Visível era o nervosismo do jornal britânico Financial Times com os islandeses. "O (presidente) Grimsson saúda a provocadora posição na nação", dizia a manchete de oito colunas de uma longa reportagem. Mas, mais revelador das razões da ira dos britânicos, era o subtítulo: "Grimsson diz que o resultado da votação envia mensagem aos países atingidos pela crise da dívida externa".

Quer dizer que os britânicos temem que talvez os gregos, portugueses e ou os irlandeses imitem os indisciplinados islandeses, os quais, pela segunda vez, negaram categoricamente permitir que seu moribundo governo de centro-esquerda obrigue o povo islandês a pagar as dívidas dos vigaristas banqueiros islandeses com depositantes britânicos e holandeses que totalizam 4 bilhões de euros.

A verdade é que, pela segunda vez dentro de um ano, Ólafur Ragner Grimsson, presidente (de direita) da Islândia, desautorizou o governo socialista da primeiro-ministra Jóhanna Sigurôardottir.

Duas vezes a primeiro-ministra (de centro-esquerda) havia aprovado no Parlamento acordo submetendo-se aos britânicos e holandeses. E por duas vezes o presidente da República recusou-se a assinar o acordo e convocou plebiscito. E por duas vezes o povo islandês rejeitou o acordo com arrasadora maioria. Na segunda vez, com 60% "não".

Apesar disso, o governo de centro-esquerda não mostrou a elementar flexibilidade política demitindo-se. Aliás, a mesma postura manteve também, o anterior governo de direita, o qual foi às pressas "demitido", no início de 2009.

Apesar de tudo isso, o governo da primeiro-ministra Sigurôardottir permanece "pendurado" no poder com unhas e dentes. Mas seus dias estão acabando e muito em breve o país se verá livre deste governo que mostrou-se incapaz de defender os interesses do povo islandês, o qual trouxe a centro-esquerda ao poder com a esperança de que o conduziria à saída da crise que provocou a política do governo anterior de direita, mas foi tragicamente desmentido.

"Não entrarão na UE"

"O povo islandês falou claramente sobre este tema duas vezes. E os líderes dos demais países e instituições internacionais deverão respeitar esta expressão da vontade nacional", disse em seu discurso, após o plebiscito, o presidente da República.

"Os dois plebiscitos devolveram ao país a confiança que havia perdido após a derrocada de sua economia. Seus resultados fortalecem, ainda mais, a democracia", prosseguiu Grimsson, que sentenciou: "A campanha do "não" refere-se tão claramente à principal característica da identidade nacional irlandesa, que é a recusa categórica de submeter-se a pressões estrangeiras".

"Sejam quais forem as vantagens do acordo, o povo concentra mais sua atenção às questões de princípio", declarou ao Financial Times Eirikur Bergmann, cientista político islandês, na Universidade de Befrost.

Fracassaram todas as tentativas de chantagem de britânicos e holandeses contra os islandeses. Os ameaçaram com destruição de sua economia, fim de empréstimos, reavaliações – para baixo – pelas agências de rating. Mas foi em vão.

Agora, os ameaçam com a justiça e que vetarão o ingresso da Islândia à União Européia (UE) se o país não pagar as dívidas dos bancos islandeses falidos aos depositantes britânicos e holandeses. Mas trata-se de uma ameaça tola, porque a maioria dos islandeses é contra o ingresso do país na UE.

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Fonte: Monitor Mercantil