A razão para acreditar nisso está tanto na conjuntura da economia mundial quanto na da brasileira, que tornam o ambiente menos inflacionário. No caso da primeira, o que se vê é um baixo desempenho nas economias da Europa, com recessão em alguns países; recuperação fraca nos Estados Unidos; e desaceleração na China, hoje o segundo maior PIB do planeta.

No Brasil, a despeito de a demanda das famílias permanecer aquecida, a economia como um todo segue fraca. Apesar de todos os estímulos dados pelo governo, a produção industrial parece não sair do lugar. Em março, segundo o IBGE, caiu em todas as medidas de comparação – sobre o mês anterior (queda de 0,5%), sobre março de 2011 (-2,1%), no acumulado de 2012 (-3%), em 12 meses (-1,1%) e na média móvel trimestral (-0,3%).

Desafio é convencer agentes de que BC está no caminho certo

A confiança dos industriais, de acordo com a última sondagem feita pela FGV, tem aumentado, mas de forma muito lenta. Caiu 12,1 pontos percentuais entre dezembro de 2010 e outubro do ano passado e, de lá para cá, recuperou apenas 2,6 pontos. Uma boa parcela dos empresários informa que ainda está desovando estoques acumulados ao longo do exuberante ano de 2010.

Enquanto esse processo de correção de estoques não terminar, é bem provável que a indústria continue sem apetite para fazer novos investimentos. Os dados da produção industrial são claros e refletem esse sentimento: os itens que mais caíram no ano (até março) foram bens de capital (máquinas e equipamentos) – recuo de 11,4% em relação ao mesmo período de 2011 – e bens de consumo duráveis (-11,6%).

É razoável acreditar que a indústria brasileira, mesmo diante de um mercado de trabalho aquecido, da renda do trabalhador em alta e da queda dos juros promovida pelo BC e agora também por alguns bancos, esteja temerosa por causa do cenário internacional adverso, afinal, o Brasil não é uma ilha. O próprio Banco Central advertiu, em agosto, que o impacto da crise mundial no PIB brasileiro seria equivalente a, no mínimo, 25% do que teve a turbulência de 2008 – uma subtração de pelo menos 0,5 ponto percentual de crescimento no espaço de 12 a 18 meses.

O comércio varejista, por sua vez, segue crescendo a taxas elevadas. Os dados de fevereiro mostram alta de 9,6% sobre o mesmo mês de 2011; alta de 8,7% no acumulado do ano e de 6,7% em 12 meses. O que favorece esse desempenho é a renda do trabalhador, que continua avançando em ritmo forte, em parte por causa do salário mínimo, que aumentou 14,13% em janeiro, beneficiando cerca de 48 milhões de pessoas.

O espaço entre oferta da indústria e demanda tem sido ocupado pelas importações. Se isso preocupa o produtor nacional e é natural que seja assim, por outro lado ajuda o BC a inflação. Ademais, os preços das commodities, que inflacionaram a economia brasileira no fim de 2010 e no início de 2011, estão em queda. Não se avista no horizonte, pelo menos não por ora, pressão inflacionária relevante.

Todo esse quadro levou o governo a apostar todas as fichas na redução dos juros. Já há em Brasília quem acredite que o BC reduzirá a taxa básica (Selic) para menos de 8% ao ano até dezembro – hoje, está em 9%. Juros tão baixos para a tradição brasileira provocam inflação, acreditam muitos analistas. Reside, aí, o grande desafio do governo, particularmente do Banco Central.

Como o regime de metas para inflação não foi abolido, em tese nada impede que o BC volte aumentar juros no futuro próximo, caso o IPCA suba em algum momento. Além disso, apesar das mudanças no cálculo da poupança, alguns dos constrangimentos que impediam a queda da Selic, como a existência de um volume considerável de crédito direcionado, continuam presentes. Isso explica a desconfiança do mercado, refletida nas expectativas de inflação para 2012 e 2013. Elas vêm se deteriorando nas últimas semanas – neste momento, estão, respectivamente, em 5,12% e 5,56%.

Expectativas não são meras opiniões. São um componente importante da inflação. Para que a estratégia de redução dos juros seja bem-sucedida, governo e BC terão que convencer o mercado de que o caminho escolhido é consistente e o mais adequado ao país neste momento, e não resultado de um desejo político de baixar os juros na marra e forçar o crescimento da economia a qualquer preço, mesmo que às custas de uma inflação superior à meta de 4,5%. Se as expectativas não melhorarem, a inflação tende a aumentar, o que colocará em risco a estratégia de uma redução mais acelerada dos juros.

A presidente Dilma está consciente da necessidade de um melhor gerenciamento das expectativas. O governo acredita que está diante de uma batalha de comunicação, em três fases. Na primeira, a presidente atacou o que considera a “frente popular”. Fez pronunciamento à nação em horário nobre da TV, um dia antes das celebrações do 1 de Maio, sobre a necessidade de queda dos juros. Com isso, abriu caminho para o movimento seguinte – a mudança da forma de cálculo da poupança, uma medida necessária para a Selic continuar caindo.

A fase 2 foi uma ofensiva de imprensa das duas principais autoridades do Ministério da Fazenda – o ministro Guido Mantega e o secretário-executivo Nelson Barbosa – para esclarecer as alterações da poupança. A fase 3 são campanhas publicitárias promovidas pelo Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, exemplo que deve ser seguido por pelo menos dois grandes bancos privados – Bradesco e Itaú -, segundo informação recebida pela presidente na quinta-feira passada.

Naquele dia, Dilma ouviu de três banqueiros – Pedro Moreira Salles (Itaú Unibanco), André Esteves (BTG Pactual) e Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco) – que há espaço para baixar juros. A presidente quer, agora, que o BC atue no mercado para melhorar as expectativas dos agentes econômicos.

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Fonte: Valor Econômico