A proibição do short-selling, que vigora desde o fim da semana passada em vários mercados da Europa, é avaliado por especialistas como uma reação superficial das autoridades que não conseguirá acrescentar nada para a solução dos problemas que atingem a Zona do Euro e para contenção da forte convulsão dos mercados.

As autoridades esperam que a proibição de vendas a descoberto na França, Itália, Espanha e Bélgica reduzirá os lances dos especuladores e, deterá a agressiva liquidação que atingiu os mercados na semana passada.

Nick Carn, da Carn Macro Advisors, avalia que "não existe nenhum indício de que esta decisão conseguirá aquilo que as autoridades desejam" e analisa que "é um gesto adotado em um esforço para sublinhar que os problemas que têm agredido com violência os mercados se devem a alguma espécie de "conspiração diabólica" de um grupo de investidores".

Já foi dito que os especuladores são aqueles que martelam os preços dos títulos estatais gregos e italianos, como se estes dois países não tivessem problemas que fariam os investidores descarregarem estes bônus. Esta ação tenta criar a imagem de que os problemas têm sido criados pelos "suspeitos habituais" dos mercados, algo que, naturalmente, não vigora em nenhum caso.

Os traders, aliás, consideram que, em consequência desta decisão das autoridades reguladoras, haverá um fortíssimo golpe contra as moedas, por causa do mercado que tratará de vender exatamente o próximo – mais líquido – ativo.

A propósito, Carl Astori, diretor de Finanças e Investimentos Estratégicos da Coutts, lembra que "aquilo que falta no mercado é confiança e liderança". Até retornarem então estes dois muito importantes elementos, os mercados serão extremamente frágeis ante o medo e a especulação.

Astori acrescenta que "as ações européias são, indiscutivelmente, baratas, mas com os mercados evoluindo com tal velocidade e com tão forte volatilidade neste espaço de tempo, poucos são aqueles que concentram-se na atração das ações neste momento".

Curta duração

Rupert Watso, diretor de Distribuição de Ativos da Skandia Investment Group, esclarece que "a confiança em tudo que tem sido feito com a Europa é extremamente baixa neste momento. A proibição do short-selling por um período, embora vá impedir a repentina queda das ações, é uma solução provisória e superficial, porque o verdadeiro problema, em essência, são os excessívos níveis de dívida e déficits".

A coluna Lex, do jornal britânico Financial Times, menciona que "a longo prazo, as proibições de venda a descoberto não ajudam em nada e o mais recente exemplo disso é a proibição em cerca de 880 ações – principalmente de bancos -aplicadas pela Comissão de Mercados de Capitais dos EUA, em setembro de 2008, após a "falência" do Lehman Brothers".

Naturalmente, as notícias resultaram em impressionante corrida dos preços das ações, com a ocorrência de febre de fechamento das posições em aberto. O resultado foi uma semana de explosivos desempenhos em Wall Street, a qual, contudo, não continuou e, ao que tudo indica, não continuará.

Durante as três semanas de proibição, então, os indicadores com as ações que estavam na lista da proibição perderam 26%, enquanto o indicador S&P 500 recuou muito menos, 21,5%. Aliás, no fundo do poço do mercado, registrado mais tarde, as ações "protegidas" despencaram, finalmente, até 63% mais baixo do nível em que encontravam-se no dia da "falência" do Lehman Brothers, enquanto o S&P 500 registrou perdas da ordem de 46%.

Como muito caracteristicamente comenta a coluna Lex, "isto não causa surpresa, considerando que os investidores não tardaram a conscientizar-se que as posições em aberto em ações específicas eram, finalmente, "corretas". Quando o pessimismo está correto, as proibições não cessarão de revelar a verdade".

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Fonte: Monitor Mercantil