Muitas são as perguntas deste tipo que ocupam os europeus e os norte-americanos. E não só os líderes políticos, mas, também, os simples cidadãos. O entusiasmo com o qual o mundo deu as boas-vindas às pacíficas insurreições do povo desarmado de Tunísia e do Egito cedeu, gradualmente, seu lugar a uma posição de reserva à insurreição organizada e armada da Líbia por círculos que, comprovadamente, mantinham antecipadamente contatos com os EUA e seus aliados na região do Grande Oriente Médio.

Por ora, o preço do petróleo não corre risco algum por causa dos sangrentos conflitos na Líbia. A Arábia Saudita reúne condições de produção para cobrir, imediatamente, qualquer falta de petróleo líbio (o que, aliás, já está fazendo).

Apenas especulação

A especulação – e só – empurra os preços acima dos US$ 76 o barril em setembro do ano passado, para US$ 104 mês passado, antes do início do imbróglio líbio. Aumento de 50% sem razão, enquanto aumentou somente 10% após a eclosão do imbróglio líbio.

Ao que tudo indica, EUA e Otan invadirão a Líbia somente quando verificarem que Kadafi vencerá seu adversários – embora a relação custo-benefício não é vantajosa, como foi com Afeganistão e Iraque. De outra forma, deixarão que os líbios se matem, indefinidamente.

Para os EUA e a Europa não será nenhum problema uma eventual divisão da Líbia em dois Estados. Basta-lhes apenas que o petróleo extraído dos dois novos Estados seja canalizado ao mercado internacional, algo que é, por antecipação, rigorosamente certo.

As relações dos países da Europa recrudescerão se os EUA decidirem invadir a Líbia. Os pretextos sobre "decisão da ONU" e as justificativas de "caráter humanitário" da guerra não terão, obviamente, nenhuma repercussão entre os povos do Mundo Árabe.

Mas, na Arábia Saudita, será jogado o grande jogo das insurreições árabes. Ali é que pulsa o coração petrolífero da economia mundial. As insurreições a cercaram já: no Iêmen e no Omã, em suas fronteiras do Sul. No Bahrein, nas do Nordeste. No Egito, na do Oeste; e no Iraque, ao Norte.

Arábia virará inferno

O pesadelo do "segredo" consiste ao fato de que 80% dos poços petrolíferos da Arábia Saudita situam-se na região Nordeste do país, ali onde a maioria da população árabe-saudita é xiita, dentro da Arábia Saudita extremamente sunita, e, se isso não fosse suficiente, por cima encontram-se as regiões xiitas do Iraque.

Exatamente ao lado, no pequeno Bahrein, onde a maioria xiita já está em pé de guerra e quer derrubar a monarquia sunita.

Quando os árabes-sauditas se insurgirem, virá inferno. Centenas de milhares de xiitas do Iraque – por iniciativa própria ou incentivados pelo xiita Irã – invadirão o território da Arábia Saudita para ajudarem os árabes-sauditas xiitas, seus irmãos, os quais, tentam massacrar os árabes-sauditas sunitas.

Será o caos absoluto, com os EUA invadindo a Arábia Saudita e ocupando os poços de petróleo. Aí sim, a relação custo-benefício será extremamente vantajosa. Mas provocará a guerra entre Ocidente e Mundo Árabe.

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Fonte: Monitor Mercantil