O LIVRO POLÍTICO DOS CANDIDATOS E O BRASIL DO GOLPE
Dia 18, das 19h30 às 22h00

Com Gleisi Hoffmann, senadora pelo estado do Paraná e de presidente nacional do PT; Guilherme Boulos, coordenador do MTST e pré-candidato à presidência pelo PSOL; Manuela d’Ávila, jornalista, ex-deputada federal e pré-candidata à presidência pelo PCdoB; Vera Lucia, ex-operária, sindicalista e pré-candidata à presidência pelo PSTU; Mediação: Renato Rovai, editor da Revista Fórum

A candidata do PCdoB, Manuela D’Avila, enfatizou, na mesa “O livro político de cabeceira dos candidatos” que os livros que realmente marcaram sua vida foram os lidos na infância, destacando que o acesso à leitura nessa fase da vida foi um “privilegio”. Já a candidata do PSTU, Vera Lúcia, de origem humilde, disse que estudou “quando pode” (entrou aos 39 anos na univetsidade). Manuela em seguida listou os livros recentes, que a tem inspirado na construção de seu projeto de governo. Citou “Mulheres e Revolução ” (Expressão Popular), “Profissão para mulhetes” (Virgínia Wolf), “A mulher habita” (Gioconda Belli), entre outros, pontuando a necessidade de políticas públicas que libertem as mulheres, alem do persistente machismo nas nas organizações de esquerda, já retrados em livros do século passado. Vera Lúcia, ex-operária sapateira, citou “O manifesto comunista” (Marx e Engels), textos de Marx sobre a mais valia, ” A situação da classe operária na Inglaterra (Engels), “Do socialismo utópico ao socialismo científico” (Lenin), entre outros. “É impressionante como os operários entendem rapidamente a teoria da mais valia, em relação aos estudantes nas universidades, para quem o tema é abstrato”, disse Vera, lembrando que a situação das classes trabalhadoras continua semelhante à retratada na literatura política de mais de um século atrás. 

O candidato do PT à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, escreveu uma carta especialmente para ser lida na mesa “O livro político de cabeceira dos candidatos à presidente”, mediada por Renato Rovai, editor da revista Fórum. Quem leu foi o coordenador de programa de governo de Lula, o economista Márcio Pochman. Lula destacou a trilogia Getúlio Vargas, de Lira Neto, por retratar semelhanças entre o período que resultou no suicídio de Vargas e o atual. “A oposição que Vargas enfrentava na época era justamente contra as leis trabalhistas, a fundação da Petrobras, da Eletrobras, da siderurgia nacional, das bases para um desenvolvimento industrial e tecnológico do país. (…) Hoje nós enfrentamos de novo forças que não querem a democracia, não querem o desenvolvimento, não querem a inclusão social”. A íntegra da Carta e a lista de livros que Lula vem lendo no cárcere serão publicados no site do Salão.

 

REVOLUÇÃO E GUERRA NA SÍRIA E ORIENTE MÉDIO
Dia 18, das 10h30 a 12h30

Com Lourival Sant’Anna, colunista do jornal O Estado de São Paulo, repórter da revista Exame e analista para temas internacionais da CBN; Victorios Shams, estudioso das questões do Oriente Médio; Mediação: Soraya Misleh, jornalista palestino-brasileira, mestre e doutoranda em Estudos Árabes pela USP; Tradução: Fabio Bosco.

 

 

FUTEBOL: POLÍTICA OU ÓPIO?
17h00 às 19h00

Com Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e professor da Unicamp; Marcos Gama,  jornalista e delegado aposentado, autor de O caldo da regressão (Alameda Editorial,2017); Nádia Campeão, ex-secretária de Esportes de São Paulo (2001-2002) e ex-vice-prefeita de São Paulo (2013-2017); Mediação: José Paulo Florenzano, professor da PUC-SP.

Ninguém consegue de fato controlar politicamente o futebol. Ao mesmo tempo, ao se globalizar, o esporte ganhou complexidade inimaginável no começo dos anos 1950. Os clubes tornaram-se empresas e o torcedor, cliente. Ganhar ou perder passaram a ser confirmação do status social real do torcedor e com isso explodiu a violência. “É um fenômeno politico, sim”, conclui Luiz Gonzaga Belluzzo. “E cheio de contradições”, acrescenta Nádia Campeão. Ela ainda pontua que no Brasil, na São Paulo em que os campos de várzea ainda são espaços de disputa das comunidades com o poder público, por sua importância como lugar de lazer e convivência, é “um direito”. E lembra que o futebol feminino continua invisível no país.

 

 

CIÊNCIA SEM CENSURA
Dia 19, das 10h30 às 12h30

Com Fernando Haddad, mestre em Economia e doutor em filosofia pela USP e professor de Ciência Política da universidade. É ex-ministro da educação e ex-prefeito de São Paulo; Olival Freire Jr, professor titular do Instituto de Física da UFBA e pesquisador do CNPQ em História das Ciências; Luis Carlos Menezes, professor sênior do Instituto de Física da USP e membro do Conselho Estadual de Educação em São Paulo; Mediação: Madalena Guasco, professora titular do Departamento de Fundamentos da Educação da Faculdade de Educação da PUC-SP. 

Há um retrocesso global na política, com autoridade autoritária em países importantes, como EUA, Rússia e Turquia, com repercussão nas ciências. “Nesse mundo, a defesa da autonomia de pensamento é fundamental”, diz Luis Carlos Menezes. Ele aponta as contradições do ambiente científico e afirma que é necessário equacioná-las para seguir em frente: o fato de ciência estar sempre em composição com o poder, com o mercado (que pode privatizar conhecimentos, em vez de compartilhar), com o auto constrangimento dos cientistas, por motivos éticos. 

Há uma onda obscurantista no mundo, que põe em dúvida a credibilidade das ciências e se expressa em episódios como a recusa à vacinação e às causas antropogênicas do aquecimento global, esta última reforçada por vozes poderosas, como a do presidente dos EUA, Donald Trump. Para Olival Freire, essa onda se amplifica no Brasil pós golpe e a restrição orçamentária é uma das mais eficazes formas de censura às ciências, uma vez que inibe seu desenvolvimento. O ambiente cria ainda enorme insegurança aos acadêmicos e pesquisadores. Basta lembrar que Esaldo Carlini foi intimado a depor em uma delegacia por organizar um congresso sobre o uso medicinal da maconha.

No Brasil pós-golpe parlamentar, as ciências estão ameaçadas, mais ainda as humanas, não sujeitas comprovações empíricas. A independência necessária foi posta em xeque em episódios como o projeto escola sem partido e a necessidade de a comunidade acadêmica ter de explicar a um juiz como cria e estabelece seus cursos, com seus vários crivos, no caso da disciplina sobre o golpe, instituída originalmente na UNB. “No momento em que o poder e o dinheiro determinam o que é belo, o que é científico, estamos correndo riscos”, diz Fernando Haddad, pontuando que o simples fato de se discutir censura na ciências é prova contundente do regresso.

 

 

AUSTERIDADE, RETROCESSOS, PERSPECTIVAS: QUEM PAGA O PA(C)TO?
Dia 19, das 17h às 19h00

Com Ladislau Dowbor, economista e professor titular de pós-graduação da PUC-SP; Laura Carvalho, professora do Departamento de Economia da FEA-USP e colunista da Folha de São Paulo; Marcio Pochmann, economista e professor titular no Instituto de Economia da Unicamp; Mediação: Norma Cristina Brasil Casseb, Professora Titular da PUC-SP.

O economista Márcio Pochmann não vê como fazer o país se desenvolver sem enfrentar antes a questão que está na ordem do dia: a democracia. “O problema não é econômic, mas político”. Contudo, ele vê na fase atual do capitalismo a raiz do aumento da pobreza no mundo. Do pós-guerra até os as décadas de 1970/1980, aumentou o número de países, de cerca de 50 para 200, com aumento também da autonomia nacional. Nos últimos 40 anos, consolidou-se a globalização e as grandes corporações passaram a ter mais poder e receita do que a maior parte dos estados, poder que aumenta inclusive por meio da corrupção dos agentes públicos mundo afora. Essas corporações não querem pagar impostos, não aceitam regulação relativa ao meio ambiente (fazem ações paliativas, de marketing nesse sentido), não querem pagar salários dignos. Mas há reações, como a de vários países da América Latina nos últimas décadas e foi essa a experiência do PT no governo, segundo Pochmann. O que precisamos para consolidar esses modelos agora na mira? Ampla politização das massas, reformulação completa do Poder Judiciário, que nem deveria ser considerado um poder, profunda revisão das Forças Armadas, condizente com as necessidades de defesa de um país do tamanho do Brasil. “Mas o que está em curso hoje é o projeto dos EUA, potência em declínio, de tornar os demais países inviáveis”.

Para o economista Ladislau Dowbor, não é preciso nenhuma fórmula econômica mágica para fazer a economia brasileira voltar a crescer com desenvolvimento social. Bastaria fazer os que vários países já fazem e há muito tempo: “Vejam o milagre do welfare state da Europa e do New Deal nos EUA, quando impostos sobre capital não produtivo chegaram a até 90%, o que levou a uma tentativa de golpe contra Roosevelt”. O que funciona, diz, é direcionar mais recursos à base da sociedade, o que leva a aumento de produção e do emprego e nesse ciclo, crescimento da arrecadação e da capacidade de investimento do estado, estratégia adotada pela China, por exemplo. A base dessa estratégia são três pilares: renda, acesso a bens coletivos (públicos) de qualidade e instituições democráticas e participativas. “A grande questão não é econômica, mas política: como a gente gera capacidade e força política para garantir esse projeto?”

A economista Laura Carvalho não vê possibilidades de um governo, qualquer que seja, cumprir a PEC que engessa os gastos públicos por 20 anos, porque se trata de uma regra sem nenhuma flexibilidade, algo que nem o FMI recomenda. Ao contrário da política de austeridade, ela propõe justamente a saída pelos investimentos públicos e vê nas carências gigantescas e históricas do país uma oportunidade que, além de tudo, atende exatamente os anseios da população. Ela propõe a construção de grandes complexos de saúde transportes, educação… Com que recursos? Os provenientes de uma política de arrecadação que tribute mais o topo da pirâmide, que quase não paga impostos e da promoção do crescimento econômico,: “Não se trata apenas e de redistribuir, é preciso ampliar a arrecadação”, diz, lembrando que a base tributária não cresceu nos governos petistas e é dois pontos percentuais menor do que a média verificada nos países da OCDE. 

MARX, 200 ANOS
Dia 19, das 19h30 às 22h

Com Luis Fernandes, mestre e doutor em Ciência Política pelo IUPERJ, Ricardo Antunes, professor da Unicamp, e Jean Tible, professor da USP, com mediação de Maria Lúcia Barroco, professora da PUC-SP.

Muitas das concepções de Karl Marx continuam atuais, em especial a que diz respeito ao capitalismo como sistema de centralização e concentração de capital, ainda que a ideia central do liberalismo, tão em voga, seja justamente a descentralização. Como confrontar o poder também superconcentrado decorrente da superconcentração do capital nos nossos dias? O cientista político Luis Fernandes considera que as reflexões de Marx são importantes para se pensar nos caminhos, mas também é preciso levar em conta suas limitações. Para ele, o filósofo, influenciado pela filosofia alemã do século 19, tinha uma visão otimista e parcialmente mecânica sobre a relação material entre existência e consciência social que conduziria à emancipação. E, ainda, teria uma visão simplificada dos desafios para a construção de uma sociedade alternativa ao capitalismo.

Para Ricardo Antunes, professor de sociologia do trabalho, Marx é “o mais excepcional pensador que o mundo ocidental já produziu”. E é a partir de suas teorias que ele analisa o nascente proletariado da era dos serviços. Marx, diz, nos dá pistas para compreender esse cenário quando ensina sobre o tempo de circulação, mostrando sua crucial importância para a valorização do capital. “Marx já apontava que as indústrias do transporte, do armazenamento, embora não produzissem, eram vitais para a produção”. Hoje, a tecnologia da informação convulsionou o capital, segundo Antunes, e colocou todo o setor de serviços como gerador de valor, além de lucro. Esses trabalhadores, cada dia mais explorados, podem ser foco de contradições e revoltas. “Espero que as esquerdas tenham capacidade de entender seu potencial na luta social atual”. 

Jean Tible lembra que existe certa obsessão em decretar a morte de Marx, o que se tem feito desde o início do século 20. E faz uma leitura inusitada de seu pensamento, pontuando que as perspectivas marginais, fora do universalismo a que estamos habituados, podem ser importantes no combate ao capitalismo. Estudioso de tribos indígenas, ele reflete sobre como suas lutas e cosmologias “interpelam” Marx. “Trabalhar Marx sem trabalhar nossas próprias questões é trair Max”. 

 

AS NOVAS ARMAS DA DESINFORMAÇÃO: MERCADO EDITORIAL, FICÇÃO E FAKE NEWS
Dia 20, das 10h30 às 12h30

Com Esther Solano, professora adjunta da Unifesp, Rogério de Campos, jornalista, escritor, tradutor e editor brasileiro e Rodrigo Ratier, professor da Fundação Cásper Líbero, com mediação: Leonardo Sakamoto, jornalista e doutor em Ciência Política.

O que são fake news? No conceito estrito, notícias comprovadamente falsas produzidas com intenção de enganar. Mas o fenômeno que ganhou a redes sociais com uma dinâmica bélica, como diz Esther Solano, tem ainda, em especial no contexto da política, a intenção de desqualificar e desumanizar o “adversário”. “E negar ao interlocutor a humanidade é negar a interlocução política e o debate”. Para Esther, a forma como as fake news e conteúdos fascistas vêm sendo presentados são perigosos. Um exemplo: ela apresentou um video de Bolsonaro a estudantes de 14 a 17 anos da periferia de São Paulo para observar e discutir sua reação: “Eles não percebem a mensagem xenófoba e misógina, e simpatizam com a apresentação por causa de sua forma, jovial e moderna, com figurinhas, memes, piadas. Terminam aprovando Bolsonaro. Dizem que ele “é legal” e a “esquerda, chata”.

No mercado editorial, e das comunicações em geral, a produção de conteúdo com objetivo de conduzir ou manipular a audiência com propósitos políticos e econômicos é antiga. A novidade é a super concentração dos negócios na área, cuja consequência é a amplificação cada vez maior dos conteúdos de interesse quase exclusivo desses monopólios. O editor Rogério Campos pontua que, quando o jornalista estadunidense Ben H. Bagdikian escreveu “O monopólio da Mídia” (Veneta), nos anos 1980, as corporações de mídia somavam cerca de 50 naquele país. Na segunda edição da obra, em 1997, o número se reduzira a 29 e na última edição, a apenas seis, que controlam tudo, de notícias à produção de cinema e audiovisual. Para Rogério, no caso do Brasil, hoje, o alinhamento das redações aos interesses dos patrões é praticamente total, mas houve um tempo em que Roberto Marinho se referia à esquerda dentro das suas redações como “meus comunistas”. “Hoje a imprensa já não precisa desses jornalistas. O controle cada vez mais centralizado das empresas produziu a direitização. Nesse contexto, me preocupo pouco com fake news”.

Qual é o papel da educação no estrago potencial das fake news e noticias manipuladoras sobre a audiência? À pergunta do mediador Sakamoto, Rodrigo Ratier responde que, de fato, a discussão sobre o tema recai sempre sobre a produção, quase nunca sobre a audiência, atualmente também chamada de “usuário” ou, em inglês, “produzers”, em referência ao fato de a audiência ser hoje menos passiva: reinterpreta, remixa o que recebe e transmite. Ele lembra que a escola não prepara o cidadão para ler notícias, observar datas, autoria, contexto das fotos etc, o que seria de bom proveito. Mas não acredita em educação como salvadora da pátria e afirma que uma solução por essa via, de todo modo, não seria “totalizante”, nem rápida. 

 

 

REVOLUÇÃO CUBANA, 60 ANOS DEPOIS
17h às 19h00

Com Breno Altman, jornalista, fundador e diretor editorial do site Opera Mundi; José Reinaldo de Carvalho,  jornalista, pós-graduado em Política e Relações Internacionais; Vanessa Oliveira, jornalista e mestranda do Instituto de América Latina da Université Sorbonne Paris III; Mediação: Vanessa Martina, jornalista, e editora da Diálogos do Sul.

CONSTITUIÇÃO: A CRISE DOS 30 ANOS
Dia 20, das 19h30 às 22h

Com Edson Teles, coordenador do Núcleo de Filosofia e Política da Unifesp; Marcelo Semer, juiz de direito em SP, escritor e ex-presidente da Associação Juízes para a Democracia; Rafael Valim, professor da Faculdade de Direito da PUC-SP; Renan Quinalha, professor de Direito da Unifesp; Mediação: Noirma Murad, professor titular da Universidade Nove de Julho.

Onde está a raíz do estado de exceção a que estamos hoje submetidos? Uma das respostas, de Marcelo Semer, reúne dois aspectos: o equívoco do acordo da redemocratização, com a “conciliação pelo alto”, e o fato de termos tomado a Constituição de 1988 como fato consumado. O tempo mostrou, desde a promulgação mesmo da Carta, e radicalmente desde o golpe de 2016, que é preciso que a sociedade tenha condições de defender o que foi estabelecido. Edson Teles avalia que a Constituição abriga a lógica de governo (que asseguraria a governabilidade) e mecanismos de exceção. Estes foram sistematicamente e cada vez mais plicados pelos governos sucessivos, inclusive os de esquerda, e atendem pelo nome popular de “medidas provisórias”, à que se poderia recorrer em casos pontuais, pela governabilidade. Na prática isso significa, diz Teles, que existe um indistinção entre o que é democrático e o que é autoritário, algo que resulta de uma espécie de continuidade do regime autoritário com o qual o Brasil nunca chegou a romper. Para Rafael Valim, o estado de direito sempre foi seletivo, jamais valeu de fato para a ampla maioria da população e, desde o golpe de 2016, o que se assiste é a universalização do arbítrio, enquanto se buscava universalização de direitos, numa manobra comandada pelo mercado. Ainda assim, Valim é pela defesa incondicional da Constituição, “documento político importantíssimo”. Já Renan Quinalha pontua que o Brasil sequer praticou algum dia o liberalismo, que aqui conviveu com a escravidão e ainda convive com o genocídio dos pobres e a negação de direitos de segmentos amplos da população. Para ele, o golpe de 2016 acabou com o que restava da crença na institucionalidade (“pelo menos havia eleições regulares”), num processo, desde 1988, marcado pela banalização da judicialização. “A crença no Judiciário fortaleceu esse poder inclusive para que ele atuasse contra a Constituição”. Para Quinalha, assim como precisamos das reformas política, da mídia e tributária, a do judiciário é fundamental.

 

GOLPE, RESISTÊNCIA E BARBÁRIE PÓS-CONCILIAÇÃO DE CLASSE
10h30 às 12h30

Com André Tokarski, secretário de Juventude e de Movimentos Sociais do PCdoB; Gilberto Maringoni, professor de relações internacionais da UFABC; Gabriel Simeone, coordenador do MTST, responsável pelo setor de organização política e formação; Mediação: Antonio Martins, jornalista e organizador do projeto Outras Palavras.

Que perspectivas se abrem à esquerda brasileira, a partir deste momento e que significado têm as eleições de 2018? Um consenso é a necessidade de união das esquerdas, por meio de uma frente única, que inclui a candidatura de Ciro Gomes, do PDT. Mas é difícil prever em que momento se dará uma frente ampla real, embora ela seja desejada para até antes do primeiro turno eleitoral. Para Gabriel Simeone, será muito difícil, contudo, construir uma unidade verdadeira e prolífera a três meses da eleições. Gilberto Maringoni defende a frente de esquerda no segundo turno, como algo mais provável, admitindo a dificuldade. Para André Torkaski, que vê as eleições como “a batalha mãe” do momento, “se não conseguirmos união pela afirmação, que seja pela negação – de tudo o que está aí”. 

 

ESTÁ EXTINTA A ESCRAVIDÃO? (130 ANOS DA ABOLIÇÃO)
Dia 21, das 17h às 19h

Com Marcia Campos Eurico, professora de Serviço Social da PUC-SP; Joselicio Junior, presidente estadual do PSOL São Paulo. Foi presidente do Instituto Manuel Querino entre 2007 e 2015 e recebeu em 2016 o Prêmio Zumbi dos Palmares organizado pelo SOS Racismo; Rosane Borges, professora colaboradora do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELACC) da USP; Mediação: Amailton Azevedo, professor do Programa de Estudos Pós- Graduados em História e do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP.

Embora tenha apenas dois artigos, a Lei Áurea, promulgada há 130 anos, é eloquente: resume-se a decretar a libertação e a igualdade entre os brasileiros, sem estabelecer as bases para a superação do regime. Ao mesmo tempo, a prática da sociedade contradiz, desde então, os termos da lei. Está extinta a escravidão? Joselício Junior vê mais desafios, um dos pricipais construir a representatividade política da população negra, do que avanços, pontuais e localizados nos recentes governos petistas. Márcia Campos Eurico afirma que não, na prática, uma vez que, quando se pensa em negro no Brasil, a imagem suscitada é de uma África miserável, que continua pautando o imaginário do brasileiro, e reaciona-se ao período escravocrata. Para Rosane Borges, a resposta ainda é não, também. Ela acredita que o atual discurso de ódio dirige-se em especial à população negra, que mais se beneficiou dos programas sociais, justamente por estar na base da pirâmide social, e emergiu socialmente nos últimos anos pelas políticas afirmativas e espaços de visibilidades garantidos pela tecnologia da informação. “O discurso de ódio reatualiza o medo da elite branca de que pudéssemos no tornar um Haiti, logo após a abolição”.
Mesa “Está extinta a escravidão? (130 anos de abolição), com Marcia Campos Eurico, professora de Serviço Social da PUC-SP, Joselicio Junior, presidente estadual do PSOL São Paulo. Foi presidente do Instituto Manuel Querino entre 2007 e 2015 e recebeu em 2016 o Prêmio Zumbi dos Palmares organizado pelo SOS Racismo e Rosane Borges, professora colaboradora do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELACC) da USP. Mediação de Amailton Azevedo, professor do Programa de Estudos Pós- Graduados em História e do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP.

 

 

1968, MUITO ALÉM DE MAIO
19h30 às 22h

Com José Genoíno, ex-deputado federal e ex-presidente do PT; Valério Arcary, professor titular aposentado do IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia); João Quartim de Moraes, professor da Unicamp e autor de, entre outras obras, “A esquerda militar no Brasil”(Siciliano, 1994); Suely Rolnik,  professora titular da PUC-SP, fundadora do Núcleo de Estudos da Subjetividade no Pós-Graduação de Psicologia Clínica; Mediação: Ivana Jinkings, editora da Boitempo.

De Gaulle não caiu após o histórico maio de 1968, mas nasceu ali a geração que derrubaria as ditaduras militares que sobrevieram, diz Valério Arcary. “Somos herdeiros do maio francês”. João Quartim de Moraes afirma que não havia notícias por aqui do que estava acontecendo na França naquele maio. Em março e abril, diz, o Correio da Manhã falava do movimento estudantil no Brasil, que não se articulava com as greves operárias, mas era igualmente de resistência à ditadura militar. Quartim identifica semelhanças entre o perfil social dos universitários franceses da época e os do Brasil de hoje, “pequeno burguês”. Mas com resultado oposto, no caso do embrião estudantil das chamadas jornadas de junho, que terminaram dominadas pela direita, enquanto na França houve o avanço das greves operárias. Sueli Rolnik diz que 68 pautou sua vida e sua pesquisa, que maio foi uma “insurreição micropolítica que se associou à macropolitica”. Já no momento presente, de neoliberalismo globalizado, a micropolítica potencialmente reativa anula-se porque encontra expressão em certo tipo de válvula de escape, como a literatura de auto-ajuda, que pode incluir até a marxista, e o consumo, num contexto em que o potencial criativo acaba ele mesmo cooptado para renovar o capitalismo: “A medula do sistema é a cafetinagem da pulsão vital”. José Genoíno, pontua que 1968 foi o despertar para a possibilidade da revolução por ter colocado o primado da política como essencial e ter questionado as estruturas sociais e familiares sem medo do desconhecido, numa entrega intensa. “Essa geração sofreu uma derrota dura e depois vieram oa acordos por cima. Temos agora de recolocar o ciclo de ruptura de 68, de desobediência, de afirmar que é possível outra alternativa”. Para ele, com niilismo, tristeza e essa espécie de guerra intestina entre nós, “estaremos liquidados”. Mesa 1968, muito além de maio. Com José Genoíno, ex-deputado federal e ex-presidente do PT, Valério Arcary, professor titular aposentado do IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia), João Quartim de Moraes, professor da Unicamp e Suely Rolnik, professora titular da PUC-SP. Mediação de Ivana Jinkings, editora da Boitempo.