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Família Prestes celebra 90 anos da Coluna em João Pessoa e Campina Grande

Com o título “Conjuntura e Futuro: O Ideal Social e o Legado de Prestes”, o evento trouxe para Campina Grande a viúva do líder comunista Luiz Carlos Prestes, Maria Prestes; a filha do revolucionário, Mariana Ribeiro Prestes; a neta Ana Maria Prestes e o neto Danilo Prestes. A atividade também contou com o apoio dos programas de Pós-Graduação em Direitos Humanos e em Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e reuniu professores e historiadores.

A atividade para lembrar a trajetória de Luis Carlos Prestes é uma realização conjunta dos Programas de Pós-Graduação em Jornalismo (PPJ) e de Direitos Humanos (PPGDH) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e também da Associação Paraibana de Imprensa (API). Além disso, com apoio da Fundação Maurício Grabois houve uma exposição sobre a Coluna Prestes no Brasil, que percorreu 15.000 km, indo do Rio Grande do Sul ao Norte do país.

Durante o evento, a viúva, a filha e os netos falaram de forma emocionada do legado de Luiz Carlos Prestes e do idealismo que levou o líder comunista, também conhecido como “Cavaleiro da Esperança”, a comandar mais de 1.500 homens e mulheres em uma marcha épica que percorreu vários municípios do Brasil, passando inclusive pela Paraíba, entre 1924 a 1927.

Visivelmente emocionada, Maria Prestes falou sobre sua convivência de mais de 40 anos com Prestes e discorreu sobre a luta, a trajetória e os ideais do líder revolucionário. Também lembrou do dia em que conheceu Prestes em São Paulo, em 1950; dos anos de clandestinidade; dos 10 anos na antiga União Soviética – hoje Rússia; bem como dos líderes comunistas torturados pela ditadura militar. Parte dessa história está contida no livro “Meu companheiro: 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes”, apresentado durante o evento.

Ainda enveredando pelo campo da história, a viúva também relembrou das primeiras reuniões e movimentos ao lado do seu pai, João Rodrigues Cabral, na Bahia, e que deram origem ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Enfática, Maria Prestes garantiu que o legado de Luiz Carlos Prestes continua vivo na memória do povo brasileiro, porque ele sempre lutou e dedicou a vida inteira pela democracia e pela defesa das riquezas do Brasil. Voltando no tempo e na história, ela lembrou que Prestes travou uma luta intensa contra o capital estrangeiro e defendeu o petróleo e a justa distribuição de terras para os camponeses. “Estas reivindicações estão vivas até hoje, porque a exploração continua com outros modelos e de forma camuflada”, afirmou.

A viúva garantiu que os ideais de Luiz Carlos Prestes continuam vivos e defendeu o fortalecimento do socialismo e a plena realização da reforma agrária com a distribuição de terras para aqueles que querem trabalhar. Para ela, nos dias atuais está faltando lideranças com a coragem de Prestes. No entanto, ela disse que acredita que muitos jovens poderão surgir como líderes políticos em defesa de um país justo e democrático. “Essa foi a semente plantada por Prestes. Aonde o cavaleiro passava, a esperança ficava”, destacou.

Prestigiando o evento, o reitor Rangel Junior ressaltou a importância de preservar a memória dos verdadeiros heróis que contribuíram na construção da democracia. Ele considerou importante o trabalho de resgate da memória de Prestes e lembrou que o Brasil tem a tradição de ser muito injusto com a memória daqueles que lutaram e que lutam em defesa do Brasil. “Na prática, a história da humanidade é a história dos vencedores. Muitas vezes, quando não conseguem destruir a imagem de alguns heróis de verdade, tentam esconder os acontecimentos”, observou.

Professor e presidente da Comissão da Verdade da UEPB, o professor José Benjamim Pereira considerou um momento histórico a vinda da família Prestes para o MAC. Como conhecedor da história, o docente disse que Luiz Carlos Prestes foi uma figura emblemática no século XX. “Não se conta a história do Brasil e da América sem que se fale na figura de Luiz Carlos Prestes, que atravessou o Brasil, foi perseguido, mas continuou com a luta em defesa do socialismo”, salientou.

Filha de Luiz Carlos Prestes, Mariana Ribeiro Prestes, agradeceu a UEPB e a API pelo convite e disse que o seu pai deixou como legado a persistência, a ética, a dignidade e o amor ao povo brasileiro. Nascida em Moscou, antiga União Soviética, ela só conheceu Luiz Carlos Prestes quando tinha 10 anos de idade. Isso, porque o líder político estava na clandestinidade e buscou refúgio em Moscou após o Golpe de 64. “Independente de Prestes ser considerado um mito que tem a sua história de vida ligada com a história do Brasil no século passado, o mais importante é que ele conseguiu ser um homem digno e com ética”, sublinhou Mariana.

Neta do líder da Coluna, a socióloga Ana Maria também agradeceu a UEPB por buscar resgatar aspectos importantes da história do Brasil. Com orgulho incontido, ela disse que Prestes é sem dúvida um dos ícones da história do Brasil no século XX, estando presente nas principais lutas pela democracia até 1990, quando veio a óbito. “Desde a década de 20 até às primeira eleições pela redemocratização, ele teve um papel importante. O grande legado dele é de um enorme amor pelo Brasil e do destemor para enfrentar e defender ideias novas, revolucionárias e democráticas”, afirmou.

Comissão da Verdade de João Pessoa

Maria do Carmo Rodrigues, viúva de Luiz Carlos Prestes, esteve em João Pessoa nessa quarta-feira (18), onde participou de diversos eventos, entre eles, uma oitiva na Comissão Municipal da Verdade de João Pessoa, realizada na sede da Associação Paraibana de Imprensa (API), para a qual prestou emocionante depoimento.

Aos 83 anos, Maria se mostra bastante lúcida e muito aguerrida na questão da defesa do nome de Prestes, a quem até hoje tem como um dos maiores ídolos da história política do Brasil e a quem se refere, afetivamente, de “o velho”.

Para ela, a Comissão da Verdade tem uma verdadeira importância histórica para o país, bem como para o povo brasileiro, assim como para os pesquisadores, professores e teóricos que se dedicam a fazer levantamentos sobre o período da ditadura.

Para ela, os depoimentos representam um acerto de contas, um desabafo sobre um passado de muito sofrimento daqueles que lutavam por mudanças políticas, econômicas e, sobretudo, sociais para a classe trabalhadora.

“Eu acredito que os trabalhos dessas comissões vão dar uma contribuição muito grande para o nosso país, mas eu gostaria que a Comissão Nacional não se prendesse somente ao período da Ditadura porque bem antes, nos idos da década de 30 houve massacres e mortes de companheiros, a exemplo do meu pai, João Rodrigues Sobral, que foi um dos torturados, condenado a 14 anos de prisão em Recife e depois deportado para o Rio de Janeiro, onde viveu clandestinamente após ter escapado de ser morto dentro de um navio”, disse.

Ele também mostrou ter muitas mágoas do governo de Getúlio Vargas, com uma visão peculiar, calcada no modo como Prestes enfrentou aquele político. Para ela, Getúlio não fez jus ao título de “Pai dos Pobres”, e o acusou de mandar matar muitos companheiros dos aparelhos comunistas.

“As pessoas acham que ele foi um bem-feitor, muito embora tenha aberto muitos caminhos para o Brasil, mas por trás de tudo isso ele mantinha os torturadores, que perseguiam e matavam as pessoas e dava destino ignorado”, disse.

Ela citou como exemplo das maldades de Vargas, a entrega da primeira mulher de Prestes, a alemã Olga Benário, aos nazistas, quando Luiz Carlos Prestes havia voltado do exílio na União Soviética, depois da marcha da Coluna.

“Ela foi presa e condenada ao voltar à Alemanha porque era judia. Ele deportou a Olga, grávida de sete meses, que depois de ter a criança foi morta em um campo de concentração. Foi tudo muito deprimente”, disse.

Nesse episódio, Mara Prestes defende o “Cavaleiro da Esperança” e não permite que nenhum intelectual venha a difamar a imagem de Prestes e deposita todas as acusações em Getúlio Vargas.

“Pra mim, Prestes sempre foi um personagem muito forte. Era uma pessoa inteligente com quem se podia falar sobre qualquer assunto que ia de política a astronomia. Sempre foi carinhoso com filhos, me ajudava nas tarefas domésticas e sabia cozinhar muito bem”, ressaltou.

Por fim, Maria pediu para que as autoridades ficassem em alerta a esses movimentos insurgentes na Europa a favor do nazismo, aos ataques islâmicos que estão causando consequências para a humanidade, assim como fez a ditadura.

“Temos que estar vigilantes a esses fatos. O mundo está em ebulição e essas tendências de focos surgindo têm que ser revertidos”, destacou.