A opção nuclear

Sempre me pareceu equivocada a ideia de que a resposta às crises nos mercados financeiros deva ser puxar o “freio de mão” na atividade produtiva, de modo a restringir o consumo e desestimular os investimentos. Com as dificuldades no exterior, o correto é orientar o esforço de crescimento cada vez mais para o mercado interno, explorando o seu grande potencial de expansão. Numa certa medida, pelo menos no número de projetos, este já é o objetivo de uma boa parte das obras apoiadas no PAC.

 

Na infraestrutura os dois setores-chave são a energia, especialmente a hidreletricidade, e os transportes, envolvendo o rodoferroviário, as hidrovias e os portos, basicamente. No primeiro caso, novos fatores introduzidos recentemente nas discussões da questão ambiental vieram dar esperança de que objeções importantes à construção de hidrelétricas perderam força entre nós. O primeiro deles decorre da divulgação das conclusões de dois relatórios arrasadores sobre a destruição produzida pela explosão dos reatores nucleares de Fukushima (o mais recente, no Japão) e o mais antigo, de Chernobyl (em 1986, na Ucrânia).

Os custos materiais e humanos apurados nos relatórios mostram com toda a clarividência que a construção de usinas nucleares não é mais uma opção viável, capaz de substituir a energia limpa fornecida pelas hidrelétricas. As conclusões são tão graves que, embora correndo o risco de lidar com um enorme apagão, crescem no Japão as pressões sociais para o desligamento dos reatores, a exemplo do processo já em andamento na Alemanha e em tenso debate na Grã-Bretanha, países também fortemente dependentes do fornecimento da energia atômica.

Apesar de não se conhecerem números precisos das perdas humanas e da população deslocada em razão do desastre, a radiação produzida no acidente de Chernobyl resultou em milhares de vítimas que continuam em tratamento médico ao longo desses 26 anos. No caso da usina japonesa, 100 mil habitantes tiveram de abandonar suas casas, e é certo que 30 mil dificilmente poderão retornar à região de Fukushima. Os custos da descontaminação estão orçados em 600 bilhões de dólares, algo como um quinto do PIB brasileiro. Informações mais completas foram divulgadas em matéria especial da revista The Economist na edição deCartaCapital de 21 de março último, sob o título “Energia nuclear, uma alternativa fracassada”.

Outro fator que passou a influir no debate entre nós foi a decisão do governo de apoiar claramente e com firmeza o Plano Decenal de Energia que prioriza a construção das usinas nos grandes afluentes da margem direita do Rio Amazonas para gerar mais 42 mil megawatts de energia hídrica até 2020. Os novos investimentos para atender ao crescimento da demanda brasileira de energia nos próximos dez anos serão feitos nos rios Araguaia, Tocantins e Tapajós (usinas de São Luiz e Jatobá, as maiores), que vão se somar às usinas já em construção no Madeira (Jirau e Santo Antônio) e de Belo Monte, na Volta Grande do Rio Xingu.

Apesar de ainda ocorrerem manifestações esporádicas (como se viu na ocasião da recente Conferência Rio+20), as objeções de ambientalistas vêm se reduzindo diante da afirmação brasileira de que o desenvolvimento sustentável de sua economia depende do aproveitamento dos rios ama-zônicos. Eles respondem por 70% de todo o potencial de expansão da matriz energética limpa que o mundo passou a admirar (e invejar). A impossibilidade da alternativa nuclear reforça essa nossa opção.

Igualmente o Brasil tem demonstrado aos observadores dos organismos internacionais que não apenas preserva o ambiente natural da Amazônia como seu governo mantém um diálogo aberto e permanente com as populações indígenas, ouvindo suas reivindicações e oferecendo compensações negociadas e aceitas pelos seus legítimos representantes. Nesse particular o comportamento brasileiro tem sido exemplar, sem dar margem a contestações das ONGs por mais interesse que tenham de mostrar o contrário.

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Fonte: CartaCapital