É possível que Osama bin Laden tenha sido morto, mas sua herança permanece e, como se fosse uma Hidra de Lerna, multiplica suas cabeças, aquelas que são alimentadas pelo ódio contra as ações agressivas do Ocidente.

Imediatamente após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, Barack Obama, então membro do Senado estadual de Illinois, escreveu em uma carta: "Devemos garantir, apesar da nossa ira, que qualquer operação militar por parte dos EUA levará em consideração as vidas de cidadãos inocentes no exterior. Não devemos alimentar preconceitos contra nossos vizinhos e amigos dos países do Oriente Médio. Finalmente, devemos envidar maior esforço para a majestosa obra de elevação das esperanças das crianças amarguradas em todo o mundo; não só no Oriente Médio, mas, também, na África, na América Latina, na Europa Oriental e dentro de nossas fronteiras".

As palavras do então senador, futuro presidente dos EUA, não trouxeram simplesmente uma mensagem pacificadora: Obama apontou, indiretamente, a necessidade para compreensão das razões mais profundas que causam esses atentados terroristas. Atentados para os quais o enfrentamento exigia – e exige – planejamentos estratégicos que se estendem além de ação militar ou a eliminação física de indivíduos isolados.

Durante cerca de três décadas, Osama bin Laden, um imponente e rico cidadão da Arábia Saudita, constituiu fonte de inspiração para dezenas de milhares de muçulmanos e "uma pedra no sapato" de governos e serviços secretos.

O homem, responsável pelo pior golpe contra os EUA após a Segunda Guerra Mundial – dentro do próprio território norte-americano – já está morto. O capítulo que abriu em setembro de 2001 encerrou-se com um inglório fim para o próprio e com grandes manifestações de euforia por parte do Ocidente para o "golpe fatal" que atingiu o Islã radical.

"Franquias" periféricas

Entretanto, qualquer referência relativa à eliminação do terrorismo islamista deverá estar acompanhada pelo seguinte: O Jihad islâmico, no sentido que lhe foi atribuído pelo Ocidente, constitui um amplo fenômeno que somente em seu ponto mais alto encontra-se a "célula dura" da Al Qaeda, a qual Bin Laden "dirigia".

Por baixo encontra-se um total desconhecido de "franquias" periféricas, movimentos e grupos que servem ao objetivo da "guerra santa". Mais embaixo, perto da base da pirâmide, existem muitos milhares de indivíduos isolados, tanto no Mundo Muçulmano, quanto no mundo ocidental, que poderão ser denominados "bases jihadistas".

Esses indivíduos estão sendo radicalizados, adotam a ideologia extremista e são armados sem ter nenhuma ligação direta com a Al Qaeda, suas várias bases ou os demais grupos. Enquanto examina-se a base da pirâmide, automaticamente diminui a capacidade operacional e a especialização nas várias atividades terroristas.

E foram, exatamente, os indivíduos da base da pirâmide que assumiram a continuação da "guerra santa", quando, após 11 de setembro de 2001, a "célula dura" da Al Qaeda foi posta na alça de mira dos EUA.

Ocidente amedrontado

Nos atentados a bomba em Londres, em 7 de julho de 2005, os terroristas eram homens jovens de origem muçulmana, que foram criados ou nasceram na Grã-Bretanha. A Al Qaeda transformou-se de uma organização forte e coesa, com políticas específicas de recrutamento, treinamento e planejamento, em uma rede terrorista, sem identidade e totalmente "morna".

Desde 11 de setembro de 2001, é uma organização que "vende" a franquia de seu nome a outras organizações islamistas, sobre cujas atividades não exerce nenhuma espécie de controle.

O líder foi eliminado, mas o sonho e a ideologia do Jihad mundial continuam inspirando milhares de indivíduos em todo o mundo. A ameaça terrorista não será eliminada invadindo os denominados "Estados párias", ou assassinando os arquiterroristas, mas solucionando os subjetivos problemas políticos que permitiram o agigantar da violência. Não precisa-se mais uma impressionante ação terrorista como aquela de 11 de setembro de 2001 para ser atingido o Ocidente.

É suficiente uma bomba de fabricação caseira em um ponto multifrequentado no coração de uma capital ocidental ou, ainda, uma falha de segurança nos transportes aéreos, algo que permitiria um atentado como aquele da Al Qaeda na Península Arábica, em outubro do ano passado, atingir seu alvo.

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Fonte: Monitor Mercantil