Sabemos que as duas possibilidades estão corretas do ponto de vista da gramática normativa. A mulher que ocupa a presidência pode ser chamada de “presidente”. Mas também sabemos que Dilma prefere “presidenta”. Tanto assim é que o programa semanal Café com o Presidente tornou-se Café com a Presidenta, e no site oficial do Planalto há um serviço intitulado “Fale com a Presidenta”.

Quando Carlos José Marques, da revista IstoÉ, escreve que “o governo da presidenta Dilma começa de fato em 2012” (seu editorial desta semana), expressa discreta simpatia pela sucessora de Lula. Quando J.R. Guzzo da revista Veja (e toda a revista Veja) escreve “a presidente da República” ou “a presidente Dilma”, manifesta frieza e mal-estar.

Por outra parte, o tom é respeitoso no Correio da Bahia (“a presidenta Dilma Roussef chegou em Salvador”) no Diário do Grande ABC (“A presidenta Dilma Rousseff disse que vai conversar com os governadores”) e no Diário de Natal (“Presidenta Dilma Rousseff”).

Tanto a torcida da “presidenta” como o time que emprega o “presidente Dilma” estão fazendo, mais do que uma escolha gramatical, uma opção política.

Coerência política

O uso do feminino pode ocorrer também em tom sarcástico, quando Reinaldo Azevedo se refere à “soberana Dilma Primeira”. De modo geral, porém, o “presidente” para Dilma é uma forma de marcar (o)posição, e neutralizar o fato inédito e meritório de uma brasileira ocupar o mais alto cargo. Ou é machismo puro e simples, como no caso de Jair Bolsonaro.

Haverá exceções, mas é comum que a expressão “a presidente Dilma” venha acompanhada de discordância: “A presidente Dilma Rousseff deitou e rolou no Congresso Nacional, aprovando tudo o que queria, sem maiores sacrifícios, a não ser atender aos apetites dos aliados” (Balaio do Kotscho, 26/12/2011).

Fernando Henrique Cardoso, mesmo nos textos mais críticos, utiliza “presidenta”, retribuindo a gentileza com que Dilma o tem tratado. José Serra escreve em seus artigos “a presidente Dilma”. Gilberto Kassab, no entanto, opta pelo “presidenta”… por uma questão de coerência partidária, obviamente.

* Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor

Fonte: Observatório da Imprensa