A liderança turca, sob o premiê Retzep Tayyip Erdogan, inspirada pela doutrina de expansão do ministro de Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, busca assumir a "liderança" da defesa do povo palestino.

Estas pretensões foram reveladas desde 2009, quando o premiê Erdogan retirou-se sonoramente da discussão que travou com o presidente do Estado de Israel no âmbito da reunião do World Economic Summit, em Davos, na Suíça, protestando contra a invasão israelense em Gaza, ao recordar, após longos anos de "diplomacia de equilíbrio" e relações estreitas com Estado de Israel, os direitos do povo palestino.

Em seguida ocorreu o episódio envolvendo o navio turco Mávi Marmará, que – em missão humanitária – tentou quebrar o bloqueio israelense na Palestina, quando foi abordado por comandos israelenses e no entrevero que se seguiu foram mortos nove cidadãos turcos. Em consequência disso, a Turquia interrompeu suas relações diplomáticas com o Estado de Israel.

E nestes últimos dias, o premiê Erdogan realizou uma longa peregrinação em países árabes da África do Norte, ocasião em que elogiou a Primavera Árabe e lançou uma saraivada de ameaças contra o Estado de Israel e contra a cooperação entre Israel e a República de Chipre para exploração das jazidas de petróleo e gás natural situadas em águas territoriais da Ilha de Chipre.

Cacife com EUA

Desenvolvendo a Doutrina Davutoglu, a diplomacia turca, metodica e sistematicamente, busca projetar-se como representante e defensor do Mundo Árabe Muçulmano, defendendo os interesses da classe média turca, sem com isto significar que deixou de compartilhar os objetivos imperialistas ora promovidos nesta região.

Não são poucas as vezes que mudou de posição "no cair da noite", escolhendo "campo" no âmbito das contradições endoimperialistas, como fez, por exemplo, no caso da Líbia, assim como da Síria, quando gradualmente abandonou seu oficialmente declarado aliado Assad, alinhando-se com as posições dos EUA, França e Grã-Bretanha, transformando-se em local básico para realização das reuniões da "oposição síria", apoiando-a e incentivando-a para evoluir de acordo com o modelo líbio.

Também durante sua peregrinação no Egito, Tunísia e Líbia, o premiê Erdogan deixou claro que o governo turco apoia direta e financeiramente as forças do denominado Suave Islã e seus representantes locais, os Irmãos Muçulmanos. Estes, por sua vez, declaram que seu modelo político "é o partido de Estabilidade e Desenvolvimento de Erdogan".

Contudo, os indisfarçáveis esforços de Erdogan de configura-se como "líder do Mundo Árabe Muçulmano", com objetivo de negociar melhores condições com os imperialistas para os interesses da classe média turca, parece que incomodaram os "irmãos" egípcios que, indireta, mas claramente lembraram-lhe que também eles têm negociado com os EUA em defesa dos interesses do capital egípcio, e exigiram-lhe "baixar o tom".

Petróleo na Ilha de Chipre poderá inflamar região

A situação na região do Grande Oriente Médio complica-se ainda mais, assim como as evoluções em vista da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), durante a qual, assim como após sua realização, assumem características mais explosivas se for levado em consideração que o importante valor energético e geoestratégico da região do Mediterrâneo Oriental tem sido significativamente valorizado por causa da descoberta de ricas jazidas energéticas em águas territoriais da República de Chipre.

Assim, torna-se cada vez mais evidente que a questão da Palestina, assim como todos os demais discursos sobre "direitos humanos e liberdades individuais", são utilizados como pretextos para promoção de interesses e implantação de novas zonas de influência, em meio a uma selvagem competição entre as potências neocolonialistas e estreantes periféricas, as quais, a exemplo de como formulam alianças, igualmente, concluem em conflitos.

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Fonte: Monitor Mercantil