A má vontade da mídia hegemônica contra Orlando Silva já tinha vindo antes, com o caso da compra de um sorvete de tapioca com o uso de cartão corporativo. O que salta aos olhos desta prática da mídia hegemônica é o esforço em mostrar uma certa bizarrice no comportamento do ex-ministro. O próprio caso da tapioca tem esta ideia subjacente (o cara é tão medíocre que se “corrompe” por um sorvete de tapioca). Mas também a forma como o tal escândalo foi contado pela mídia, de que o ex-ministro recebeu dinheiro pessoalmente na garagem do prédio do ministério (demonstrando o quão “amador” e “bobo” ele seria para cometer atos ilícitos, ao contrário dos políticos corruptos mais “sofisticados”).

Quando ocorreu este episódio com Orlando Silva, uma tia minha que não tem nada de politizada e nem tampouco é de esquerda (acho que hoje vota até no PSDB) cravou com todas as letras: tudo isto é racismo, porque eles não querem que um ministro negro comande a festa da Copa do Mundo no Brasil. Na sequência da campanha difamatória contra Orlando Silva, vem a notícia de que ele teria comprado um terreno altamente valorizado na região de Campinas, como se uma pessoa negra, ainda que ministro de Estado, não poderia ter uma propriedade daquela se não fosse com dinheiro obtido ilicitamente (penso porque a mídia hegemônica não vai atrás das propriedades do atual governador de São Paulo como “prova” do envolvimento do mesmo no escândalo do trensalão).

Orlando Silva foi vítima dupla da mídia hegemônica: da postura oposicionista ao atual governo e também do racismo. Por isto que a investigação feita pela Comissão de Ética deste caso que o declarou inocente por falta de provas e também do fato de nenhum outro processo judicial sobre este assunto ter sido instaurado não foi digna de ter sido noticiada com destaque nesta mesma mídia hegemônica. Mereceu apenas alguns segundos no Jornal Nacional e notinhas de rodapé nos jornais impressos.

No take abaixo, depoimentos de jornalistas mostram como o caso de Orlando Silva se configurou como um verdadeiro “assassinato de reputação”.

Dennis de Oliveria é professor da ECA-USP.