Recente estudo com coautoria de Robert Feenstra, economista da University of California, no campus de Davis, mostra que a liderança econômica mundial passaria à China em 2014. De forma ainda mais radical, Arvind Subramanian, do Peterson Institute of International Economics, argumenta que, na verdade, a China passou os EUA em PPP no ano passado.

A paridade do poder de compra calcula a renda de um país por meio de um conjunto de preços internacionais aplicado a todas as economias. Os preços nos países em desenvolvimento normalmente são mais baixos do que em países desenvolvidos. Portanto, sua renda pode acabar subestimada, se calculada apenas de acordo com a taxa de câmbio. Calcular a renda pela PPP evita esse problema.

Por sua vez, estimar a renda em PPP traz seus próprios problemas. Um deles consiste no fato de que cada país tem uma cesta de consumo diferente, com a maior disparidade sendo entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos. Por exemplo, alimentos normalmente representam 40% ou mais dos gastos familiares em um país em desenvolvimento típico, enquanto na maioria dos países desenvolvidos a porcentagem é inferior a 20%.

O objetivo da comparação pela PPP é medir a real qualidade de vida de um país. No caso, pode ser vista como uma comparação entre o produto agregado de cada país, composto pela cesta de consumo de cada país. Os componentes desse produto agregado, entretanto, variam de país a país. Ou seja, os cálculos pela PPP, de fato, comparam maçãs com laranjas.

O argumento pode soar técnico, mas tem implicações profundas nas comparações da qualidade de vida entre países. Vamos presumir que comparamos dois países. Um deles tem a economia baseada na agricultura e as pessoas compram apenas alimentos, enquanto o outro é industrial e as pessoas, além de comida, compram roupas. A divisão dos gastos do segundo país nesses dois itens é de 20 e 80%, respectivamente.

Quantas mercadorias um chinês pode comprar nos EUA com a renda que ganha na China? É preciso recorrer à renda nominal para responder a questão. Valorização de 10% do yuan eleva o poder de compra nos EUA em exatos 10%, embora sua qualidade de vida não mude em termos de PPP.
Presumamos, ainda, que a renda nominal per capita pelas taxas de câmbio do mercado no segundo país é quatro vezes maior do que no primeiro. Os preços dos alimentos são os mesmos nos dois países, enquanto, no segundo país, o preço das roupas é cinco vezes maior do que o dos alimentos.

No exemplo, o preço do produto agregado no segundo país é 4,2 vezes o preço do produto agregado do primeiro. Prosseguindo os cálculos, vemos que, em PPP, as pessoas do segundo país são apenas 5% mais pobres do que as do primeiro país!

Esse resultado absurdo é possível apenas porque a PPP compara duas cestas de consumo diferentes. A cesta de consumo do chinês médio é amplamente diferente da cesta do americano médio, portanto, as comparações pela PPP entre China e EUA podem ser enganosas.

A PPP responde à seguinte questão: quanto um chinês precisa ganhar para manter a qualidade de vida que tem na China caso se mude para os EUA?

Essa pergunta, no entanto, não é intuitiva nem realista. No que se refere à comparação do poder de compra no mercado internacional, uma questão mais apropriada seria: Quantas mercadorias um chinês pode comprar nos EUA com a renda que ganha na China? É preciso recorrer à renda nominal para responder a questão. Uma valorização de 10% do yuan eleva o poder de compra de um chinês nos EUA em exatos 10%, embora sua qualidade de vida não mude em termos de PPP.

Porém, mesmo em termos nominais, a economia da China ultrapassará a dos EUA em um período relativamente curto. Presumindo que as economias da China e EUA, respectivamente, cresçam, 8% e 3% em termos reais, com inflações de 3,6% e 2% (as médias dos últimos dez anos) e uma valorização do yuan em relação ao dólar de 3% ao ano (média dos últimos seis anos), a China se tornará a maior economia mundial em 2021. Até lá, o Produto Interno Bruto (PIB) de cada um dos dois países estará em torno a US$ 24 trilhões, talvez o triplo do tamanho da terceira maior economia, seja o Japão ou Alemanha.

Supor expansão de 8% para China pode ou não ser uma aposta segura. Caso a China cresça entre 9% e 10% nos próximos cinco anos e entre 6% e 7% nos cinco anos seguintes, a meta de crescimento médio de 8% até 2021 seria atingida.

O mundo já começou a defender que a China assuma maior responsabilidade pela saúde da economia mundial. À medida que a economia da China continuar em crescimento e acabar se equiparando ao PIB dos EUA, essa demanda ganhará mais força. Por qualquer uma das estimativas mais recentes, a China tem pouco tempo para se preparar.

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Yao Yang é diretor do Centro para a Reforma Econômica da China, da Universidade de Pequim. Copyright: Project Syndicate, 2011. Podcast no link:

http://media.blubrry.com/ps/media.libsyn.com/media/ps/yyao2.mp3

www.project-syndicate.org

Fonte: Valor Econômico