Uma usina hidrelétrica (e não apenas na Amazônia, podia ser no Vale do Tennessee, nos EUA, ou na de Três Gargantas, na China), necessariamente modifica o ambiente físico. Na minha vivência de mais de meio século de acompanhamento do desenvolvimento energético brasileiro, aprendi que as mudanças são positivas sob todos os aspectos e isso diz respeito à flora, à fauna e aos seres humanos, naturalmente.

O aproveitamento do potencial hídrico envolve uma enorme gama de questões que devem ser tratadas pelo seguinte prisma: energia é essencial, é fator fundamental tanto para a sobrevivência do homem quanto para o funcionamento da economia. O desenvolvimento econômico é, no fundo, um processo termodinâmico, não adianta ter ilusões a esse respeito. As sociedades têm de capturar a energia que está dispersa no seu ambiente e depois dissipá-la na produção de bens e serviços. Os homens escolheram a forma que preferiram viver e isso foi há mais de 150 mil anos…

Quando vejo essas manifestações de saudade da vida na caverna, imagino que, no fundo, elas se destinam a esconder algumas verdades que são parte da vida atual de todas as sociedades habitadas pelos manifestantes: parece haver uma dificuldade em reconhecer a presença de tantas coisas boas em suas vidas, de tal sorte que muitos que exigem o retorno à Idade da Pedra reivindicam ao mesmo tempo a manutenção de seus BMWs nas garagens anexas.

Nem os mais bem-intencionados ambientalistas (que são a maioria, reconheço), ou os mais empolgados e menos sérios, admitem que possam viver sem beneficiar-se dos recursos modernos que dão acesso às novas tecnologias. As aldeias indígenas, no perímetro alcançado pelas obras de Belo Monte, e os habitantes do enorme município de Altamira e sua vizinhança são as que mais reivindicam participar do empreendimento que sabem vai melhorar a qualidade de suas vidas e a renda das famílias.

Ao contrário de muitos urbanoides, os verdadeiros caciques indígenas do Pará são bastante informados sobre os resultados dos empreendimentos anteriores (que puderam visitar ou lhes foram mostrados), começando pelo Projeto Carajás, desde os anos 80 do século XX até a expansão da hidrelétrica de Tucuruí- e a construção das eclusas no Rio Tocantins. Trabalhei na estruturação do financiamento externo daqueles projetos e já naquela ocasião as exigências de preservação ambiental eram extremamente severas. Os recursos do Banco Mundial só foram liberados depois de atendidas todas as exigências.

Hoje, nenhum desses investimentos em hidrelétricas, instalações, portos, ferrovias, rodovias e eclusas é aprovado sem levar em conta medidas de segurança máxima. O problema ambiental sobrepõe-se muitas vezes à questão dos custos.

Tendo defendido praticamente durante toda a minha vida profissional a consolidação de uma matriz energética limpa e confiável, graças à utilização do nosso potencial hídrico, senti-me estimulado a citar aqui as linhas finais do excelente artigo de autoria do senhor Marcelo Corrêa, diretor-presidente da NeoEnergia (empresa que comanda o emblemático empreendimento que se inicia no Rio Xingu), publicado na edição de 22 de junho no Valor Econômico: “Belo Monte, assim como as novas usinas em construção, dentre as quais Teles Pires, de 1.820 MW, no Mato Grosso, e as de Jirau (3.450 MW) e Santo Antonio (3.150) no Rio Madeira, em Rondônia, representam um paradigma no modelo energético brasileiro, tanto pela utilização de novas tecnologias quanto na observância da rigorosa legislação ambiental e na execução das medidas antecipatórias e das condicionantes impostas pelas licenças ambientais.

Obedecidos os critérios para a mitigação dos efeitos socioambientais, não há como se opor à implantação e à construção de hidrelétricas na Amazônia, obras que beneficiarão as populações das respectivas regiões e a toda a população brasileira, pois abrir mão desse potencial energético poderá significar abrir mão do desenvolvimento da região”.

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Fonte: CartaCapital