger um deputado, quem tem mais grana leva – e, por outro lado, vinculando diretamente àqueles interesses locais, você emascula o Congresso Nacional.

O Congresso Nacional passa a ser uma representação de vários síndicos de condomínios, e não de estadistas, que pensam a questão nacional. Pensam só a questão local. Isso tudo é muito conhecido. Depois surgiram variantes. O Temer propôs o distritão, que é uma excrescência mas, enfim. A tentativa é enxugar o quadro partidário. Então, a pergunta que se faz é: que mérito pode ter essa reforma política num ambiente desses? Segundo: se fosse para isso, como fazer, para o bem da democracia, o voto proporcional. Não é isso o que está em jogo. O que está em jogo é simplesmente adequar o sistema à agenda neoliberal, ultraliberal, agora, e a funcionalidade com essa agenda. Então, de plano, nós recusamos essa reforma. Ganhamos tempo, protelamos.

Até que Fernando Henrique Cardoso conseguiu um mérito, que é aprovar a cláusula de barreira. Já liquidava a representação dos partidos menores. Inclusive os ideológicos, como o PCdoB. E o PCdoB liderou uma campanha, vocês todos leram, não preciso me deter, que foi uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, no Supremo Tribunal Federal. E nós derrotamos a cláusula de barreira. Agora tenta-se retomar isso para, exatamente, tentar constitucionalizar a cláusula de barreira.

Então, é uma ofensiva muito poderosa. Nós temos essas posições históricas, nós temos uma atitude de resistência mas, em face de uma correlação de forças extremamente desfavorável – tem mais de 400 deputados no Congresso contra nós, nós temos cerca de 100 votos – e ainda mais. Num ambiente em que a maior parte se inclina, ou tende a ser capturada pelo voto anti-político. Pelo sentimento anti-político, pela recusa política, como se viu nessas eleições.

O índice de votos brancos, nulos e abstenções, que coincidiu até na vitória do Dória, em primeiro turno. Ele poderia ganhar, mas ganhou em primeiro turno pela recusa ao PT e à política. Porque o cara se apresentava como não político. E isso foi um fenômeno no Brasil inteiro. Então, num ambiente desses, companheiros, nós seguimos adiante. Barrar essa reforma. E, se não for possível, ignorar os dados dessa reforma.

Eu queria dizer duas coisas. É a mãe de todas as reformas. Portanto, é obrigatório que nós, nos governos Lula e Dilma, tivéssemos pautado essa reforma. Esse era um problema essencial que, inclusive, responderia pelos crimes que está sendo acusado o PT. Mensalão, essas coisas aí. Porque exatamente, a base disso tudo era reformar o sistema político. Nós tivemos uma correlação de forças favorável para isso.

Depois do mensalão, fizemos o segundo governo Lula, em que ele excluiu um pouco a esquerda. Um pouco, não. Excluiu a esquerda do núcleo de  governo. Mas ele foi coerente em 2010, companheiros, com o crescimento do PIB, de 7,5%. Quase pleno emprego. Um prestígio muito grande. Em 2006, ele foi reeleito. Em 2010, entregou o país assim. Nós tínhamos capital para disputar essa opinião nas sociedade. Aliás, não fizemos, né? O Aldo vai discorrer aí… nós não fizemos, evidente. Mas Lula nunca pensou isso. A orientação estratégica do núcleo de governo era não comprar briga. Lula não queria liderar aqui, entre o povo brasileiro. Liderava ali, os movimentos, com habilidade, somando força.

Mas era necessário ter feito isso. Não fizemos. Então, hoje, companheiros, nós temos isso: barrar mais uma vez, se possível, essa reforma, ou minorar danos. Porque há campo de manobra. A nossa melhor aposta deveria ser perante a sociedade, que é um absurdo fazer uma reforma política nesse tempo de grande crise política e de governo. É um absurdo. O país tem que encontrar soluções para a crise. Não é esse o tema principal. Alguém pode dizer, “não, mas esse é o reclamo da rua”, mas a reforma política deles não é para atender a rua, não. Eles não têm apoio da sociedade para essa reforma política. Eles tem até repulsa. Não como nós, contra o voto distrital e etc. Mas todo mundo acha que são manobras do estamento político. Ou seja, dos deputados, dos partidos políticos, dessa partidocracia que, supostamente, existe no Brasil.

Então, a melhor aposta era não ter a reforma. Não serve à sociedade. Não serve à democracia. E vou dizer mais, não serve nem aos políticos. Porque aquela Câmara é feita de 513 deputados e cada um vota na reforma política pensando se ele consegue se reeleger, na próxima eleição. São átomos. Você não negocia com partidos. Você negocia quase que um a um. Então, há um campo de contradições, há um campo de resistência, há um campo de manobra. Agora, repito, se ocorrer reduzir danos democráticos.

A reforma já foi aprovada no Senado em dois turnos. Ela prevê cláusula de barreira de 3% nacionalmente e também em 14 estados com transição. Partindo de 2% nacionais, nesta primeira eleição e em 14 estados. E aprovou o fim das coligações partidárias, instituindo as federações partidárias. É um trunfo que eles têm. Mas, quem é a mãe da reforma política é a Câmara, por excelência. Até por atribuição, o sistema representativo pluripartidário é representado pelos deputados. Não pelo Senado. O Senado é uma eleição majoritária, representa os estados da Federação.

Na Câmara, companheiros, ela está há 20 anos tramitando. Já houve “n” propostas. Não sei se o Aldo consegue lembrar quantas comissões foram feitas. Hoje, ainda, ela está sem prazo. A proposta que existe lá ainda é genérica.

Sobre sistema eleitoral. Na Câmara dos Deputados se fala em voto em lista. O voto em lista nunca foi apregoado pela direita. O motivo de eles levantarem o voto em lista é o intuito de eles darem um eixo para a discussão, que não seja apenas a cláusula de barreira e o fim das coligações. Porque à base do voto em lista se pode, eventualmente, aprovar o financiamento público de campanha. Sem financiamento empresarial, mas com fundo eleitoral público. E que toda a sociedade vai rejeitar. Embora haja um impasse aí. Esse ano de 2016 mostrou que essa eleição é um ponto fora da curva. Não há relação com a história política eleitoral pregressa e nem projeta uma nova história política e eleitoral. Porque não tem financiamento, é um gargalo, é um estrangulamento. Não pode continuar assim.

Então, para aprovar um fundo eleitoral, pode acontecer isso. Começar a discussão também em torno do voto em lista que, aliás, vem a ser um princípio do Partido Comunista. Então, para nós é até bom. A gente senta à mesa dos grandes discutindo a reforma política. Aliás, o Marcos Pestana, que é secretário-geral do PSDB, tucano, apresentou exatamente a proposta de um fundo eleitoral. Então, ali eles estão manobrando. Para salvar o sistema político e, ao mesmo tempo, dizer que reformam – a sociedade não vê reforma nenhuma – e, enquanto isso, eles liquidam os pequenos. Liquida parte da representação popular. “Ah, mas tem partido de aluguel e etc.” Bom, as propostas do PCdoB, o Aldo vai falar, a gente já demonstrou, à sobeja, lá. No Senado e na Câmara que, com uma cláusula de barreira de 1% em nove estados já se reduz bastante o número de partidos. E preserva partidos porque você diz, “bom, cláusula de barreira… se vocês não têm força, porque vocês querem existir?”.

Bom, então, vamos estabelecer o que é o ranking de força de um partido político. Vamos incluir aí a Força Sindical? Vamos incluir aí a força que tem na juventude? Vamos incluir aí partidos que têm programa coerente? Vamos incluir aí partidos que gastam dinheiro para fazer formação de quadros? Nós estaríamos entre os maiores partidos do país, pô! Então, por que isso? É evidente. Já respondi o porquê disso.

Esse projeto do Marcos Pestana, que é uma marotagem, ele propõe um fundo eleitoral, com renúncia fiscal. Mas lá no meio, portanto, como já tem a renúncia fiscal, deixa de existir o programa de TV. Não o programa eleitoral, que esse é outra coisa. Aquele que nós temos duas vezes por ano, dez minutos, outros têm cinco. E quem quiser fazer programa eleitoral, que vá na Globo e compre, como é nos Estados Unidos, favorecendo ainda mais o poder econômico.

Então, nós estamos nessas escaramuças. Na Câmara, também se apregoa o fim das coligações, tornando, como no projeto do Senado, que se aprove as federações partidárias. Mas aí, mais confusão ainda. Essa federação, eu vou concorrer à eleição numa federação. Mas essa federação é vertical nacionalmente? Se eu defino uma federação, digamos, PCdoB, PT, PDT. Forma uma federação, mas ela é verticalizada nacionalmente? Quer dizer, isso aí engessa o jogo político, no lugar das coligações, que flexibilizava. Por que as regiões são diferentes, os estados são diferentes. Aliás, no Brasil, companheiros, tirando o PCdoB e, em parte, o PT, claro, os partidos têm uma cara em cada estado. Não adianta você dizer “o PMDB de Alagoas”, o PMDB de Amazonas, o PMDB de… quando você vai ver, cada um é um PMDB diferente do outro.

Porque é próprio da realidade brasileira. Então, encerrando, acho que a nossa melhor aposta é não realizar a reforma. “Barulhar”, embaçar. E, se ela tiver que ocorrer, as nossas propostas são voto em lista, financiamento público – tomando cuidado aí para essa marotagem do Marcos Pestana – cláusula de barreira de 1%, no início, e em nove estados, e não em 14, e só começando em 2022. Para ser progressivo. Não valeria para as eleições de 2018.

Então, são as nossas armas e assim que a gente senta na mesa e está ali nas escaramuças dessa reforma política. Mas eu gostaria de insistir, e o Aldo tem vasto conhecimento da matéria. Gostaria de insistir que isso implica mobilização popular. Até para resistir precisa de mobilização política popular. Política, porque essa é a forma mais alta da consciência social. Não basta só o movimento social reivindicar os seus direitos. Ele tem que ter o apetite, a ambição de querer governar o país. Se elevar ao nível da política. E não bastar só com o direito de identidade, direito de gênero, direito de reivindicação, de salários. Esse é o nosso desafio. Precisa de mobilização política popular.

E creio que há possibilidade, sim. Não sei o que pensa o Aldo em relação a opiniões pessoais. Há possibilidade sim de, nessa crise, que vão se erguendo labaredas, em torno dessa crise de governo, a gente consiga até adiar esse treco aí. Mais uma vez… Bom, eu estou exagerando, finalizo, Leo. Labaredas, companheiros.

Aliás, eles são sagazes. Temer é um pigmeu. Politicamente é um pigmeu, não tem força própria. Está se revelando um pigmeu político. Mas veja, tanto que são labaredas que ele reuniu num domingo, para chamar toda a imprensa, com Renan e Maia ao lado. Para dizer, ó, tira esse caixa dois da pauta. É tudo o que ele precisa. A anistia, desculpa, a anistia a caixa dois. É tudo o que ele precisa, porque eles estão ameaçados pela Lava Jato. E os miseráveis dos 367 votos que votaram pelo impeachment, votaram para se salvar. Vou votar impeachment, vou botar o Temer. “Agora, Temer, você tem que proteger a gente” da Lava Jato e do caixa dois.

Aí, o Temer vai deixar todo mundo na mão. E ainda vai votar uma reforma política que o deputado acha “pô, mas desse jeito aí, vou ficar na mão da direção do partido, eu não me elejo. Por que eu vou votar esse treco?”. Sobrevivência individual. Então a confusão é grande. E essa confusão é boa. Pode, eventualmente, apresentar esses três elementos. Foi uma tática esperta, diante do assunto, mobilização popular, evitando apostar de que a crise possa tornar inviável também essa reforma política, que era o pretendido. Esse prazo era até março. O Rodrigo Maia diz, “ó, a agenda do Temer é a reforma, a PEC 241, depois a reforma previdenciária, depois a reforma trabalhista. Eu quero dizer o seguinte: a minha agenda é outra, porque o meu mandato acaba em fevereiro. Eu tenho que deixar um legado e vai ser a reforma política. Já tem um conflito aí, para eu sair bem da presidência”.

Mas nesse período, companheiro, até fevereiro, acho que existe a possibilidade de dar. Era isso. Vamos aguardar aqui o Aldo Arantes, que é um expert nesse e em muitos outros assuntos. Obrigado.

 

LEOCIR COSTA ROSA

Obrigado, Walter. Nós que agradecemos. Eu queria mais uma vez registrar, algumas pessoas chegaram após o início da abertura aqui dos trabalhos, de que, infelizmente, pelo agravamento da crise política, estava programado a presença, aqui, do deputado federal Orlando Silva, do PCdoB de São Paulo, e do PT de São Paulo. Ele é o relator da matéria na Câmara mas, em função do agravamento da crise política as agendas se conflitaram e eles não puderam sair de Brasília hoje. O Aldo está aqui e vai fazer a fala seguinte. Nós agradecemos aqui ao Walter que, sabendo dessa situação, gentilmente topou, aqui, de fazer esse diálogo aqui e contribuir para a luta de ideias que a gente está travando aqui.

Eu queria também completar uma informação que nós passamos aqui sobre o livro de condolências pelo falecimento do comandante Fidel Castro. Ele está no Consulado de Cuba, fica até domingo. O Consulado de Cuba aqui em São Paulo é na rua Cardoso de Almeida, 2.125. E outros locais, outros estados do Brasil, também devem ter aberto um livro de condolências. Então, a gente faz a comunicação aqui e os que quiserem ir até o consulado, assinar o livro de condolências, enfim, fica o registro.

Eu queria aproveitar também para pedir aos nosso amigos e nossas amigas que estão teclando e compartilhando, que continuem compartilhando nosso debate porque ele está sendo transmitido pelo portal Grabois, pelo portal Vermelho e pelo facebook. E pelo facebook há possibilidade de os internautas interagirem aqui conosco. Está sendo transmitido ao vivo, então, todos podem participar, mesmo que não estejam presentes aqui.

Bom, só para registrar aqui. Do Walter, “barulhar”, mobilizar e resistir. Foi o que eu anotei aqui. Antes de passar a palavra aqui para o Aldo, só uma notinha aqui. Um levantamento do Globo dizendo o seguinte: hoje, apenas nove legendas das 35 – então, cairiam 26 legendas – nove legendas conquistaram 2% de votos em 14 estados. Então, para a gente dimensionar o tamanho do que vem aí, de uma reforma política, como disse o Walter, visando enxugar o quadro partidário. Então, eu passo aqui, imediatamente, a palavra ao Aldo. Fique à vontade.

ALDO ARANTES

Boa noite a todos vocês, companheiras, companheiros. Eu quero, em primeiro lugar, parabenizar aqui a Fundação Maurício Grabois por esse ciclo de debates. Eu acho que, nesse momento, é fundamental nós exercermos o processo de reflexão sobre o que aconteceu, para nós tirarmos lições para termos condições de avançar. Eu quero cumprimentar a Fundação Maurício Grabois. Quero cumprimentar o meu amigo, vice-presidente do nosso partido, o PCdoB, o Walter. Quero dizer, Walter, que eu concordo com tudo o que você disse aqui. Cumprimentar o Leo e quero fazer um cumprimento especial à Dodora. Dodora é mãe dos meus dois filhos e conviveu comigo 21 anos. Onze anos na clandestinidade.

Quero cumprimentar também a pessoa que, durante a ditadura militar, fazia reunião na casa dela. Ela é uma pessoa importante. Foi reitora da Universidade de São Paulo. Elza Lobo, que está ali atrás. Reitora da USP, minha amiga de muitos anos. E o Politi, amigo também, mais recente. Trabalhou com a Dodora na Comissão de Direitos Humanos, a Secretaria Executiva da Comissão de Direitos Humanos da Presidência da República, evidentemente no governo do Lula e Dilma. Quero cumprimentar aqui o Adalberto, companheiro, não só Secretário de Formação, mas uma das características importantes dele, ele é de Goiás, como eu. Então, esse é um dado a mais aí do Adalberto. E o Nivaldo, companheiro Nivaldo, dirigente da CTB, membro do nosso partido. Fábio Tokarski. O Fábio está aí? Também de Goiás. O fato de ser de Goiás é importante. Fábio é secretário do planejamento, da direção do partido. O Augusto Buonicore, amigo, também, da Fundação. A Bartíria, presidente da Conam e vocês todos, que estão.

O Walter falou do problema da política. De fato, eu participei, como parlamentar, de várias comissões debatendo a questão da reforma política. E, mais recentemente, eu fui membro da Comissão Especial para Mobilização da Reforma Política, da OAB federal. Isso, então, me permitiu, evidentemente, tomar contato e aprofundar na reflexão sobre a questão da reforma política.

E aí, o Walter fez a pergunta, fez um levantamento, a reforma política há muito tempo se discute e não se fez. Por quê? Porque temos um Parlamento fundamentalmente composto por quem representa o poder do dinheiro. Essa que é a essência do problema. E essa é a questão, inclusive, que eu vou colocar como central no problema político que está colocado. Inclusive houve uma crítica que nós tivemos. Tem a ver com o problema do poder do dinheiro.

Porque, na verdade, o Parlamento brasileiro, foi um golpe parlamentar… Decorre exatamente de um poder, de um sistema de representação que representa quem tem dinheiro. Não representa o eleitor. E isso, evidentemente, resulta em quê? Ele não vota as matérias de interesse da sociedade. Entende? Então, o fato, exatamente, de que não se fez reforma política. Porque, como disse também, a reforma política é a mãe das reformas.

Para que se faça democratização dos meios de comunicação, para que se faça reforma urbana, reforma agrária. Uma real reforma da educação passa por você alterar a composição do Parlamento. Portanto, a questão da reforma política é extremamente importante. E eu acho que um dos problemas, que eu vou aqui colocar é que nós da esquerda… E aí, eu acho que quem tinha hegemonia – e quem tinha é o PT – não soube fazer um debate sobre questões estratégicas do estado brasileiro.

Uma delas é exatamente o caráter de classe do estado brasileiro. É um parlamento que expressa os interesses de uma minoria da sociedade. É a minoria da sociedade que, no parlamento, se transforma em maioria. A sociedade não tem isso claro. Então, nós temos que começar a tirar lições do que aconteceu para, simultaneamente à luta concreta em todos os objetivos, fazer a luta teórica e ideológica para a sociedade que vai, exatamente, acumulando qual o projeto real da sociedade, como culmina a luta imediata com essa luta mais real.

Por isso é eu considero relevante a discussão de um reforma política. Não só porque a reforma política está na pauta. E pela centralidade dessa questão no avanço de uma reforma do estado brasileiro. E aí, uma reforma política ela envolve um conjunto de questões. Mas existem algumas questões que são mais importantes. Eu diria, são questões estruturantes. Eu destaco cinco questões. Primeira, a questão do financiamento empresarial. Segundo, sistema eleitoral; terceiro, cláusula de barreira e proibição da coligação proporcional. Quarto, subrepresentação das mulheres e das minorias. Quinto, democracia direta.

Essas são as questões, no meu entender, e no entender da articulação que eu participei – que é exatamente a coalizão pela reforma política democrática e eleições limpas – que incorporava a OAB, não a OAB de hoje, mas a OAB passada. Incorpora a CNBB, incorpora a CTB, a UNE, entende? Incorpora a Contag, Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, e a CUT que participava, exatamente, se afastou. E aí, eu vou dizer porque. E eu acho, inclusive que, na situação em que nós estamos vivendo, nós temos que ter a coragem política de fazer a crítica. Só que existe uma crítica antagônica – Mao Tsé Tung dizia o seguinte: “as contradições podem ser antagônicas e não antagônicas”.

Na contradição antagônica, o adversário é inimigo. Então, pau nele. Não tem conversa. Agora, a contradição no nosso campo é a contradição entre amigos. Mas é contradição. E para nós construirmos a unidade em torno de ideias efetivas, a luta política tem que ser feita. Não de forma sectária, como muitas vezes se fez e ultrapassaram. É você transformar um cara que está do seu lado em adversário, em inimigo. Não é isso. Mas também, não é você conciliar. A forma de avançar não é a conciliação. Até porque isso envolve uma questão de concepção de  mundo.

Você tem que ter a lealdade com seus filhos, a sua esposa, com seu amigo. E  quando há um erro, você criticar. De forma que é fraterno mais fazer a crítica. E sobretudo apresentar uma alternativa. Por isso é que eu considero que dentre as questões estruturantes da reforma política, a mais importante, para mim, é a questão do financiamento empresarial de campanha. Ou seja, é o papel do poder econômico na composição do estado. Aí alguém pode dizer “ah, não, nós estamos num estado capitalista, sempre vai haver”. É claro.

Mas, a intensidade e a influência do poder econômico pode ser maior ou menor. Uma sociedade, mesmo nos limites do sistema capitalista, ela pode ser um pouco mais democrática ou um pouco menos. E aí que envolve, entende, esse processo de avanços, no sentido de você criar limitações diante da influência do poder do dinheiro. É importante que se diga que 95% dos recursos de campanha provêem do financiamento empresarial. Cinco por cento, senão menos, provêm do financiamento de pessoa física.

Então, a raiz do problema está no financiamento empresarial. E mais, o financiamento empresarial ele é causa, talvez fundamental, da corrupção. E o que eu já disse, de um parlamento distanciado da sociedade brasileira. E, essa questão da corrupção me parece extremamente grave. Porque, por um determinado momento, a OAB entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, conseguimos que o Supremo acatasse e declarasse a inconstitucionalidade.

A OAB fez uma pesquisa que constatou que 74% do povo brasileiro era contra o financiamento de campanha por empresas; 76% considerava que financiamento de campanha era causa da corrupção eleitoral. Inclusive, nas manifestações da Paulista, de 2013, pesquisa feita lá: 76% daquela juventude era contra o financiamento. Mas aquela juventude estava sendo manipulada. E ela estava, portanto, vivendo uma contradição. Nós, da esquerda, não soubemos aproveitar essa contradição para, no mínimo, neutralizar. O que aconteceu? Erro. Por quê? Porque certas forças de esquerda, e entre eles, o PT, resolveram levantar a bandeira da constituinte exclusiva. Erro grave.

No meu livro eu faço uma análise em profundidade do problema. É claro que a constituinte exclusiva é uma constituinte, eu diria, ela, em tese, ela pode exercer. A discussão não é em tese. E as pessoas que defendem dizem “isso aconteceu na Venezuela, isso aconteceu na Bolívia”. Bolívia é Bolívia, Venezuela é Venezuela. O nível de organização e mobilização da sociedade era outro. Estavam  em um outro patamar.

Então, você trazer para a luta imediata uma tática, uma bandeira que poderia ser, quando muito, a bandeira de propaganda, qual foi o resultado, no Brasil? Paralisou o movimento social. Dividiu o movimento social. Quer dizer, as entidades, tanto o movimento estudantil quanto o movimento operário, (inaudível – 13:06) o projeto da coalizão, apoiado pela CNBB, pela OAB, e que eu estava metido nela, dirigente do PCdoB, em que a CTB estava onde estava. Fica dividido entre projeto da coalizão e constituinte exclusiva. Conclusão: não houve a mobilização necessária para mostrar à sociedade brasileira que o pano de fundo da questão era financiamento de campanha por empresas.

Essa coisa era tão significativa que, quando se votou o financiamento por empresa na Câmara dos Deputados, aqueles que se diziam combatentes contra a corrupção eram os verdadeiros corruptos, que votaram a favor da grana na campanha. E aqueles que eram tidos como os corruptos, PT e PCdoB. O PT um pouco mais que o PCdoB. O PT, que era exatamente caracterizado como tal. Na verdade, foram eles que votaram contra a grana na campanha. Ou seja, nós perdemos a oportunidade de mostrar que os verdadeiros corruptos são aqueles que representam o poder do dinheiro.

Então isso é o que eu acho que é exatamente uma crítica importante. Pois bem. Aí, eles poderiam dizer o seguinte, bom, uma coisa importante é que hoje os setores conservadores tentaram retornar de forma subreptícia o financiamento empresarial. Eles não têm coragem porque aí, hoje sim, essa questão ficou tão estigmatizada na sociedade, que eles têm dificuldade, mas eles procuram, na verdade, encontrar formas para exatamente retornar de uma ou de outra maneira o financiamento empresarial.

Qual a alternativa? A alternativa que a coalizão apresenta é a seguinte: é o financiamento público, combinado com financiamento de pessoa física, limitado. Então, o que existe hoje é que o Supremo aprovou o fim do financiamento de campanha por empresa mas, na verdade, a pessoa física consegue e faz financiamento extremamente elevado. Porque é 2% do ganho anterior. Que, quem tem um ganho anual de um bilhão de reais. Quer dizer, 2% sobre um bilhão de reais. A diferença de capacidade, de conquista, de propaganda, etc, etc, fica complemente, digamos assim, em condições de desigualdade.

Então, na verdade, essa é uma questão importante que tem que ser exatamente tratada. Outra questão que, na verdade, está relacionada a essa, é o sistema eleitoral. Hoje há uma critica ao sistema eleitoral atual. E é real essa crítica. Qual é o sistema atual? É o chamado sistema proporcional de lista aberta. O que é sistema proporcional de lista aberta? É o voto dado na pessoa física, e não no partido. É o voto dado naquele que tem mais dinheiro e ganha quem tem mais grana. Que leva a que você não tenha partidos consolidados. Você tem cada parlamentar – e eu já fui parlamentar – cada parlamentar, não os do PCdoB, porque aqui tem partido. Cada parlamentar da maioria dos partidos, ele se torna um verdadeiro partido dentro do partido.

Então, essa questão é uma questão importante. Então, na verdade, quer dizer, é importante alterar o atual sistema que prevalece no Brasil, um sistema eleitoral. Mas é necessário reafirmar o sistema proporcional. Por quê? Sistema proporcional, talvez muitos não saibam, ele surgiu fruto da luta dos trabalhadores, da classe operária. Certamente a CTB sabe disso.

No final do século XIX houve um congresso internacional na Bélgica, em que os trabalhadores chegaram à seguinte conclusão: não aceitamos mais o sistema majoritário distrital. Porque o sistema distrital é o seguinte: num determinado distrito, elege-se um. Elegeu um, representa quem? As elites locais. É o latifúndio. São as elites e significa o quê? A exclusão das minorias. E, em determinado momento, nem é minoria, é a maioria. O sistema distrital também ele é um voto, digamos assim, que ele não só exclui as minorias, como exclui o debate em torno de projetos, de objetivos maiores, como disse aqui o Walter.

Quer dizer, inclusive quem criticava isso, olha bem, é Tancredo Neves. Era um liberal democrata, que dizia que o sistema proporcional é o único sistema dinâmico, capaz exatamente de movimentar a sociedade. Porque o sistema distrital é o sistema que é exatamente, altamente conservador. Então, o que se propõe é exatamente a reafirmação do sistema proporcional de lista fechada.

Aqui tem uma opinião diferenciada. Existem alguns setores, o próprio partido defende, que o sistema proporcional de lista fechada é bom. Por quê? Porque o sistema proporcional vai obrigar o eleitor a votar em projeto, em programa, e não no indivíduo. Isso eleva o patamar da luta política. Isso eleva a cultura política da sociedade. Em que você deixa de votar em pessoas e vota em projetos e ideias.

O projeto da coalizão levanta uma outra alternativa. Que é você fazer eleição proporcional em dois turnos. O primeiro turno se vota no programa do partido. E no segundo turno você vota no candidato. Essa é uma criação que flexibiliza. Porque quando você vem com a novidade, novidade muito nova, o que ocorre é que a sociedade muitas vezes estranha. Essa proposta, evidentemente, tem um aspecto positivo no sentido exatamente de permitir que o eleitor continue votando no eleito da sua preferência, dentro da lista partidária.

Então, permite, portanto, talvez, uma transição mais fácil entre o atual sistema e o futuro sistema mais elevado. Mas também eu e a coalizão concordamos com aquela proposta que eventualmente fosse mais adequada.

Agora, outra questão é aquela que já foi dita aqui. E eu acho que já foi dita com bastante profundidade pelo Walter. Que é a questão da cláusula de barreira e a coligação proporcional. A proibição da coligação proporcional. Como foi dito, foi aprovado no Senado a PEC 36, de 16. Como já foi dito, ela impõe para que um partido tenha tempo de televisão e rádio, tenha acesso ao fundo partidário e tenha funcionamento parlamentar, ou seja, ter a liderança, etc, etc, ter estrutura de funcionamento, é necessário que o partido tenha 2% dos votos em 14 estados da Federação. Isso liquida com vários partidos. O PCdoB, PSOL, Rede, e outros vários partidos. É um atentado à democracia.

Foi aprovado 3% (se corrigindo). Isso mesmo, 3% em 14 estados. Pois bem, pois isso aí significa o fim de inúmeros partidos. Qual é o argumento? Tem muitos partidos no Brasil. De fato, tem. “Não, porque tem partido de aluguel”. De fato, tem. Mas é essa a solução? Essa é a solução democrática? Porque, a começar, o seguinte. O argumento é o seguinte: isso cria problemas para a governabilidade.

Então, eu pergunto: são os partidos pequenos que criam dificuldade para a governabilidade? O que cria dificuldade para a governabilidade é um cinismo muito grande. É exatamente a falta de identidade política e ideológica dos grandes partidos. Que permitem, à base do poder econômico, que forme bancadas suprapartidárias, como formou o Eduardo Cunha. Aí é que está o problema. Que as pessoas tentam esconder.

O Eduardo Cunha formou, com base no poder, comprou 200 parlamentares e formou uma bancada que passou a ter hegemonia no Congresso Nacional. Foi a causa exatamente que permitiu, não foi a razão, que permitiu o impeachment da presidenta Dilma. E que agora continua exatamente, o centrão, apesar de tudo, tem um papel decisivo no Congresso Nacional.

Então, aí é que é a verdadeira razão. O que querem é exatamente enxugar o quadro partidário para elitizar mais ainda a representação política brasileira. No caso da coligação proporcional, o pano de fundo é o mesmo. O Supremo Tribunal Federal já decidiu dar inconstitucionalidade, por isso, vocês querem aprovar uma emenda constitucional. Mas é discutível, porque a Constituição brasileira tem as chamadas cláusulas pétreas.

Com a cláusula pétrea… é exatamente a democracia, ela implica necessariamente na existência de minorias. Cláusula de barreira, proibição de coligação proporcional, é você impedir a existência de minorias. Aí eu digo, porque alguns setores, inclusive de esquerda, ou pelo menos pretensamente, não há de se colocar contra essa questão, porque na verdade, quer dizer, há liberdade de orientação partidária. Porque não está proibido que os partidos se formem. Só que os partidos, praticamente, não vão ter condições de crescer, desenvolver. Porque nós sabemos que as coisas evoluem, o pequeno se transforma em grande. O grande não se transforma em pequeno.  Mas, para que isso ocorra, tem que haver condições.

Como é que um partido menor, sem tempo de televisão, sem tempo de rádio, sem recursos e sem representação parlamentar, como é que vai crescer? Então, isso é para liquidar. Para liquidar, então, temos que ter muita clareza do significado que isso representa. Aí é uma questão que se coloca o seguinte. Está uma reforma política antidemocrática. Ela faz parte da concepção neoliberal. O neoliberalismo, em  economia é o menos estado e mais negócio. Na política, é menos povo na sociedade e mais decisão aparentemente técnica e, no fundo, decisão do sistema financeiro internacional.

Aliás, num estudo que fiz, recentemente, eu fiz alguns artigos sobre isso.           Tem um constitucionalista alemão que fala exatamente que a situação atual do mundo é tão grave, que o neoliberalismo ele na verdade sobrepõe a constituição real por uma constituição informal. A constituição informal, que ele chama de constituição informal são, no fundo, os interesses e o projeto do neoliberalismo, que se superpõe à constitucional formal. Que é o que aconteceu no Brasil. Não respeito, arrebenta com tudo, alegando que está defendendo a constituição.

Pois bem, então eu acho que essas questões são muito importantes. Agora, nós estamos aqui diante dessa problema. Querem dar mais um golpe na democracia. Querem impor uma reforma política antidemocrática. O que fazer? Eu acho que tem, digamos, dimensões diferentes. Uma, é a atuação do Parlamento. Uma, é exatamente você articular forças para tentar implodir. Mas, eu acho que tem outra. Que é você conseguir ampliar o apoio. Por exemplo, nessa questão da coligação proporcional, há um projeto, que é da coalizão pela reforma política, apoiado pela CNBB, que é o único projeto que, inclusive, tramita na Câmara dos Deputados, que defende essa questão.

Então, e esse projeto, só para vocês terem uma ideia, tem praticamente um milhão de assinaturas. Um milhão. Não é um milhão, mas 974 mil, 937 mil. Esse projeto, no ano passado, quando se discutia a questão da reforma política, naquele momento, tinha 700 mil assinaturas. E foi apresentado na Câmara. O presidente era o Eduardo Cunha. Ele simplesmente, praticamente, não recebeu a coalizão. Nós entregamos as 700 mil assinaturas. Tivemos que devolver, porque ficamos com o receio de que ele sumisse com elas.

Então, nesse momento, está colocado o problema. Esse projeto, com as 700 mil, quase um milhão de assinaturas, com a articulação dessas entidades, concretamente há uma discussão sobre rearticulação da coalizão. Reapresentar esse projeto. Levar essas assinaturas e desapensar. Favorece a luta pela reforma política? Porque, na verdade, o projeto da coalizão está tramitando na Câmara dos Deputados. Mas, é o seguinte, está apensado num projeto, no outro e no outro.

Ou seja, esconderam ele. Quando se discutiu no ano passado a reforma política, simplesmente desconheceram o projeto da coalizão. Que é um projeto de iniciativa popular. Que aliás, é o único que está tramitando. O que nós levantamos, que a coalizão levanta, é o seguinte: os diversos partidos, os parlamentares, têm que exatamente refletir se interessa. Na minha opinião, acho que interessa. Não na ilusão de que nós possamos aproveitar uma reforma política democrática. Mas, na verdade, quer dizer, é igual turco. Você coloca o valor lá na frente, para chegar numa negociação. Se você não tensiona para o mais, você não vai chegar a resultado nenhum.

Então, acho que, para isso, essa tensão, ela pode, ela ganha mais força na medida exatamente que você possa ter o apoio de segmentos da sociedade. Finalizando, eu estou vendo gente que já está olhando para o relógio, então, eu queria apenas finalizar, falando um pouquinho desse livro. Não é para fazer propaganda, não. Quem quiser comprar o livro, compra, quem não puder, ou não quiser, não compra. Mas, para ter uma ideia, um pouco do livro.

Nesse livro, eu coloco como centro a questão da reforma política, exatamente pelo que eu falei aqui. Pela relevância que eu acho que a reforma política… sobretudo financiamento de campanha por empresa, inclusive, o golpe. E procuro tratar do golpe. E, nos estudos que eu fiz para elaborar esse livro, eu identifiquei um americano, chamado Gene Sharp, certamente muita gente aqui conhece, que é um professor que formulou o que ele chama golpe brando. Ou revolução branda, que está sendo aplicada no mundo. E que foi aplicada no Brasil.

Foi aplicado na Nicarágua, em Honduras, no Paraguai. Mas não só isso. Nos países do Oriente Médio. No mundo. E o que é interessante que esse projeto fala em cinco etapas. Sendo que a primeira delas é identificar qual a palavra de ordem capaz de mobilizar a sociedade. Então, em uns lugares, a luta contra a tirania. Em outros, os direitos humanos. Na América Latina e no Brasil, corrupção.

Olha bem, inclusive porque, no Brasil tem tradição que a direita, sempre que tem um governo progressista, bate na corrupção para derrubar. Já tem tradição. E vem uma série de outros passos. Utilização das redes sociais, despolitização da sociedade, mobilização da juventude, articulação com o Judiciário, com a imprensa, enfim. Praticamente o que aconteceu no Brasil.

E tem um dado a mais, também reflete, e tem uma entrevista muito interessante sobre o Gene Sharp, que é de um cubano. Esse cubano foi, simplesmente, agente de Cuba infiltrado na CIA, por dez anos. E ele concluiu, obteve a informação que, num determinado momento, os americanos perceberam que o crescimento das forças progressistas na América Latina se deveu à formação de uma consciência progressista de esquerda nas universidades. E passaram a adotar uma tática, isso é importante para a UNE, para a juventude, passaram a adotar uma tática de penetração nas universidades. Entende? Penetração. E foram ganhando. E mais, formaram instituições de reflexão, aqui tem o Instituto Millenium, para construir o pensamento conservador, pensamento de direita.

Então, hoje, essa questão da luta teórica e a luta ideológica é fundamental. Porque eles tiveram a capacidade de identificar e foram para cima e formaram uma consciência. Não é suficiente a luta imediata. Então, na verdade, essa questão é muito importante. Por isso mesmo, no livro, eu faço análises do que eu identifico como acertos e erros do governo Lula e Dilma. Com essa atitude, digamos, fraterna mas, ao mesmo tempo, de procurar identificar acertos – que nós não podemos admitir o que a direita tenta aqui que é exatamente desconstruir – o que foi feito. Os 30 milhões de pobres que saíram… universidade para os pobres, saúde, etc. Aquilo tudo que nós sabemos, mas que não vou repetir.

A tentativa de destruir a liderança do Lula. O impeachment da presidenta Dilma. Tudo isso. Então, nós temos que saber valorizar o que foi feito. E o golpe foi fruto do que foi feito de bom. Mas o que foi errado ajudou o golpe. E aí, nos temos, de forma corajosa. Solidária, mas corajosa, que identificar esses erros.

Eu levanto aqui alguns. Está no meu livro. Primeiro, a ilusão com o problema da aliança de classe. Não que a aliança não devesse ser feita. A aliança é uma característica da luta política. E da guerra, inclusive. O problema é você ter ingenuidade ao fazer aliança. É você não se preparar para o momento em que essa aliança já não mais interessa às classes dominantes. E elas estão preparadas para vir em cima de nós. E nós não nos preparamos. Tivemos uma atitude de ilusão. E sobretudo quem tinha hegemonia, que é o PT.

O que significa, por exemplo, não tomou medidas de democratização dos meios de comunicação. E, chega no final, qual a televisão, qual o rádio, qual o jornal, qual a revista a favor do governo e do projeto que nós defendíamos? Praticamente nenhum. Existe democracia onde só tem um ponto de vista?

Aí você vai culpar a sociedade, vai culpar os trabalhadores que foram beneficiados da melhoria das condições de vida. Você não pode. Você está cometendo um erro. Tem que ver onde está a raiz do problema. Não foi tomada a medida realista de se defender para o momento que era necessário.

Então, não só isso. Mas também não foi feito o processo de politização da sociedade. É outra questão. Então, não é o suficiente você resolver os problemas materiais. É necessário você trabalhar a cabeça das pessoas para que as pessoas entendam o que está em jogo. Porque a hora que começa virar, as pessoas tem que estar preparadas.

E aí, eu me lembro, na época do governo João Goulart – a Dodora trabalhava no Ministério da Educação, no método Paulo Freire. Resolveu o problema? Não. Mas de qualquer maneira, houve um esforço. O que era o método Paulo Freire? Não era só alfabetização, não. Ensinava para as pessoas qual era a causa da exploração. Olha a importância do problema! Então, eu acho que também o problema da politização, a falta de reforma política, essa questão teria sido uma questão fundamental.

A falta de iniciativas concretas nas reformas estruturais do estado. O chamado falso republicanismo. Aí, os companheiros do PT dizem “não, o aparelho de estado não pode ser controlado por um partido”. Eu acho também que não pode, não. Só que permitiram que a direita e que a oposição assumisse a Polícia Federal, e mais não sei o quê. O Ministério Público. Só que isso aí é uma ingenuidade brutal. Você permite que a direita tome conta dos meios de comunicação e não toma providência.

E, finalmente, a divisão no núcleo de direção do projeto que nós definimos. Num determinado momento, cada um atira de um lado. E eu acho que hoje, eu acho errado essa história de ter um grupo lulista e um grupo dilmista. Eu acho que o Brasil precisa de Lula, precisa da Dilma, precisa do PT, precisa do PCdoB. Precisa principalmente do povo brasileiro, dos trabalhadores. Principalmente. E vai ser aquela força… na minha opinião, na nossa opinião, do PCdoB, o momento não é de discutir nomes, quem é o candidato. Nem sei se vai ter eleição. Nós não sabemos se vai ter eleição.

A hora que eu subi aqui, tinha um pessoa lá “será que vai ter?” Eu não sei. O que está colocado na ordem do dia, hoje, não é discutir nomes, é discutir projetos. Por isso é que eu tento aqui, sabendo que é uma contribuição muito simples, dar sugestões do que poderia ser um novo projeto para isso. E eu acho que vai ser a força política. Seria a capacidade e a grandeza de aglutinar a intelectualidade, os trabalhadores, as mulheres, para poder pensar nesse novo projeto. Isso sim eu acho que está colocado.

Acho que nessas coisas, em geral, tem certo mecanicismo. Ou é de baixo para cima ou de cima para baixo? A dialética não é assim, de um lado só da competição. É de baixo para cima e de cima para baixo. Você tem que ouvir a sociedade. Mas tem que ter algumas sugestões iniciais a partir da qual a sociedade escuta e o fruto desse debate é o que eu estou chamando de inteligência coletiva, é que você pode então formular um novo projeto para o país. São essas as contribuições que eu quero dar para o projeto de vocês.

 

LEOCIR COSTA ROSA

Obrigado, agradecemos aqui a explanação do Aldo. Excelente fala, nos colocou aqui o cenário geral da proposta que vem se arrastando de reforma política e finaliza aqui com o apontamento de alguns erros e alguma subestimação. Destacaria aqui a falta de politização e o falso republicanismo. Pelo nosso método aqui do debate, amigos e amigas, eu gostaria que, antes de abrir a palavra para todos, nós elencamos aqui, convidamos, entre os nosso convidados aqui, três pessoas para formularem, entre três e cinco minutos, alguma questão, enfim. Não necessariamente uma pergunta, mas ter relacionada aqui ao tema, para a mesa. Eu queria então convidar aqui o Wander Geraldo, do Comitê Central; a Manuela Braga, diretora de programação da UJS; e a Marilene Betros, da APLB, Associação de Professores da Bahia e da direção nacional da CTB.

Antes de passar a palavra aqui para o Wander, só lembrando aqui a fala do Aldo, de que naquele momento político ali onde nós, num debate intenso sobre a restrição do financiamento privado nas eleições. A OAB entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade. Num determinado momento, um dos ministros do STF, da Suprema Corte, ele pede vistas ao processo e ele fica, nada mais, nada menos, por mais de um ano com o processo para despachar. Se não fosse a mobilização dos movimentos sociais, acho que a UJS esteve lá, levou um bolo, cantou parabéns quando deu um ano de vistas. Então, o ministro Gilmar Mendes, totalmente afinado com essa ideia golpista, então, ele demorou um ano, mais de um ano para devolver o processo, que acabou sendo julgado pela maioria do Supremo considerando inconstitucional a participação do financiamento privado nas eleições. Então, eu passo aqui a palavra ao Wander. 

WANDER GERALDO

Boas noites a todas e todos, aos integrantes da mesa, e quero parabenizar a Fundação Maurício Grabois por esse ciclo de debates. Começou na segunda passada e estamos aqui hoje, isso que é importante. Bom, primeiro, assim, tanto o Walter quanto o Aldo, eu acho assim que nós vivenciamos essa situação política no plano mundial e nacional em que o avanço dos setores conservadores foi muito contundente, principalmente nesse ano. Eleição nos Estados Unidos, toda essa conjuntura aqui na América Latina com um receituário muito parecido. Cristina Kirchner ameaçada de ser presa; movimento de rua financiado pela CIA contra o Nicolás Maduro, lá na Venezuela; e toda essa situação política que vivenciamos aqui desde 2013 para cá, no nosso país, que culminou nesse golpe dado contra um governo legitimamente eleito.

Bom, tudo isso nos remete a uma nova realidade, uma nova conjuntura, com mais dificuldades para o nosso campo e a necessidade de rearticular esses setores populares democráticos. Não só os partidos, os movimentos sociais, as lideranças políticas e intelectuais, que possam construir um novo, uma nova plataforma de luta, uma nova plataforma de resistência. E, acima de tudo, um caminho para que a gente volte a retomar, sabe-se lá durante quanto tempo, mas, o trajeto que o Brasil vinha tendo nos últimos 13 anos. E isso não é uma coisa simples. Inclusive, acho que uma matéria que o Walter escreveu, que está na revista Princípios, aborda bastante isso. Eu li com uma certa atenção, precisaria ler com mais atenção, mas aquilo chamou a atenção, um pouco, o raciocínio. E, também, acho que a nossa direção nacional se reúne, agora, no final de semana para contribuir bastante nesse sentido.

Mas eu queria deixar uma pergunta aqui, porque, veja só. Nós estamos abordando, ainda de forma inicial, a necessidade de construir uma nova frente, uma articulação em nível nacional, para que esse campo popular e democrático venha conquistar ou retomar alguns determinados espaços. Nem vou falar de esquerda ainda, porque seria liminar muito falar só enquanto esquerda. E essa questão da reforma política, que foi bem abordado pelo Walter, aqui, e também pelo Aldo, também é um dos instrumentos de estrangulamento da nossa representação popular, democrática, do nosso país, dos trabalhadores. E existem aí alguns pontos que mais chamam a atenção, e que são os mais nevrálgicos perante o debate feito no Senado na semana passada, que é a questão da cláusula de barreira, que é a questão do fim das coligações proporcionais. Agora, chama a atenção o seguinte: quando a gente vai discutir a questão de ter uma frente em nível geral no país para resistir ao avanço do neoliberalismo, das forças conservadoras? Nesse item, como se comportam os possíveis aliados nossos nessa nova frente? Como se comportam, não é só o PT, o PSB, o PDT, nessa discussão. O próprio PSOL, mas principalmente esses partidos de centro-esquerda com maior expressão dentro do parlamento e com mais força eleitoral na sociedade – o que não quer dizer que é força do movimento social como um todo. Mas também o PT influencia o movimento social. A CUT, outras entidades são dirigidas pelo PT. Então, também o plano da mobilização popular, dos trabalhadores, também isso pode, ou sofre algum tipo de ruído nesse sentido. Então, eu acho que era bom, se possível, colocar um pouco mais como é que isso tem se dado nessa discussão, na atual conjuntura no Congresso Nacional com essas forças políticas assim como nessas articulações, a Frente Brasil Popular, essas outras mobilizações aí que tem de resistência, como tem se dado o debate sobre essa questão da reforma política, que é um dos elementos, claro, tem vários elementos em pauta. A PEC, cerceamento, criminalização dos movimentos sociais. Mas aqui, nesse caso, vai direto na representação do povo, dos trabalhadores, nos espaços de poder político ora vigentes num país capitalista como o Brasil.

LEOCIR COSTA ROSA

Obrigado, Wander. Já está aqui na frente Manuela Braga, diretora de formação da UJS. 

MANUELA BRAGA

Não precisa ter esse formalismo todo não, né? Boa noite a todas e todos, queria saudar aqui a mesa, Leo, Walter, o Aldo, companheiro de várias batalhas na coalizão da reforma política. Eu acho que não tem como a gente iniciar o debate falando da reforma política sem falar um pouco do cenário das eleições. Primeiro, porque foi uma eleição atípica, com 45 dias, sem o financiamento privado de campanha. Ou pelo menos sem o modelo tradicional de financiamento de campanha e que, obviamente, tiveram-se resultados expressivos, sobretudo do nosso campo, progressista, democrático de esquerda.

E também não tem como deixar de analisar diante disso aqui o questionamento e a negação da política que foi colocado pelo povo brasileiro como um todo nas urnas. Para exemplifica, eu diria o caso de São Paulo. João Doria, o grande discurso dele no telemarketing. Quem acompanhou, viu os programas dele na televisão, o grande marketing dele é o seguinte. Eu não sou um político. Sou um gestor, um administrador e venho aqui para administrar São Paulo. E, no final das contas, foi esse o discurso que ganhou. Tentaram pregar nele a marca e a imagem do João Trabalhador, que acordava às 5h da manhã desde sempre para trabalhar, estudou em escola pública. Mas, em síntese, ali, o que ganhou foi o discurso “eu não sou político, sou gestor”.

Então, existe uma aversão forte na população à política. Na verdade, eu diria a política do senso comum. Porque o sistema político acaba ficando para a população como um todo denominado como a política. Mas, ao mesmo tempo que eu acho que tem. E aí é uma reflexão que eu sempre coloco muito, que junho teve grandes aspectos positivos e grandes aspectos positivos que a gente não pode se afobar muito, como dizem em Pernambuco, nem para avaliar pontos positivos nem para avaliar os pontos negativos. Mas eu acho que algo ficou inquestionavelmente foi uma necessidade maior da população ter opinião, colocar opinião. Debater a política, seja ela se é formada pelos grandes meios de comunicação, pelas manchetes do facebook, como é o caso da juventude.

Então, eu diria que a gente está num momento propício para debater e conversar alternativas de mudança, de construção de sistema político com a população. Porque existe uma vontade de participação. E eu destacaria uma vontade de participação sobretudo da juventude. Que vem cada vez mais participando e querendo dar opinião sobre sistema político, sobre as formas de participação. E eu acho que tem algo assim que está a nosso favor. Estou bastante otimista que essa questão da negação da política e uma necessidade de apontar o futuro, porque as eleições estão demonstrando que o discurso da esquerda de que é golpe, foi um discurso que não ganhou nas urnas. Precisa, o povo, no final das contas, saber “tá bom, até foi golpe, pode ser. O Temer tá aí mas, daqui para frente, o que vai ser?” E eu acho que a gente conseguir lançar uma grande coalizão, não só da esquerda, mas do campo democrático, do campo progressista, ir para as ruas. Falar com a população, pensar futuro, dialogar em relação à proposta talvez seja a nossa grande saída para poder denunciar o governo Temer, o governo golpista, que tá imposto e também para resistir. Queria também pedir para a mesa falar um pouco sobre o debate da frente ampla. Porque eu acho que é um debate que se coloca cada vez mais. Acho que é um negócio que não depende só da gente, mas da disposição do conjunto dos movimentos da esquerda, mas que talvez seja uma alternativa, algo para constar nos nossos debates sobre os rumos da esquerda e dos defensores da democracia daqui para frente no Brasil.

LEOCIR COSTA ROSA

Obrigado, Manuela. Queria chamar então Marilene, da direção nacional da CTB. Marilene Betros.

MARILENE BETROS

Uma boa noite, um aché caloroso da Bahia, a Bahia da magia, do acarajé. De gente bonita, muita gente bonita. E trazer aqui também a nossa tristeza pelo falecimento do comandante Fidel. Viva Fidel! Hasta siempre! E dizer que nós, sob o comando do nosso Nivaldo Santana, nosso vice-presidente da CTB nacional, nós tivemos hoje no consulado de Cuba, onde entregamos um documento, não é isso, Nivaldo Santana? Nos solidarizando e, também lá assinamos o livro de condolências, onde deixamos a nossa perspectiva de que Fidel plantou uma semente e essa semente deve ser cultivada e recomendando que também nós façamos o mesmo. Estejamos presentes nesse período aí no consulado. Até a sexta-feira vai estar aberto, funcionando, para quem quiser assinar o livro de condolências.

E aí, saudar essa iniciativa da nossa fundação gloriosa Maurício Grabois e debater nesse momento político em que nós precisamos debater, conversar, dialogar. Porque hoje eu fiquei com mais incertezas ainda. Preocupada e angustiada mais do que tudo. E, vejam bem, querido Aldo. Nesse momento de incerteza para o nosso país, a gente sai, foi às ruas, gritando “Fora Temer”. Eu, quando vocês começaram, quando Walter estava falando ele disse “primeiramente” e eu, lá do fundo falei “Fora Temer”. Aí, Walter diz assim: “temos preocupações grandes”. E é verdadeiro, essa análise é muito correta. Só que a gente está levantando a bandeira, fazendo barulho pelo fora Temer e a gente precisa é ter essa colocação, por isso eu preciso que você voltasse a essa discussão com o Aldo, porque a gente, a juventude está aí na rua, o movimento sindical está dizendo “Fora Temer” e a gente sabe o que tem por aí, que está construído e o que vem se o Temer sair creio que será muito pior. Mas o que fazer? Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. A outra questão, que me deixou também muito preocupada é quais as possibilidades hoje que nós temos nessa Câmara retrógrada e com a situação posta hoje, pintada pela grande mídia, do PT acabando, dizendo que o que não presta é o PT. Quais as possibilidades que nós temos para negociar essas mudanças necessárias, que nós sabemos que não vamos conseguir barrar, pelo menos é esse o meu sentimento hoje. Então, se não conseguirmos mudar, barrar, quais as possibilidades? E, por fim, eu quero colocar o seguinte. Nós estamos nesse quadro adverso. Wander colocou aqui muito bem. Vocês também colocaram. Há uma necessidade de a gente continuar esse debate, esse diálogo, mas como nós vamos retomar a agenda nacional de desenvolvimento e recompor as forças de esquerda para lutar por essa reforma, que eu acho que você traz algo importante. Não adianta a gente estar lutando por outras quando a reforma política vai nos engolir e vai trazer mais e mais retrocesso aí para o nosso país e nós estamos sofrendo, essa Câmara adversa e nós vimos aí o resultado. Então, eu continuo gritando “Fora Temer”. Obrigado.

LEOCIR COSTA ROSA

Muito bom Marilene. “Fora Temer”. Meus amigos, a partir de agora a gente abre para eventuais perguntas. Para o público, quem quiser já pode ir se inscrevendo. Pode ir se dirigindo aqui até a mesa.  

MARILENE BETROS

Aliado ao “Fora Temer”, que queria fazer um protesto. Cadê as mulheres na mesa (palmas).

LEOCIR COSTA ROSA

Registrado o protesto aqui.

MARILENE BETROS

Adorei o “registrado o protesto” (risos) 

LEOCIR COSTA ROSA

Vamos tomar as providência para nos próximos, as próximas mesas. Como foi dito aqui, a Fundação Maurício Grabois, então, é um espaço democrático, de debate, de confluência de ideias progressistas e do pensamento marxista. Então, o momento político do país é bastante singular. Apesar aí do problema de agenda e de final de ano, nós vamos dar continuidade ao nosso ciclo de debates. Existem aí uma série de, como o Walter disse aqui, lembrando a fala do Renato, não é simplesmente uma viragem política. É uma mudança de ciclo, uma mudança de ordem política colocada, que mira a Constituição de 88, então, a gente percebe, sabe de muitas propostas do governo para transformar o que nós construímos lá atrás, em 1988. Então, nós não vamos parar por aqui. Feito o registro aqui da Marilene, nós vamos tomar esse cuidado, claro, que é sempre preservar aqui a proporcionalidade da representação da mesa.

Então, enfim, está aberta a palavra. Quem quiser formular alguma questão tem três minutos. Nós temos um teto aqui até um pouco antes das 10h. Dez horas, enfim, se encerra aqui o debate. São 8h34, o Aldo está propondo aqui fazer uma rodada aqui de respostas, diante das três questões formuladas. Mas, eu pergunto novamente, tem alguém que gostaria de formular mais alguma pergunta?

ALDO ARANTES

Então, gente, a Manuela levantou uma questão aqui que eu acho muito importante. Eu não vou responder na ordem, não.  Que é o problema da rejeição da política. Tem tudo a ver com o que nós estamos discutindo. Tem tudo a ver com a discussão da reforma política.

Aí, se pergunta, qual a razão da rejeição? Por que a coisa cresceu tanto? Eu penso que tem duas razões. Tem outras, mas eu destaco duas. Primeiro, é que a rejeição da política faz parte do projeto neoliberal de despolitizar a sociedade. Menos política, menos partidos, menos políticos, menos democracia. A coisa está absolutamente ligada. Portanto, nós vivemos numa conjuntura complexa. E essa ofensiva de reduzir a participação da sociedade na política, de despolitizar a sociedade, é uma arma para implantação do projeto neoliberal no mundo e no Brasil.

Mas tem uma outra vertente que nós não podemos nos esquecer. É o sistema político brasileiro, que é a política da corrupção, da mentira, do engodo, do distanciamento da sociedade. Isso torna a questão mais complexa. E, na medida em que nós não tivermos capacidade de politizar a sociedade, para que a sociedade fizesse a crítica ao sistema. Perceber se no que está em curso a despolitização da sociedade, isso deu armas para o adversário, mais uma forma. E o erro que se cometeu de não politizar a sociedade, não colocar essas questões políticas no centro do debate, contribuiu para isso também.

Então, eu acho que, na verdade, é um problema sério. Daí a importância desse debate. Porque o golpe, foi um golpe político. É claro que tem uma dimensão econômica, e uma questão social, etc. Mas, digamos assim, o eixo principal é político. O golpe foi político e nesse sentido é visível a reflexão nossa. E dessa reflexão, resultam as preocupações que foram colocadas aqui. Que, no fundo, é uma única preocupação. Que exatamente o que fazer agora. Como é que nós vamos articular as diversas forças para enfrentar essa situação.

Eu penso, e essa é a questão que está em discussão, não é uma coisa fechada. Porque é uma coisa complexa. Mas eu penso que essa coisa não dá para botar nome, na minha opinião. Frente Ampla… frente ampla foi uma experiência lá do Uruguai. Não sei. O problema não é o nome, como eu digo, não é o nome de candidato. Não é o nome, é como você construir esse processo de convivência política, que possa resultar numa amplificação. Não só da esquerda. A esquerda não é suficiente para resolver o problema.

A esquerda tem que ser um núcleo. Mas que tenha capacidade de unir o povo brasileiro em milhões de brasileiros. E aí eu penso em duas dimensões. Primeiro, a luta em torno dos problemas imediatos. A luta exatamente contra essa tentativa de votação de implantação de contrarreformas. A luta contra a reforma trabalhista, contra a questão da reforma da previdência. Contra a questão da quebra do patrimônio nacional. Enfim, da entrega dos nossos recursos. Enfim, no conjunto de lutas imediatas. Mas isso não esgota todas elas. Tem uma outra luta que você construiu a unidade em torno de um projeto.

E aí que a coisa, na minha opinião, só se pode construir um novo projeto e construir uma unidade real, porque aqui não há piloto. Vamos unir, tá legal. Unir um que atira para a direita, outro que atira para a esquerda. Porque tem um problema de fundo no meio da esquerda. Qual é? Concepções táticas diferenciadas. E aí, você, nesse objetivo, num plano mais, digamos assim, de um projeto de nação, você não vai chegar a conclusão nenhuma. Porque, por exemplo, tem gente que critica a experiência do Lula e da Dilma porque fez aliança. Aliança faz parte da tática que nós defendemos.

E a tática é o seguinte, você não pode colocar o objetivo mais radical que a sociedade não entenda. Você tem que ir construindo através da luta, acumulando forças, para você ir num processo de radicalização. É o que o partido faz. Ampliar radicalizando, radicalizar ampliando. É que tem gente que acha que radicaliza e fica sozinho, não faz nada. Então, como é que você vai botar num mesmo saco. E isso tem a ver com a discussão que nós fizemos aqui. Enquanto você tem, de um lado, uma coalizão com apoio amplo, vem o problema da constituinte exclusiva, estreito. E aí, você paralisa o movimento social.

Então, uma coisa nós temos que unir com todo mundo que quiser lutar contra “Fora Temer”. Quer dizer, a favor do “Fora Temer”. Eu acho que o “Fora Temer” tem que colocar. Mas que esteja, digamos assim, unificado em torno da luta contra esses objetivos imediatos. Porém, eu disse, nós temos que elaborar um novo projeto par ao Brasil. Para ser unificado. E aí, quem é que vai unificar? É uma pessoa? É um indivíduo? Vão ser as forças capazes de se entender em torno de um novo projeto. E esse novo projeto, eu disse aqui e reafirmo, ele vai surgir da inteligência coletiva e vai surgir, sobretudo, de uma análise dos acertos e dos erros do passado.

Eu li recentemente um texto, que é uma análise dos cadernos de Lenin sobre a dialética de Hegel. É uma coisa que Hegel fala e que Lenin concorda. Marx já praticou isso, que a ciência só evolui, o conhecimento só evolui, na medida em que você valoriza o acúmulo. Tanto que Marx, ao formular o marxismo dialético, o materialismo histórico, ele incorpora as três vertentes da ciência daquele momento. A economia, da Inglaterra; a política, na França; e a filosofia da Alemanha. Mas, só teve condições de dar um passo para uma nova ciência, na medida em que identificou as falhas tanto na economia quanto na política, como na filosofia.

Então, nesse momento, que nós temos ao lado da luta imediata, temos que ter a capacidade de identificar esses erros que foram cometidos. Porque só assim nós vamos ter condições de formular. E tem que ter também a disposição e a capacidade de fazer a luta teórica. De enfrentar, como eu disse. Nessa hora, não dá para você simplesmente apresentar. Você não constrói um consenso se não for em torno de uma proposta. É só ver a experiência de Lenin. Ver a experiência de Mao Tsé Tung, ver a experiência, enfim, dos grandes revolucionários. Foi necessário você ter propostas, que num determinado momento elas eram polêmicas, mas só com base nisso ele conseguiu unificar o núcleo e foi capaz de levar o processo transformador. É isso que eu penso, minhas ideias de qual poderia e qual deveria ser o caminho.

Então, retomando e sintetizando. Eu acho que nós temos duas versões da luta, do que poderia ser uma frente. Uma, de caráter mais imediato, essa vem todos os setores que têm diferenças táticas, mas, desde que esteja disposto a unir, é um pouco do que acontece hoje na Frente Brasil Popular. Então, nem é unificar, só que lá tem contradições. É indiferente. A esse projeto, mais a longo prazo, é necessário exatamente essa convergência em torno de um novo projeto que o Brasil necessita. Essa é a minha opinião sobre essas questões que eu acho que, na verdade, se resume, na minha opinião, à preocupação com o que foi levantada aqui.

WALTER SORRENTINO

A mesa está em dificuldades aqui porque quer saber se mais gente vai se inscrever. Para a gente saber como governa as coisas aí. Concordo com as questões que o Aldo levantou. São todas questões muito difíceis e o tempo é escasso. Eu posso, no máximo, responder como eu raciocino em torno delas. Não sei se dá para ajudar. Comentando também algumas opiniões do Aldo Arantes, com as quais eu me identifico completamente. Esse problema da Marilene – Sente aqui na mesa, Marilene, vem ser a mulher na mesa, pronto. Vem cá, Marilene, sente aqui ao lado do Aldo Arantes, faz o favor. Você tem representatividade o suficiente, vai lá! Você ainda saiu no lucro, que era para ser Vicente Cândido, Orlando Silva e Aldo Arantes (risos).

Eu expressei uma forma de raciocinar sobre essa realidade em curso. É uma realidade tempestuosa. São condições anormais de temperatura e pressão. Crises políticas e institucionais, que chegam à crise de governo, podem assumir feições inesperadas. Pode até haver, como se diz, um fato complemente secundário, que causa um incêndio. Como dizia Mao Tsé Tung. Quer dizer, essa situação, eu não sei como se fala isso com o resto do Brasil, mas é como se esses fios de eletricidade, de rua, quando eles se rompem, eles ficam dando lapada, né? Aqui em São Paulo se fala assim. Fica dando lapada. Fica chicoteando, pronto. Todo mundo com medo, porque ele pode tocar em algum lugar ali e causar um grande choque. Está uma situação desse tipo. Então, é uma coisa que demanda um pouco de profundidade. A gente ver como se situa para fornecer saídas.

As palavras são simples de expressar. Mas as consequências das palavras não são tão simples de expressar. E a coisas que, na política, demandam tempo de maturação. Como dizia o Marx, a aparência não é a essência. Se a aparência fosse essência, não precisava da ciência. Por exemplo, vamos pegar o Collor. Jornadas memoráveis da juventude renderam o impeachment do Collor. Alguém se arrepende?

Agora, companheiros, o impeachment só saiu quando houve um acordo das elites, encabeçado pela Globo, para tirar o Collor. E resultou em Fernando Henrique Cardoso, em 94, por dois mandatos. É preciso examinar as consequências. Nós temos uma bandeira. Defesa da democracia, do estado de direito, da legalidade democrática. Preservar as conquistas sociais alcançadas, contra a 241, reforma do ensino médio, etc, etc. E pela soberania. Isso ficou expresso no “Fora Temer”, como denúncia de um golpismo.

Mas isso é um pouco. Vamos manter. A plenária da Frente Brasil Popular vai se reunir. Na verdade, eu não sei como, nacionalmente, a semana que vem. Quarta-feira, nós vamos preparar o nosso documento sobre isso. Então, precisa pensar. Alguém tem claro? E política é assim, companheiro. Não tem tempo. A situação fica nebulosa. Nós não podemos levar água para o moinho dos outros sem se aperceber, ser a azeitona na empada dos outros. Uma proposta de diretas já pode ser nosso desbenefício, nossa desvantagem. Um impeachment sem saber qual a consequência que isso teria. Então, é o momento em que você não tem essa saída que demanda tempo de uma reavaliação.

E eu diria, Marilene, mais do que isso. Demanda a força. Cadê a força? Social, política, conosco. Trabalhadores não aceitam a reforma trabalhista, previdenciária. “Vamos para a avenida Paulista”. Não vai, não! Ainda. Cadê a força? Que alguém, ela mesma pergunta são 400 (inaudível – 29:04) massa de manobra desse Congresso. Nós temos 400 deputados contra nós. Dos 100 que restaram, até dependíamos do PT, que mudou de posição sofre a reforma política. Continuam doutrinariamente pela cláusula de barreira e fim das coligações, como sempre foram, nesses 20 anos. Mas, percebendo que está isolado, soma conosco. Cadê a força, compadre? O que eu estou argumentando é exatamente por conta dessa realidade, estou refletindo. É a minha reflexão.

O melhor é embaçar tudo. Porque, no meio desses 400, a grande maioria, que é o baixo clero, duzentos, pelo menos, perto do Eduardo Cunha, e muitos mais. Você depende para sobreviver da regra eleitoral. Ele não pode confiar no presidente do partido dele. Uma posição doutrinária do partido dele. Ele precisa… é esse o sistema brasileiro. Votação nominal. Ele vai pensar com seus botões. Mas eu me elejo aqui? Não é melhor esperar um pouco? Não vamos votar isso agora? Essa crise aqui, será que o Temer permanece?

Então, nós devemos nos aproveitar temporariamente dessa crise política e de governo, que faz parte de uma crise institucional muito séria, que ninguém sabe onde vai dar. Como os nomes tem indicação, a crise institucional a qual eu me refiro é um grande enfrentamento público total entre o estamento burocrático do estado brasileiro e o estamento político. O estamento burocrático é o Judiciário, é a Polícia Federal, o Ministério Público, combatendo frontalmente o sistema político. Os deputados, o Senado, mandam invadir o Senado. Onde vai dar isso, companheiros? Onde vai dar isso? Então, nesse ambiente, em que todos os gatos são pardos, a gente deve tentar se aproveitar para evitar a reforma política. É a minha reflexão.

A respeito do Aldo, é uma coisa interessante que a gente deveria. São outros níveis. São dois níveis distintos de questão. A principal questão é o poder do dinheiro. Estou de acordo. Agora, talvez houvesse uma questão essencial que nós devemos preservar. Ele mencionou que a principal, mas que não é essencial, é o pluripartidarismo proporcional. Esse é o bem maior da democracia brasileira. Pluripartidarismo proporcional, a última linha de reserva nossa. A última linha de recuo. Tentar segurar isso.

Manuela  pergunta dos resultados de 2016. Manuela pediu para a mesa falar sobre isso. A mesa não fala, então, vou falar eu, Manu. Eu acho o seguinte. A eleição de 2016 consolida, em alguma medida, manobra golpista do impeachment da Dilma. Ela é composta de uma vitória conservadora, com maior pulverização partidária, o que denota também a crise do sistema partidário, de algum modo – que é manipulada pela direita para fazer a reforma eleitoral. Mas há uma crise. E pela recusa política expressa em votos brancos, nulos e abstenções. No Rio de Janeiro, chegou a 43%, por exemplo.

Agora, todos esses três fenômenos têm por base comum um único fenômeno, que é o afundamento do PT, que gerou essa dispersão. Os votos do PT foram nessa direção. Uma das três direções. E a gente precisa analisar mais a fundo, evidente, como diz a Manuela, tem fenômenos positivos.  Isso é implícito. E eu, para não ir muito longe, mostro que mais uma vez a vanguarda tem sido a juventude, é muito frequente isso na história do Brasil. É a linha de frente. Isso é ótimo e já está se formando a futura geração política real. Nós já estamos garantidos para o futuro, porque essa juventude está se politizando. Como nós, no nosso tempo, digamos aí, 30-40 anos.

Bom, agora ela pegou por um lado, eu pego pelo outro. De fato, não foram eleições despolitizadas. Houve recusa política, houve conservadorismo, houve fragmentação. Mas não foram despolitizadas, companheiros. A questão nacional não foi a arma de campanha capaz de garantir a vitória. Mas a questão nacional estava subjacente a tudo. E a mensuração disso é o tamanho da queda do PT.

Desde o interior do Amazonas até Porto Alegre, era esse o problema de fundo. Elas não foram despolitizadas propriamente ditas. É que, às vezes, se confunde a despolitização com a falta do debate nacional para disputar as eleições municipais. Nós temos diversos exemplos para mostrar o seguinte. Quem tentou fazer da eleição municipal… botar Lula e Dilma na frente, perdeu a eleição. Quem resolveu fazer da eleição municipal um ataque frontal a Lula, perdeu também.

Eu conheço a Eliziane Gama, nossa aliada, PPS do Maranhão. Ambiciosa, quer ser a governadora no lugar do Flávio. Mas, enfim, foi candidata a deputada federal. Ela era para ser a mais votada do estado. Quando abriu as urnas, foi uma decepção. Ela não se elegeu. Ficou numa suplência distante. Ela perguntou para o Flávio, “não consegui entender”, chorava. Então, minha filha. O Maranhão está aqui. A vida dos munícipes é essa, as dificuldades são essas. Aqui é onde a Dilma teve mais votos, 60% dos votos. Você fez a sua campanha a denúncia de Dilma, você não propôs nada. Ela perdeu feio.

Então, são exemplos assim que a gente pode citar. Terceiro problema, e o principal. Ah, não. Eu comento mais uma coisa com o Aldo. De tanto que eu dialoguei com ele, fiz a resenha dele no livro dele no blog. E comentava com ele a correção do esforço que ele faz para analisar erros e limitações, além dos acertos desse ciclo de 14 anos.

Deixa eu começar por um outro ponto. Não, não, deixo esse para o fim. Eu acho que ele tem razão. Agora, nós temos diferentes modos de expressar as coisas. E, às vezes, diferentes tipos de reflexão. Eu acho que os acertos predominaram. Eu acho que houve muitos erros de condução política. Eu acho que houve muitas limitações estratégicas.

Erros de condução política. Lula, depois do mensalão, supondo que ele fosse ser alvo do impeachment, resolveu mudar o eixo de alianças. Se aliou ao PMDB. Que o PCdoB propunha desde 2003. Uma aliança necessária, correta, com base programática e que tivesse um núcleo de esquerda. Vocês lembram, o Lula deslocou o núcleo de esquerda para fazer a aliança com o PMDB. Nos obrigou a fazer um bloquinho de esquerda. O Eduardo Campos não estaria onde esteve se ele não tivesse sido excluído nessa hora. Foi um erro de condução política. Acontece com qualquer um. Nós temos que fazer um exame multilateral, inclusive autocrítico. E nós, não erramos?

Então vamos lá, com calma. Isso leva tempo. Agora, Dilma. Dilma foi eleita em 2010. O primeiro ano de Dilma ela namorou a agenda da faxina, aquela da reação, da Globo, do Estadão. Ela ficou se fazendo de desentendida ali. Depois, veio 2013. Que é óbvio que tem uma origem progressista, importante. O MBL se transformou numa grande manifestação de massa, potencialmente contra nós. Ela também namorou. Ela falou “ouço a voz das ruas e vou propor – não sei o quê, não sei o que lá”. Aquilo era contra nós. Já estava nascendo. Não posso culpá-la, porque são fenômenos novos, demoram para você, às vezes, entender.

Mas a Dilma ganhou a eleição de 2014, ela resolveu triscar o PMDB, dizendo que o PSD, do Kassab e do Cid Gomes, era PR, na época, deviam substituir o PMDB. O impeachment nasceu ali. O PMDB falou, “não vem que não tem. Assim não dá”. Depois, veio 2015, resolveu o governo apresentar um candidato a presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, que não ia juntar nem 120 votos. Virou uma coisa maluca. Porque o certo, ali, era construir uma candidatura ampla, fora do centrão, contra Cunha.

E esse candidato, provavelmente, poderia ser do PMDB. Poderia ser de um partido aliado. Não seria nosso. Esse é um erro de condução política. Erro na má análise da correlação de forças. A Dilma ganhou a eleição de 2014 na defensiva. Já estava em defensiva. E não se deu assim a situação. Aliás, quem ajudou muito ela nessa leitura errada foi o  Mercadante.

A Dilma errou na condução política no pós-eleitoral de 2014. Quer dizer, é um problema complexo. É evidente que ali você só poderia repactuar, pois nós já estávamos na defensiva. Nós não tínhamos suficiente apoio social e político. Ela fez 54 milhões de votos, mas nós estávamos na defensiva. Lamento informar, se tivesse mais uma semana de eleição, perdíamos a eleição.

Ela não leu assim essa eleição. E logo depois, sabendo que as margens de manobra da economia começavam a se estreitar brutalmente, ela chamou o Levy e mandou fazer um ajuste fiscal. Eu estou falando do ponto de vista político, não econômico. Não dá para a população entender um negócio desse. “Mas, em que mundo que você vive?”. Agora, gente, muita fraternidade, muita autocrítica também. Muita humildade para fazer um exame desses, que vai demorar um pouco. E nós dentro deles. Porque, sobre o que diz o Aldo, eu organizei a minha reflexão, e não é a do partido, da seguinte maneira. As limitações estratégicas.

O PT na condução desse projeto, sobretudo com Lula. Lula era diferente do PT a partir de 2006, porque tinha o lulismo. Primeiro, o PT não nasceu e não tinha clareza de um projeto nacional em todas as suas consequências da sexta economia do mundo. E se fazer sentir e ouvir, defender seu interesse.

Porque não tinha um projeto nacional claro, bem concebido, firme na sua formação, não tinha uma estratégia madura para alcançar esse projeto nacional. Por isso, nós ficamos batendo lata, falando de reforma estrutural. Isso entrava por um ouvido, saía por outro.

Não tem uma estratégia clara. E, finalmente acho, o Aldo concordando, que acho que foi uma das únicas experiências da esquerda que eu conheço. E olha que a esquerda no século XX fez muita coisa. Se tem alguma coisa que caracteriza a experiência de esquerda, é ter clareza sobre uma agenda de estado, para modificar o estado a serviço de um novo projeto.

O PT tinha essas ilusões. O PT, no DNA, tem uma visão liberal da democracia. A visão da USP. É a visão dos direitos sociais, os direitos de identidade, das conquistas sociais. E a democracia é essa aí, que existe. Portanto, o estado é esse que existe. Então, o Aldo tem toda a razão. Eu só diria que eu ligo isso mais profundamente à ausência de um projeto nacional. Até te mandei por e-mail, mas assim, para estimular o nosso debate. Não tem contradição alguma.

Por último. Esse problema das frentes, que todo mundo acabou perguntando. Vejam só. A minha reflexão se organiza assim. Nós precisamos de unir forças muito vastas, a partir do povo até todas as forças democráticas, as forças progressistas, personalidades liberal-conservadoras, que seja. Eu digo mais. Até, Marilena, fazendo acordos tópicos, até com adversário, para poder resistir. Pontuais. Tipo, vamos votar em Rodrigo Maia.

Porque o PCdoB, companheiros, vive de política. Política com “P” maiúsculo. Política é a forma mais elevada da consciência social. Se a gente vai resistir fora do sistema político, nós vamos ser um alvo mais fácil. Fora das instituições democráticas, definidas pela Constituição de 88, que eles estão destruindo e não eu, nós vamos ser presas mais fáceis. O mais fácil numa situação como a da esquerda, numa hora dessas tão difícil, ele vai se encartelar nas montanhas, esperando o tempo ruim passar. Não, nós temos que resistir na planície, no meio de uma multidão.

Noventa por cento da sociedade brasileira é centrista. As forças de centro estão na sociedade. O sistema político não as representa. Então, nós temos de temos de ter uma política ampla. Essa frente, companheiros, ela é o diapasão. Uma nota, como diz o Renato Rabelo, é uma nota que o maestro solta e fala “nós vamos cantar em ré maior”. E todo mundo tentando cantar em ré maior.

Não é uma frente orgânica, que nós vamos sentar em torno de uma mesa e negociar tudo. Nem é a Frente Brasil Popular. A Frente Brasil Popular é uma frente de massas desta frente ampla. E outras, porque tem a Frente Povo sem Medo. O que nós precisamos é dar um diapasão, que tem que ser muito largo, muito amplo, muito profundo. Que não é só os direitos sociais. Embora isso seja indispensável.

Isso tem que se ligar à democracia. Democracia, estado de direito democrático. Legalidade democrática. Contra a prisão de Lula. Aí, eu posso juntar uma multidão. E não só as forças organizadas, que compreendem o que é a 241, a reforma trabalhista. Porque o trabalhador está ali, esperando melhorar alguma coisa. Não está ativo. 

Isto é uma frente ampla. Então nós temos uma tarefa simultânea, mas diferente. Dentro deste curso da resistência, nós devemos tentar apresentar uma perspectiva. O nosso papel é apresentar perspectiva, não é só resistir, pô. Para essa perspectiva é outra coisa. A pauta que se coloca, que está muito verde é mais falada do que o diabo. Ou do que Deus. Mas, está muito verde. É o seguinte. Nós precisamos produzir uma nova síntese programática para esta situação brasileira, onde o nosso projeto nacional ficou mais difícil de ser retomado e prosseguir adiante.

Essa síntese programática tem que ter no centro a ideia de um projeto nacional. Porque, sem democracia, companheiros, não há participação do povo. Mas só a democracia não constrói um projeto de nação. Tem que ter direitos sociais, mas só direitos sociais não constroem um projeto de nação. Aliás, liguem: democracia e direitos sociais é o DNA do PT. Fez boa experiência. Foi vitorioso, conquistou muitos êxitos. Mas deu no que deu.

O problema é unir as forças em torno de um programa desses. Que construiu uma força que é frentista unindo, como se diz no 13º Congresso do nosso partido, um bloco de afinidade progressista com as bandeiras da esquerda. Das forças progressistas e democráticas. Isso poderá ser, ou deveria ser, a criação de uma nova organização política que reconfigure a esquerda brasileira. Que incorpore o PT – nós precisamos do PT forte e de Lula para disputar eleição. Mas que acaba com o hegemonismo do PT.

Não tem a menor chance de o PT continuar sendo o partido âncora da esquerda brasileira, como foi nesses 14 anos. E que força nós vamos botar no lugar? É o PCdoB? PCdoB agora vai ser hegemônico e liderar? Vamos ser francos, companheiros. Não é esse o tempo dos comunistas. Então, nós temos que criar uma nova organização política da esquerda política e social. De personalidades culturais, intelectuais, do mundo da comunicação. Nassif, Paulo Henrique Amorim, Chico Buarque, Luiz Belluzzo. Juristas democráticos. Se possível e necessário, dar dimensão eleitoral a essa frente. Alguns chamam isso de Frente Amplo, a experiência uruguaia. Não é paradigma para nós. É diferente de Frente Ampla.

Alguns chamam de Concertação. Alguns chamam de Frente de Esquerda. Alguns chamam de Bloco de Afinidade, como nós. Não tem nome. É um monstrengozinho. Mas está na pauta para perspectiva. A frente ampla é para a resistência, dentro dela contém a necessidade de formar uma nova organização. Seremos capazes? Não está escrito nas estrelas. O que está claro é que precisa uma organização desse tipo, que una a melhor e maior parte da esquerda brasileira, repito, política, social e intelectual, cultural. A Frente Brasil Popular será um integrante dessa frente estratégica, digamos assim, como um braço de ação de massas.

Mas não é a Frente Brasil Popular o núcleo dessa nova organização política. Ela é uma parte. Eu posso dizer que demora para formular e ainda mais para construir. Mas posso dizer com segurança que, sem o PCdoB não existirá isso. É o que todo mundo está vendo. O PT compreende, porque boa parte do PT acha o seguinte “é, talvez seja uma boa esconder o PT atrás de uma frente para disputar eleição”.

E o MST, a Frente Brasil Popular não têm potencial para isso. Nem partidos são. PSOL não vem, companheiros. O dia que o PSOL vem para isso…, de jeito nenhum. De jeito nenhum. PDT vem? Olha, se o PDT vier, já muda de figura. Então, essa é uma construção. Finalizo dizendo que, portanto, nós temos que organizar a resistência dessa forma ampla. Nós temos que dar um balanço da experiência de 14 anos. Nós temos que construir algum tipo de perspectiva. Nós temos que ver os nossos próprios erros de 14 anos, ou limitações, ou insuficiências.

Isso é uma coisa, companheiros, que começa sábado agora, no Comitê Central, passa por um Comitê Central de março, que vai ser ampliado, com umas 400 participações, até o congresso, em outubro, é um ano para a gente debater e elaborar. Só que a gente não pode ficar parado enquanto elabora. Tem que lutar. Criar movimentos e operações políticas que nos deem protagonismo. Não é fechar para balanço. Então, os desafios são muito grandes. Mas é assim que eu vejo, o Wander.

Uma frente ampla, no seio dela tem que ser montado também uma frente que não tem nome, mas uma nova organização política. A ideia de federação pode coincidir com isso. Porque a federação poderia ser não só PT, PCdoB e PDT, digamos. Dependendo das circunstâncias, pode ser isso. A esquerda política, social, tipo frente amplo, embora a frente amplo não seja paradigma. O Uruguai tem três milhões de habitantes. Só Guarulhos e Campinas já tem três milhões de habitantes, então, não vamos brincar com isso. Mas à esquerda nunca faltou inventividade, capacidade criativa para encontrar o nosso próprio modelo. É assim que eu vejo. Mas isso está em debate.

LEOCIR COSTA ROSA

Fábio, é ex-dirigente da UE São Paulo e estudante de direito. Fábio, só se apresenta porque está gravando. Acho que na fala do Fábio, aí, a gente encerra as inscrições e parte para a etapa final que seria a conclusão de Aldo e Walter. 

FÁBIO

Boa noite para a mesa. Boa noite para o público. Eu sou o Fábio. Atualmente faço parte da comissão estadual de organização do PCdoB. Sou estudante de direito. Na verdade, são algumas dúvidas. E vi que o Walter fala muito essa questão das forças centristas. Das forças de centro. Eu li, faz tempo, o livro da Lúcia Hippólito, chamado “De Raposas e Reformistas”. Eu acho interessante nesse livro que ela escreveu, que ela fala sobre o papel das forças políticas de centro. E uma coisa que ela chama a atenção nesse livro. Ela pega a história do antigo PSD. Ela fala que na época, especialmente de 46 a 64, o PSD era o que equivale hoje ao PMDB. E ela fala que toda a realidade brasileira, toda vez que os partidos de centro deixam de cumprir o seu papel institucional de partido de centro, você tem um desequilíbrio institucional. Você tem um golpe de estado. Hoje, qual que é o papel que nós vamos ter que exercer para puxar novamente essas forças de centro? E aí, eu não vejo só como os partidos políticos – inclusive vocês pontuam isso, essa questão da própria classe média. Inclusive, essa classe média que são essa forças de centro, heterogêneas. Hoje você vê que elas são a base social de mobilização dos setores da direita. Esses setores foram cooptados. Como que nós vamos conseguir trazer esses setores para dentro dessa frente e qual que vai ser a construção de um programa para, inclusive, puxá-los. Ás vezes, eu vejo que é também ausente um discurso nosso de programa para esses setores no bojo, assim, da esquerda mais ampla. É um pouco disso.

LEOCIR COSTA ROSA

Prezados, não temos mais inscritos, aí a gente vai aí para a etapa final. Passo a palavra, então, para os dez minutos finais de considerações para Walter e depois para o Aldo.

WALTER SORRENTINO

Olha, minha resposta é rápida, viu. Até porque eu vou concordar com o  Aldo, que vai falar por fim. Eu acho assim, a maior parte da sociedade brasileira é centrista. Em que sentido, pode ter um ideário conservador nos costumes, o aborto, religião, homofobia, etc, mas é centrista. Está na sociedade, está sem representação política. Segundo, não existe vazio político. Há um enorme vazio hoje no centro e centro-esquerda. Precisa ser ocupado. Não existe esse vazio. O Ciro vai se apresentar, outros vão se apresentar. O Boulos está se apresentando. Então, há uma tendência. Terceiro, a ideia do impeachment de que acabou o centro no Brasil, me perdoem. Isso é uma ignorância histórica.

O centro se inclinou à direita e foi sequestrado pela direita. Um pouco antes, estava conosco. E nós perdemos. Foram para lá. Mas o centro é isso. PSD, Pmdebão, essas coisas aí. O Pmdbão tem gente boa também. Nos apoiou  para ganhar a eleição de Aracaju, de governador, governador bom. Então, pé isso.

De modo, companheiros, que uma direita orgânica, como na Europa e nos Estados Unidos não existe no Brasil. Ela está nascendo. Tem uma corrente de opinião, que pode dar 6%, 7% dos votos para o Jair Bolsonaro. Direita orgânica, xenófoba, contra imigrante, como o Trump, nos Estados Unidos, não existia no Brasil. Nesses últimos tempos, depois da Constituição de 88. Existia o DEM, mas faliu. O DEM faliu. O Caiado hoje é o sucessor do Íris Rezende. A Kátia Abreu, “a direita, latifundiária”, ficou com Dilma até o fim. Então, não existia. Está renascendo, fruto desses tempos, ok?

Então, também agora existe a direita neoliberal. Que é direita. A direita orgânica são os tucanos. Aliados do sistema financeiro, com a Globo, que faz a política da direita no Brasil. Eu acredito, companheiros, e é uma questão de tempo, uma reformulação. Isso não dura muito tempo. É que nós estamos em condições anormais de temperatura e pressão. Nós não estamos num curso normal.

Tanto que PMDB encabeçou o impeachment. Como você mesmo diz que a professora disse. Que quando perde o centro ocorre um golpe. Pode ser, nunca pensei nesses termos. Mas pode ser, de modo que eu tiraria uma lição disso. Pelo menos uma, já entre muitas outras. A esquerda não pode se autobastar. A esquerda sozinha não tem condições de resolver nenhum problema do país neste momento, estou dizendo.

Então, ela precisa saber navegar na planície. Separar o joio do trigo. Juntar força democrática de um lado e liberais do outro. Mas conservadores honestos, como Tancredo Neves, liberal-conservador, como Ulysses Guimarães. Agora, isso vai surgir com o tempo. Não tem muito jeito.

Nós devemos fermentar isso. Então, concordo. É uma reflexão rica que você traz, é assim que eu penso nesse exato momento. Um abraço. Obrigado pela presença e obrigado pelo carinho.

LEOCIR COSTA ROSA

Um abraço, Walter. Aldo, considerações finais. 

ALDO ARANTES

Essa questão de como puxar os partidos de centro político. O centro político, eu acho que uma das coisas que foi dita aqui, eu acho que é a bandeira. Eu acho que, nesse momento, o núcleo da luta política no Brasil é uma luta até pela democracia. E essa bandeira ela é capaz de mobilizar amplos setores.

E já aí contradições. Porque tem setores que menosprezam a luta democrática e, na verdade, menosprezam a Constituição brasileira. Quando grandes constitucionalistas, inclusive Dalmo Dallari disse que a Constituição brasileira é uma das mais avançadas do mundo, que incorpora direitos econômicos, direitos sociais. Enfim, uma série de coisas que estão querendo acabar, que está na Constituição brasileira, portanto, defender a Constituição brasileira hoje, tem não só uma dimensão propriamente política, institucional, mas tem também uma dimensão econômica, social e, inclusive, pela soberania nacional.

São princípios que estão incorporados à Constituição. Portanto, a defesa da Constituição tem a ver com a defesa da democracia. E essa bandeira é capaz de mobilizar amplos setores. Quer dizer, eu tenho essa articulação com os advogados, vocês sabem. E, num determinado momento elaboramos um manifesto em defesa da Constituição e um outro cujo título é assim “Quem trai a Constituição, trai o país”.

Exatamente porque, essa foi uma fala do Ulysses Guimarães ao promulgar a Constituição brasileira. Ele dizia, trair a Constituição é trair o pais. Quer dizer, nós sabemos o que ocorre quando a Constituição é rasgada. É morte, é violência, é tortura. Nesse momento, esse é o processo grave, com a quebra dos direitos. Então, essa bandeira eu acho que ela é fundamental para aglutinar e para atrair para outra coisa que eu acho relevante. É a mobilização da sociedade. Porque, na verdade, na política é igual na física. Quer dizer, se você tem um pólo forte, normalmente ele atrai.

Eu me lembro, na Constituinte, por exemplo. Às vezes, as pessoas não sabem direito o que aconteceu na política. Na Constituinte, se você fosse levar em conta apenas a composição da Constituinte, as articulações iniciais, aconteceu que a direita atraiu o centro. E formou o Centrão. Como é que nós saímos dessa história? O Departamento Intersindical de Assistência Parlamentar elaborou “Quem é Quem na Constituinte, de 0 a 10 na Defesa dos Trabalhadores”. Nós, parlamentares democratas e progressistas resolvemos botar placares no Brasil inteiro com a nota desses parlamentares. O que aconteceu? A direita, ela está na posição dela. A esquerda também. Mas o centro, ele varia. Varia conforme em função da pressão popular. E aí, o que aconteceu? Aconteceu – nós também estávamos num ascenso – isso adaptado às condições. Mas como levantamos a experiência concreta de que o pano de fundo é o mesmo. Varia a situação, mas mantém o pano de fundo.

O que aconteceu naquele momento? Deputados de centro iam quase chorando para o plenário. E o que aconteceu? O centro entrou compondo com o setor democrático, com a esquerda e resultou nessa Constituição. Então, na verdade, eu acho que você tem que ter bandeiras capazes de atrair esse setor. E, ao mesmo tempo, você se organizar e desenvolver iniciativas. Ser amplo, evidentemente, ser capaz de articular. E, ao mesmo tempo, você ter demonstração de força, que possa exatamente influenciar.

Agora, terminando, eu queria voltar a essa questão da frente. Eu acho que nós sempre temos que ter uma dimensão tática mais imediata e ter uma dimensão estratégica. Eu acho, sobretudo, que tanto a dimensão tática como a dimensão estratégica, eu considero que nós precisamos tirar uma lição, que eu acho que toda evolução política coloca que precisa se desenvolver mais a luta teórica ideológica.

Eu acho que nós fazemos pouco isso. Nós todos à esquerda, inclusive o PCdoB. Porque, nessa história não é suficiente você apresentar o projeto em termos afirmativos. Aí é uma coisa que eu queria discutir com você. Porque no email que você me mandou, você disse eu apresento a outra forma, em termos afirmativos. Na minha opinião, isso é para a gente debater. Mas não é suficiente. Eu acho que nós temos que ter a coragem de polemizar.

Porque, se você não polemizar, não fica claro quem é que está com uma posição correta. E, você polemizando – e essa que eu acho que é a luta teórica, que tem que enfrentar. Para isso também nós temos que nos preparar. Porque não dá para você fazer uma luta teórica de maneira superficial. Você tem que… e é aí que se coloca a importância desse tipo de debate, desse ambiente de reflexão.

Então, eu acho que nessa fase que nós temos, de fazer o estudo, a reflexão. Quer dizer que a luta teórica ao largo – e essa é a questão que nós sempre colocamos, mas eu acho que a nossa prática tem sido insuficiente. Eu acho que é essa questão que eu queria apenas ponderar.

E, de qualquer maneira, quero, digamos assim, agradecer a vocês todos, que ficaram aqui até agora. Quero mais uma vez reafirmar o meu elogio à Fundação Maurício Grabois. Eu acho que por aí está exatamente isso que (inaudível- 01:03:09) a fundação tem um papel importante e já está pensando… Eu tenho conversado com o Renato, por exemplo, a própria direção nacional tem levantado essa questão. Mas estamos diante de uma situação tão complexa que é necessário repensar a coisa não só aí, no Brasil, mas pelo mundo.

Porque o que o Renato fala, e com razão, é o seguinte. Nesse momento nem a esquerda mas, no fundo, nem o neoliberalismo também não está tendo um rumo definido. Então, numa situação de crise, é grave. Porque, diante de uma situação de crise, se você não tem alternativa, a direta faz o que vem fazendo na maioria do mundo, é o fascismo. É o retrocesso, isso é grave. Então, nesse sentido, coloca para nós a responsabilidade muito grande exatamente da formulação desse novo projeto, desse novo horizonte. Que as pessoas se mobilizem em torno do imediato, mas se mobilizem também em torno de outra perspectiva. De uma melhoria, de transformação. Portanto, termino aqui parabenizando a todos vocês e à Fundação.