Todos os anos essa manifestação busca dar visiblidade à luta contra os preconceitos e pelos direitos civis para gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (LGBT). Ela ocorre em várias cidades do mundo: Amsterdã, Berlim, Jerusalém, Lisboa, Nova Iorque, Paris, São Francisco etc. A Parada do orgulho GLBT de São Paulo é um dos eventos brasileiros que mais fomenta o turismo internacional na cidade e é o segundo na lista dos que mais atraem visitantes à capital paulista, perdendo apenas para a Virada Cultural (que, em 2008, atraiu 400 mil pessoas). A Fórmula-1 vem em terceiro lugar (85 mil) e o Carnaval em quarto (28 mil). A Parada também está na vice-liderança da arrecadação do município com os turistas (estimativa de R$ 189 milhões em 2008 para este ano), atrás da Fórmula-1 (R$ 200 milhões) e à frente da Virada Cultural (R$ 90 milhões) e do Carnaval (R$ 30 milhões).

Em São Paulo a Parada Gay acontece desde 1996. No primeiro ano o ato foi na Praça Roosevelt e reuniu cerca de 300 pessoas. Desde então a presença nas Paradas só cresceu. Nos primeiros anos não havia nenhum órgão oficial responsável pela realização do evento. A Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (APOGLBT) só foi criada em 1998, assumindo a organização da Parada a partir de 1999.

Em 1999 foi pela primeira vez usada a sigla GLBT. A GLS – Gays, lésbicas e simpatizantes –, usada anteriormente, não contemplava o amplo leque da diversidade sexual, como GLBT o faz, abrangendo também bissexuais (B), travestis e transsexuais (T). Esta sigla passou por mais uma variação depois da I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT). Tal conferência foi convocada pelo governo Lula e realizada no último mês de junho, deste ano. Na nova sigla a palavra “lésbicas” passou a anteceder a palavra “gays”, o que resultou na sigla LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais). A versão LGBT, cada vez mais usada mundialmente, reforça o combate à dupla discriminação de que muitas mulheres homossexuais são alvo (por serem “mulheres”e por serem “homosexuais”). O marco de um milhão de participantes na Parada Gay de São Paulo foi atingido em 2003 e a consagração como a maior do mundo veio no ano seguinte, quando aproximadamente um milhão e oitocentos mil pessoas acompanharam a manifestação em São Paulo. Hoje são mais de três milhões de participantes, conforme dados da 12ª edição da Parada Gay, em 2008, em São Paulo.

Com tal capacidade de mobilização, a APOGLBT passou a pressionar o poder público para a execução de políticas direcionadas à comunidade gay. O principal foco de reivindicação se dá em torno da luta contra a discriminação e a homofobia. As contestações contra a violência sofrida pelos homossexuais tornou-se tema das Paradas mais recentes. Em 2006 os manifestantes levantaram a bandeira “Homofobia é crime! Direitos sexuais são direitos humanos!”. Em 2007 o tema por um mundo sem machismo, racismo e homofobia levou nada menos do que mais de três milhões de pessoas para as principais ruas de São Paulo. Já neste ano, 2008 – mantendo a marca de mais de três milhões de participantes –, o tema foi “Homofobia mata – Por um Estado laico de fato”, reforçando a campanha contra a discriminação.

De 1996 até 2008 a Parada Gay de São Paulo cresceu numa progressão impressionante. O movimento ganhou espaço e conseguiu inserir a batalha contra a homofobia e pelos direitos dos homossexuais como parte integrante da construção da democracia brasileira. Este movimento mostrou resultados significativos e ganhou o apoio de autoridades, lideranças políticas e sociais e personalidades do mundo da cultura e da ciência. A presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na conferência acima citada, simboliza a legitimidade adquirida pelo movimento.

No âmbito do governo federal duas ações merecem destaque. Uma é o projeto “Brasil sem Homofobia”, lançado em 2004 com o intuito de promover o direito à cidadania para os homossexuais. Desenvolvido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, apoiou só em 2007 mais de 300 eventos, incluindo paradas, congressos, seminários, mostras de cinema, peças de teatro, atividades esportivas, entre outros. O Programa busca combater a discriminação por orientação sexual, raça, etnia, idade, credo religioso ou opinião e afirmar uma cultura de justiça, igualdade, democracia e tolerância.

Outra ação, I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT), também promovida pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, realizada entre 05 e 08 de junho de 2008, em Brasília. Ela representou um marco importante para a comunidade GLBT, pois é a primeira do mundo deste gênero realizada com apoio governamental.

Convocada pelo decreto presidencial de 28 de novembro de 2007, a Conferência propôs um plano nacional de políticas públicas para a comunidade, além da criação de um conselho nacional e de uma subsecretaria federal, subordinada à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.

Redação Princípios

EDIÇÃO 96, JUN/JUL, 2008, PÁGINAS 47, 48, 49