Durante o Seminário 100 anos da Revolução Russa e 95 anos do PCdoB, nesta quinta-feira (30), às 10h, na UNIP Paraíso, ele fará uma conferência sobre o legado e as lições da Revolução Russa e receberá seus leitores para autógrafos. 

Domenico Losurdo trabalha em Urbino, uma pequena e bela cidade renascentista do centro da Itália. Da cidade com aparência de mais de 500 anos, o filósofo mira o olhar para o presente e o passado da história social mundial para traçar linhas para o futuro. Na opinião do ex-senador italiano e militante brasileiro, José Luis Del Roio, Losurdo possui uma erudição impressionante, contando sua obra com uma meia centena de volumes. “E não tem medo da polêmica, que realiza sempre em alto nível. Enfrenta ‘monstros sagrados’ como Simone Weil, Hannah Arendt e Jurgen Habermas, contestando suas teses com a precisão de um cirurgião”.  

O vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino comenta o novo e polêmico volume de Losurdo, destacando o alerta que ele faz à esquerda ausente do debate mundial, em especial na Europa e nos EUA, dispersa que se encontra ou na subordinação ao neoliberalismo ou na consequência mínima da defesa de direitos sociais e econômicos. Como diz Losurdo já no título do seu último livro, a esquerda está “ausente”, ou seja, fugiu do debate público, deixando em seu lugar “o pensamento único neoliberal e neocolonialista”. Em outras palavras, o mesmo sistema de pensamento e práxis que gerou a crise econômica de 2008 está encarregado de explicá-la, graças a essa “ausência” da esquerda.

Sorrentino salientou o modo como Losurdo é incansável no combate ao liberalismo, suas falácias e mentiras históricas. Mas o italiano também é rigoroso na missão de desencantar a doutrina da esquerda marxista leninista, tirando qualquer traço positivista, determinista ou esquemático desta doutrina. Mas no confronto com o liberalismo, Losurdo tem lado e toma partido. O tema de seu livro é o estranhamento pelo modo como a esquerda não reivindica, nem reconhece suas conquistas, como as lutas anticoloniais.

Losurdo também faz uma defesa do socialismo chinês, por seu caráter progressivo na nova ordem mundial, frequentemente condenado na esquerda como sendo um novo tipo de capitalismo de mercado. Para ele, o desenvolvimento da China é uma segunda etapa da luta anticolonial, ao promover um renascimento nacional, reconquista da integridade territorial e soberania plena. Sorrentino ressalta o modo como a geopolítica se move de forma a isolar e atingir a China. Ele cita a frase de Losurdo sobre um tema muito atual e brasileiro, a manipulação da democracia como arma dos setores reacionários: “É preciso reconhecer a amarga verdade de que se realizada prematura e ingenuamente, a democratização de um país pode significar o caminho livre para a desestabilização e os golpes, e permitir o triunfo de uma ditadura planetária do imperialismo”.

Losurdo reconhece que, nos últimos anos, essa esquerda “ausente” começou a despertar na Europa. O Syriza na Grécia, o Podemos na Espanha e Jeremy Corbyn no Reino Unido são expressões desse primeiro despertar. “Mas acho que, em todos os casos, ainda não compreenderam a fortaleza do ataque contra o Estado de bem-estar. É um ataque furibundo, que requer uma resposta coordenada”, diz ele. Sorrentino também ressalta a importância da esquerda brasileira se posicionar com força neste momento crítico para a política nacional. Para ele, o livro é uma reflexão importante neste momento alarmante para a esquerda do Brasil.

Luta de classes

Segundo Miguel Urbano Rodrigues, Losurdo é um comunista hoje pouco comum. Decepcionado pelo defunto PCI e pela Rifondazione Comunista, aderiu ao jovem Partido dos Comunistas Italianos. Rejeita qualquer modalidade de dogmatismo e revisionismo. Fiel aos ensinamentos de Marx e Lenin, distancia-se do reformismo e do dogmatismo subjetivista (bem caracterizado por György Lukács) que durante décadas atingiu muitos partidos comunistas que, afirmando serem marxistas-leninistas, negavam na práxis a opção ideológica.

A editora brasileira Boitempo lançou em 2015 o seu último livro, A luta de classes: Uma história política e filosófica, que também será autografado no sábado (31) (VEJA O EVENTO AQUI). Para Rodrigues, trata-se de um ensaio difícil. Árido. Por vezes, pesado. Mas fascinante pela lucidez e criatividade. O discurso de Losurdo sobre a luta de classes é oportuno e atualíssimo numa época de confusão ideológica promovida pela intelectualidade burguesa e por um sistema mediático ao serviço do capitalismo.

Depois de seu aclamado A linguagem do império: léxico da ideologia estadunidense, Losurdo se volta para o conceito e a prática da luta de classes e sua atualidade diante da atual crise econômica que se alastra, e provoca: “é certo que a luta de classe tenha de fato desaparecido?”

Rodrigues também é da opinião que o professor da Universidade de Urbino acumulou uma prodigiosa erudição. A sua cultura, que abarca múltiplos ramos do conhecimento, sobretudo nas áreas da filosofia, da história e da sociologia, na opinião dele, contribui paradoxalmente para dificultar a leitura de alguns capítulos. Por que? “Pela rapidez das transposições. Muda inesperadamente de um tema para outro, de um autor para um acontecimento, de um tema econômico para um exemplo, da análise de uma crise para uma citação que surpreende, da reflexão sobre as causas da desagregação da URSS para o mito do homem novo”.

“Losurdo é permanentemente imprevisível. Discordo de algumas posições suas. Mas a discordância não afeta a grande admiração que sinto pela obra e pelo homem”.

LANÇAMENTO DE “A ESQUERDA AUSENTE”, COM DOMENICO LOSURDO

Dia 30 de março de 2017 à partir das 9h

Local: UNIP – Campus Paraíso (Rua Vergueiro, 1211 – São Paulo/SP)