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Na parte da manhã, o presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, fez uma apresentação dos principais temas do projeto de resolução ao 14o. Congresso do PCdoB, que ocorrerá entre 17 e 19 de novembro, em Brasília (DF). Ele enfatizou, ao final, a necessidade de compreensão de que a saída para a turbulenta crise que atinge todos os âmbitos da sociedade brasileira, só pode ser política. Ele observa que há intelectuais de esquerda apresentando saídas econômicas, que, segundo ele, não atacam o que o golpe tem de essencial, que é o desmonte institucional da política e da democracia.

A solução política implica em acumular forças por meio da formação de uma frente ampla, com todos os setores da sociedade que for possível agregar no combate a esse “desmoronamento” de tudo que o país vinha construindo, mesmo que isso implique em atrair setores que apoiaram o golpe e estão arrependidos.

Segundo o secretário de Movimentos Sociais e de Juventude do PCdoB, André Tokarski, trata-se de uma gama completa de lideranças de movimentos de massas reunidos para debater no âmbito do projeto de resolução ao 14o. Congresso Nacional do PCdoB, questões correlatas à mobilização política do povo.

“As teses do Congresso apontam para a necessidade da mobilização política do povo como um elemento fundamental nessa batalha de resistência ao desmonte dos direitos sociais e do estado nacional, e também como o alicerce decisivo da retomada de crescimento econômico e da reconquista da democracia no país”, explica o dirigente.

Ele acrescenta que o Partido tem ressaltado, que sem a mobilização política do povo, dificilmente o Brasil sairá dessa situação de crise política e econômica. “A importância do Fórum de Movimentos Sociais do PCdoB se traduz na necessidade de encontrarmos pautas, campanhas e ações que despertem a mobilização social, no sentido da retomada da democracia e por fim, em definitivo, ao governo ilegítimo de Michel Temer, reconquistando a democracia através da realização de eleições diretas”, concluiu.

Catalisar o sentimento popular

 

(Foto: Cezar Xavier)

Ao resumir o projeto de resolução do 14o. Congresso do PCdoB, o presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, apontou o cenário de crise econômica mundial que se reflete no Brasil, em forma de um golpe ultraliberal e neocolonialista. Enquanto as grandes potências capitalistas rearranjam seus blocos de dominância financeira no mundo, subordinando a periferia do capitalismo por meio de golpes e guerras, no Brasil, o alinhamento subordinado aos EUA, se confirma com o desmonte da política externa independente e soberana que vinha sendo aplicada pelos governos progressistas golpeados.

Se no âmbito internacional, a crise abre contradições entre as elites capitalistas, que passam a contestar a globalização por meio da defesa de políticas nacionalistas, no âmbito do consórcio golpista,  as contradições também se acentuam. Renato enfatizou o modo como o golpe abre uma disputa entre poderes do estado e frações de classe na burguesia, que perde o controle sobre os rumos do golpe, possibilitando brechas de reação dos setores progressistas. A exposição das acusações ao presidente Michel Temer, assim como o escândalo de sua preservação pelo Congresso, revelou entranhas do golpe para a população, que se sentiu enganada e manipulada. A própria classe média que lotava a Avenida Paulista está “entravada por ter feito tanto, e ter dado em nada”. Para Renato, o desencanto e desconfiança da população com a política, assim como o desespero diante da crise econômica que avança sobre os salários e empregos, abre uma possibilidade de resistência e mobilização, a depender da capacidade da esquerda de catalisar esse sentimento.

Ele ressalta que, não adianta ficar perplexo com a suposta “apatia” do povo, mas compreender que a mobilização é parte de um processo que a esquerda não controla, apenas pode estimular e tentar dirigir. Não há automatismos nos fluxos e refluxos dos movimentos de massa, diz ele, mas condições concretas e detonadores que ativam o sentimento popular e, nem sempre são previsíveis.

Outro aspecto muito enfatizado por Renato é a necessidade de compreensão de formação de uma frente ampla para a superação desta crise política. Ele foi enfático em afirmar que a esquerda têm dificuldade de compreender a “amplitude” deste movimento, restringindo-se a reunir setores de esquerda alinhados ideologicamente. Conforme defende ele, esta não é a compreensão do PCdoB, que está preocupado em agregar ao movimento de resistência e superação da condição golpista todos os setores da sociedade que apontem para a defesa de um projeto nacional de desenvolvimento, a reconstrução dos direitos sociais e a retomada da democracia, “ainda que isto implique em se aproximar daquelas pessoas equivocadas que apoiaram o golpe”.

Renato alerta que não dá pra ficar preocupado em “unir a esquerda”, quando deveria estar preocupado em unir o povo brasileiro. Para ele, as frentes preocupadas em unir a esquerda acabam ficando ilhadas e “brigando entre si”, sem avançar para o diálogo com o povo. “A esquerda se une quando compreende que tem que conduzir essa frente ampla. Se não for assim, a esquerda não se une.

Renato alerta que, se a Frente Brasil Popular ou a Frente Povo Sem Medo acham que suas organizações vão conseguir mobilizar e dar conta de superar essa crise, estão enganadas. Além de estar disposta a dialogar com setores de centro, a esquerda precisa fazer seu exaustivo trabalho de convencer o povo. “Hoje, nas periferias, o povo acha que o que estamos fazendo é uma briga de branco pelo poder, e que eles não têm nada a ganhar com isso.”

E para liderar esse processo, diz ele, a esquerda precisa ter um Projeto Nacional de Desenvolvimento para o país. Sem isso, não é possível conquistar hegemonia alguma. Esse projeto precisa ter como premissa um estado com autonomia para implementar e entender esse projeto, porque, em sua opinião, os dois grandes erros dos governos progressistas recentes foi acreditar que o estado seria neutro e utilitário na implementação das políticas de governo, e que esse estado distribuiria renda e promoveria inclusão social em meio a um profundo processo de desindustrialização da economia nacional.

Renato encerrou suas considerações ressaltando o papel de Lula nesse processo. Ele observa que, para o povo, Lula é o próprio programa de governo. Há uma compreensão de que Lula será capaz de restaurar aquela condição econômica e política de seus primeiros governos. Por isso é tão importante para os golpistas criminalizar Lula e tirá-lo da disputa. “Evidente que isso dificulta para nós lançarmos candidatura própria, mas não aceitamos que não se discuta programa. Queremos saber qual será o programa. Esta é nossa responsabilidade enquanto partido”, concluiu.