Como cidadão que gosta de música, política e identidade, faço questão de reproduzir aqui a fala da ministra da Secretaria dos Direitos Humanos do Brasil, a catarinense Ideli Salvatti (PT), durante entrevista coletiva de apresentação da 18a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, no domingo, 5 de maio de 2014.

Não verifiquei com a profundidade devida hoje, mas sou capaz de bater uma aposta como NADA deste discurso consta das páginas da grande, tradicional & velha mídia brasileira na cobertura da Parada (aliás, que cobertura mesmo é essa?).

“Tanto na fala do Fernando Quaresma (da ApoLGBT) quanto na da (transexual) Janaína Lima, há uma pergunta que não quer calar: por que nós precisamos aprovar uma lei para criminalizar a homolesbotransfobia? É difícil falar isso, e mais difícil é combater. Por quê?

“Quero aqui deixar muito claro que a compreensão que nós temos, enquanto governo da presidenta Dilma Rousseff e enquanto secretaria de Direitos Humanos, de que essas lutas e essa disputa, tanto na sociedade, no Congresso Nacional, no poder judiciário, pelo direito de cada um ser o que é, para cada um poder exercer aquilo que acredita e que é da sua naturalidade e essência, é uma briga de poder. Isto é uma briga de poder. É de poder, para ser exercido em nome e a favor de todos ou em nome e a favor de poucos. E ela tem muitas facetas. Muitas. O machismo é uma delas. O racismo é uma delas. O patrimonialismo é uma delas. A violência contra trans e lesbo é também uma delas.

“O poder, infelizmente, é homem, branco, rico e hétero. O poder é isto, no nosso país (mas a presidenta da república é Dilma Rousseff), e é por isso que a gente tem que cotidianamente trabalhar, disputar e avançar. E é por isso que nós estamos aqui participando ativamente, trabalhando muito intensamente para dar visibilidade à violência. É por isso que existe o trabalho que a Secretaria de Direitos Humanos faz, com o Disque 100. Estamos hoje com a campanha “não guarde no armário“. Denuncie, disque 100, para a gente poder ter a dimensão exata do que acontece na nossa sociedade, de onde estão os focos, como a gente trabalha.

“Nós temos uma busca de parceria com os governos estaduais para tomar as atitudes, e não é fácil. Não é fácil. Porque, por exemplo, o termo de cooperação técnica para o enfrentamento à homofobia, que é uma cooperação entre o governo federal e governos estaduais, foi assinado por apenas 17 estados até agora (o estado de São Paulo, governado por Geraldo Alckmin, que está sentado ao lado de Ideli, foi um dos que não assinaram). Só temos oito comitês estaduais de enfrentamento à homolesbotransfobia constituídos no Brasil. É fundamental estruturarmos, nas estruturas governamentais, essa institucionalização do combate.

“Nós temos, juntos, um grande desafio. Vocês colocam 2 milhões, 3 milhões de pessoas na rua. Nós precisamos transformar isso em votos no Congresso Nacional (aplausos acalorados), para a gente poder aprovar. Porque a disputa do poder, essa imagem de poder de homem, branco, rico, hétero, está instalada lá. Nós temos que disputar lá.

“Quero dizer isso com muita tranquilidade, porque fui parlamentar. Fui deputada estadual, senadora e sei o quanto é difícil aprovar qualquer lei para combater essa visão de poder para poucos. Não pense, hoje a gente tem uma Lei Maria da Penha, mas foi um sufoco aprovar. Nós temos legislação contra o racismo, foi um sufoco. Estamos com a PEC contra o trabalho escravo tramitando há anos, e não conseguimos aprovar ainda.

“É tudo face da mesma moeda. É por isso que temos uma parada, um processo eleitoral pela frente, onde temos indiscutivelmente que pautar essa discussão, mas não uma discussão setorializada. Ah, este segmento da sociedade sofre violência e discriminação. Não. Todos aqueles que não são sequer parecidos com a imagem do poder são discriminados, e portanto temos que trabalhar em conjunto, na mesma visão, de defender um país governado para todos em nome de todos, e acabar com aquele sentimento que infelizmente ainda está na sociedade.

“Infelizmente, quando você entra num aeroporto percebe gente virando o nariz porque agora tem pobre viajando de avião, ou quando as pessoas olham torto para uma travesti ou para alguém com alguma deficiência, ou jogam banana para um negro, ou coisas parecidas.

“O trabalho da Secretaria de Direitos Humanos é transversal, a gente trabalha com o Ministério da Educação, da Saúde, da Justiça, em várias frentes. Temos três secretarias que cuidam da especificidade da violência e da discriminação: mulheres, negros, pessoas com deficiências, crianças, adolescentes, a comunidade LGBT. É em nome desse esforço do governo da presidenta Dilma que nós estamos aqui para dizer que cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, mas fazer com que isso vire direito de todos é tarefa de todos nós, não apenas de alguns, não apenas de poucos. Sucesso para a Parada e sucesso maior nas atividades e nas ações depois da Parada. É isso que é importante para todos nós, para a sociedade brasileira, para o nosso querido país (aplausos e gritos)”.

Do blog Farofafá