O primeiro questionamento está ligado à ideia de que o petróleo é uma energia do passado e que não vale a pena mobilizar recursos da sociedade em um negócio fadado a encolher e desaparecer rapidamente. Tal ideia não tem sustentação na realidade dos fatos.

Os estudos de previsão da matriz energética mundial apontam para um papel do petróleo e do gás natural ainda dominante no horizonte de longo prazo. Segundo a Agência Internacional de Energia, essas fontes deverão representar 75% da matriz energética mundial em 2035, no cenário mais otimista para as energias renováveis.

Esse tipo de previsão é confirmado por outras agências governamentais e pelas principais empresas energéticas mundiais. Podemos dizer que o petróleo e o gás conservarão um papel destacado na longa transição para uma economia descarbonizada. Nesse sentido, o pré-sal constitui uma expressiva vantagem comparativa para o Brasil.

Nosso país poderá assumir papel de destaque na transição energética, não só devido à sua grande dotação de petróleo e gás, mas também em função do seu potencial significativo de recursos renováveis.

Com relação ao segundo questionamento, é importante ressaltar que o Brasil é um grande caso de sucesso na exploração “offshore” em águas profundas. A partir dos anos 1980, o país fez um enorme esforço econômico e tecnológico no campo da exploração “offshore” na busca da autossuficiência em petróleo.

Como resultado desse esforço, a Petrobras tornou-se empresa líder nessa tecnologia e hoje é a maior operadora mundial na produção de petróleo em águas profundas.

O país vem, até o momento, equacionando com sucesso outro grande desafio: o financiamento do expressivo volume de investimentos necessários para o aproveitamento do petróleo do pré-sal.

Grande parte dos recursos para financiar tais investimentos vem do próprio fluxo de caixa da Petrobras. Em 2010, os lucros e os investimentos da empresa atingiram R$ 35,2 bilhões e R$76,4 bilhões, respectivamente. Isso significa que o sistema Petrobras investiu o equivalente a R$ 210 milhões de reais por dia.

Esse esforço está, em grande medida, associado à política de alinhar os preços dos combustíveis no Brasil aos do mercado internacional. Tal estratégia garantiu uma forte elevação dos ganhos da Petrobras em função do crescimento do preço do barril do petróleo.

A política de preços adotada gerou confiança para que grandes “players” da indústria mundial do petróleo, assim como novas empresas brasileiras, apostassem no futuro do petróleo e do gás no país.

Por fim, vale dizer que o desenvolvimento do pré-sal não representa necessariamente um obstáculo para as energias renováveis.

Pelo contrário, o Brasil tem a oportunidade de se apoiar nos benefícios econômicos do pré-sal para desempenhar um papel-chave nas energias do futuro. Esse é um desafio ambicioso, que deve ser enfrentado no âmbito de uma estratégia de longo prazo.

Edmar de Almeida, professor e diretor de pesquisas do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é vice-presidente da International Association for Energy Economics (Associação Internacional de Economia da Energia) e presidente da Associação Brasileira de Estudos em Energia.


Fonte: Folha de S.Paulo