Essa taxa é sustentada por uma política pública vigorosa, que adotou medidas regulatórias e de fomento ao desenvolvimento do audiovisual no Brasil, com destaque para a Lei da TV Paga e o Fundo Setorial do Audiovisual.

Os números evidenciam o bom momento. Saltamos de 3,55 milhões de assinantes de TV em 2002, ano da implantação da Ancine (Agência Nacional do Cinema), para 19,1 milhões em julho de 2014. Crescemos de 1.635 salas de cinema em 2002 para 2.800 em agosto de 2014, e de 91 milhões de ingressos vendidos em 2002 para 150 milhões em 2013.

A televisão aberta manteve a sua força e avança na digitalização, atualizando o seu arranjo e posicionando-se para o futuro. Segundo dados da Anatel, a banda larga saltou de 2 milhões de acessos em 2002 para 165,5 milhões em julho de 2014, abrindo caminho para o serviço de vídeo por demanda crescer.

O crescimento geral do setor não traria impacto tão profundo para o país se não tivesse sido acompanhado pelo protagonismo da produção brasileira e das empresas nacionais. Em 2002, 29 filmes brasileiros foram exibidos no cinema, com uma participação de apenas 8% nas bilheterias. Em 2013, alcançamos a marca de 129 filmes lançados e 18,6% de participação nos ingressos.

Na TV paga, onde o Brasil era estrangeiro em sua própria casa, nossos filmes e séries ocupam hoje o horário nobre de 110 canais. Em 2013, 3.205 obras brasileiras foram licenciadas para este serviço.

Ainda em desenvolvimento, esse ambiente marca a consolidação da Política Nacional de Cinema e Audiovisual como política de Estado. Ela busca enfrentar os desafios econômicos, culturais e sociais para fazer do Brasil um grande centro produtor e programador de conteúdos audiovisuais brasileiros, almejando tornar o país a quinta maior economia audiovisual do mundo.

Esse objetivo, consagrado no Plano de Diretrizes e Metas,aprovado em 2012, foi pactuado pelo governo federal e por 18 representantes de todas as áreas do setor reunidos no Conselho Superior do Cinema.

O modelo dessa política posiciona o Estado como regulador do mercado e indutor do desenvolvimento. Mantém o empreendedorismo inteiramente nas mãos dos nossos profissionais e talentos, e das empresas do setor.

Não é o governo que constrói salas, que opera a TV paga, que diz quais obras audiovisuais devem ser feitas ou como devem ser produzidas. A Ancine e o Ministério da Cultura, ao contrário, respeitam e estimulam a diversidade e a pluralidade dos nossos realizadores e produtores, assim como a liberdade de escolha dos brasileiros.

Há ainda muitos desafios pela frente. É preciso ajustar o marco regulatório para os serviços de vídeo sob demanda, reequilibrar relações de distribuição e exibição decorrentes da digitalização das salas e aprofundar os laços das TVs com a produção independente. É preciso ainda enfrentar a secular tradição burocrática do Brasil e tornar os processos mais simples e ágeis.

O programa Brasil de Todas as Telas foi lançado para consolidar esse quadro e avançar no desenvolvimento do audiovisual. Estamos investindo R$ 1,2 bilhão para perseguir as metas pactuadas. Há no mundo uma enorme curiosidade pelo que o nosso modo de criar e viver pode oferecer. O audiovisual feito aqui, com todos os olhares e sotaques brasileiros, olha o presente com confiança e tem muito a contribuir para o futuro do nosso país.

MANOEL RANGEL, 43, é diretor-presidente da Ancine

Fonta: Folha de S. Paulo