Durante a semana o PSDB desistiu do impeachment como forma de desestabilizar o governo Dilma. Não enxergamos tudo e, certamente, nem todas as variáveis estão explícitas, mas o recuo está influenciado por uma série de fatores que tornaram essa derrubada institucional inviável. Poderíamos citar o posicionamento do PMDB pela estabilidade institucional em rede nacional, ou o que vem por aí na lista da Operação Lava Jato, ou a aprovação da CPI do HSBC ou o fracasso político do lockout dos caminhoneiros, que não logrou criar o clima de caos a que estava destinado, ou o posicionamento do PT de ir para as ruas, e há possivelmente mais que não sabemos.

O refluxo desse golpismo institucional e “por dentro” da lei não pode nos desmobilizar. A conjuntura é extremamente imprevisível e a agenda da instabilização do país parece ser parte da que atinge outros países não alinhados à hegemonia americana e provavelmente não se circunscreve mais, apenas, aos limites da política nacional.

O fato inicial dessa nova era de guerra não declarada é, a meu ver, a criação do Banco dos BRICs e a reunião no Brasil dos chefes de Estado da América Latina para aquilo que a história mostrará como o velório das instituições de Bretton Woods e a emergência de um mundo multipolar.

O PSDB é apenas uma peça do tabuleiro de xadrez brasileiro, em meio a diversos outros tabuleiros como o da Argentina, o da Venezuela, o de Cuba, ou o da Rússia/Ucrânia. Todos remetem à tentativa nessa crise de hegemonia de Restauração do poder americano. Instabilizam e geram situações de golpe em diversos países.

Vivemos, pois, um jogo de poder internacional acirrado ao nível de uma guerra. Essa verdadeira guerra pode assumir feições de guerra mesmo, como na Ucrânia, de retrocesso político como no Egito, de terra arrasada como na Líbia, ou de instabilidade política como no Brasil. Há muito em jogo e não podemos ser ingênuos.

Sem o PSDB promovendo o impeachment essas forças tentarão encontrar outros protagonistas para instabilizar o poder no Brasil. A força da democracia demonstrou aos nossos inimigos que não há espaços para um golpe institucional entre nós. Mas, naturalmente, não tendo conseguido fazer saltar o ferrolho institucional, a guerra poderia assumir outras feições.

A ameaça a segurança de Janot, a morte de Nisman na Argentina e o assassinato do principal opositor a Putin na Rússia são fatos desconexos ou refletem um mesmo modus operandi de uma força que age internacionalmente?

O que parece estar em andamento é uma nova guerra fria contra o mundo multipolar.

Aos especialistas em conflitos a reflexão sobre que aspectos da defesa nacional devem ser fortalecidos para estarmos à altura de defendermos a Soberania Nacional e a nossa própria existência como nação no mundo que se seguirá à fase atual, que se parece mais com os anos que antecederam a primeira guerra mundial, quando impérios centenários ruíram, do que aos anos 60 que pariram ditaduras em toda parte, como parte de um acerto geopolítico mundial.

Se analisarmos a sucessão de fatos dos últimos meses veremos que o que houve foi uma tentativa bem construída de criar um colapso institucional no Brasil onde o impeachment apareceria como a melhor alternativa. Tivemos direito a tudo: a propostas do mundo jurídico de aniquilamento da capacidade da engenharia pesada nacional, a uma greve de caminhoneiros no velho estilo Chile dos anos 70, ao rebaixamento da nota da Petrobrás (a única grande petrolífera que ainda deu lucro em 2014) e a um noticiário negativo sem tréguas.

Alguém detém essa agenda, a constrói e não conseguiu elevar a temperatura da política nacional aos níveis de ebulição necessários a fazer eclodir o golpe paraguaio? Penso que sim. É complexo demais para ser espontâneo.

Embora o insucesso do impeachment deva ser frustrante para o jogador de xadrez de rosto velado com quem a nação brasileira joga o seu futuro, ele deve dizer-se que o jogo não acabou. E nós temos que saber disto.

Na Ucrânia os fatos que precipitaram a queda do governo foram os massacres da praça Maydan. Ali, franco-atiradores nunca identificados, mataram policiais e manifestantes anti-russos com balas que a perícia depois provou serem as mesmas. Admite-se que os atentados se deveram a ação de neonazistas, mas em nome de quem? De quem era a agenda golpista na Ucrânia?

O jornal El País nos brindou, (advertência de boa fé? análise imprecisa? informação de boa fonte?), com a hipótese da guerra civil. Não é o nosso perfil. Matriz portuguesa, somos um país de sincretismos e recomposições. Mas o tabuleiro não é nosso. Há um terceiro de rosto coberto.

Diz o ditado que prudência e caldo de galinha não faz mal a ninguém…

Nas manifestações vindouras de 13 e 15 de março, os brasileiros que compartilham, apesar das divergências políticas profundas, uma só e mesma nacionalidade, podem estar sob o risco da ação do jogador de xadrez com quem jogamos o nosso futuro e a nossa sobrevivência e que mostrou o rosto na Ucrânia.

Não conhecemos essa quadra da história em que fomos projetados por sermos hoje um país que conta na formação do poder internacional, um papel novo para nós, mas é melhor não sermos ingênuos.

A presença das forças de segurança para proteger os manifestantes deve, conforme vejo, ser maciça e ostensiva tanto no dia 13 quando defenderemos o governo Dilma e a Petrobrás, quanto no dia 15, quando uma oposição sem o PSDB defenderá o Impeachment e o Fora Dilma.

Não sejamos bobos, talvez o Brasil deva estar armado até os dentes para assegurar que essas manifestações ocorram no clima de tranquilidade que é o da nossa melhor tradição.

Não sabemos até onde a coisa vai, mas, se considerarmos que o Procurador Geral da República foi desaconselhado a tomar voos comerciais…