A Alemanha tem uma posição clara em relação ao euro. Seus cidadãos não querem pagar o custo do ajuste que os países do sul da Europa precisam fazer para superar a crise. Querem que o custo recaia sobre os cidadãos dos países endividados. E não admitem discutir a sua descontinuidade negociada e planejada.

Ao invés, querem que os países endividados, inclusive a França, continuem a realizar a política de austeridade, que produz recessão e desemprego de longo prazo, o que levará à baixa dos salários reais nesses países e ao reequilíbrio fiscal.

A baixa dos salários é necessária, não tanto para equilibrar as finanças públicas (que antes da crise não estavam mais desequilibradas do que a da Alemanha), mas para as finanças privadas que se desequilibraram devido à apreciação da taxa de câmbio implícita, causada pelo aumento do custo unitário da mão de obra nesses países em relação à Alemanha. Lograda a baixa dos salários reais, o custo unitário da mão de obra cairá, e a crise será superada.

Esta política é racional do ponto de vista da Alemanha. Mas será para outros países, como a França? Seria se não houvesse alternativa, mas há: terminar de forma acordada com a união monetária e desvalorizar os respectivos euros nacionais. Dessa maneira, os salários e todos os rendimentos cairiam e a crise se resolveria com menos sofrimento e com menores riscos políticos e econômicos.

Que Grécia, Irlanda e Portugal não considerem essa alternativa é compreensível. Mas é incompreensível que Espanha, Itália e, principalmente, França tenham a mesma atitude.

Ou melhor, é compreensível para as empresas endividadas em moeda estrangeira desses países; é compreensível para os ricos e para os servidores públicos cujo emprego não esteja ameaçado; mas é incompreensível para a grande massa da população. Até quando essa maioria sobre a qual está caindo o ajustamento aceitará a carga? Até quando continuará a ver o euro como algo “intocável”?

Até há pouco, os europeus argumentavam que eram obrigados a aceitar a austeridade porque a crise causada pela descontinuidade do euro seria terrível. Como o argumento era fraco, surgiu outro: é preciso não voltar às “desvalorizações competitivas” que existiam antes do euro. As desvalorizações não eram competitivas, eram necessárias; visavam restabelecer a competitividade e o equilíbrio da conta corrente do país, perdidos porque outros países aumentaram a produtividade mais rápido ou baixaram salários, ou porque a inflação fora maior no país que desvalorizara.

O problema, portanto, é saber até quando franceses, italianos e espanhóis suportarão essa política. As eleições nos outros países e a queda da popularidade de François Hollande na França mostram que a paciência está se esgotando. Resta esperar que antes disso os dirigentes europeus entrem em um acordo que seja razoável para todos e que preserve a União Europeia, hoje ameaçada.