Espetacular é a recuperação de economia da Islândia após a forte reação de seu povo, o qual, por intermédio de um plebiscito, pulverizou a política da moribundo governo social-democrata do país que havia sucumbido aos agiotas emprestadores internacionais, obrigando-o a não pagar aos depositantes estrangeiros as dívidas dos bancos privados da Islândia, deixando-os a falir.

"A queda provou-se menos profunda do que se previa", confessa Marc Flanigan, chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) na Islândia, que se declara entusiasmado pelo fato de os islandeses terem conseguido proteger "o valioso modelo escandinavo de previdência social".

A Islândia, país que não pertence à Zona do Euro, enfrentou a falência do país com uma política total. Primeiro, desvalorizou a moeda nacional – a coroa islandesa – e decretou controles e restrições à circulação de capitais.

Inicialmente, a coroa foi desvalorizada contra o dólar em 50%, mas a desvalorização já está limitada a 30%, e continua contraindo-se. A mais baixa paridade da coroa resultou, imediatamente, em aumento das exportações e redução das importações, substituindo uma de suas parcelas com produtos locais, tendo como resultado a balança comercial da Islândia já registrar superávit.

O Produto Interno Bruto (PIB) do país aumentou 1,2% no terceiro trimestre do ano passado. A inflação, que havia explodido a 18,6%, já despencou para perto de 2,5%, meta fixada pelo Banco Central do país. O déficit no orçamento será em torno de 6,3% do PIB e, rapidamente, talvez ainda dentro de 2011, será levado ao superávit. A dívida pública, que havia explodido a 115% do PIB, será gradualmente reduzido a 80% do PIB até 2015.

Estatização com vantagens

A segunda medida que tomaram os islandeses foi deixarem todos os bancos privados falirem. Em seguida, os estatizaram, mas sob as seguintes condições:

1 – Os bancos nacionalizados reconheceram e garantiram todos os depósitos dos cidadãos irlandeses, não permitindo que ninguém perdesse sequer uma coroa.

2 – Os empréstimos que os irlandeses haviam tomado dos bancos privados foram transferidos aos agora estatizados, mas, pelo fato de a coroa ter sido desvalorizada, foi reduzido, também, o valor nominal dos empréstimos contraídos, além de outras facilidades de resgate que o governo proporcionou aos devedores, para enfrentarem as dificuldades provocadas pela crise, particularmente, nos primeiros momentos (congelamento do resgate dos empréstimos por vários meses e outros).

3 – Os bancos estatizados não reconheceram nenhum compromisso dos bancos privados falidos em países do exterior. Assim, os contribuintes islandeses carregaram em suas costas os ônus de salvação de seus próprios depósitos e transferiram aos investidores e depositantes estrangeiros a conta de suas transações com os bancos privados que faliram. Razoável.

A revista britânica The Economist escreve: "A recuperação da economia islandesa mostra que o custo extra para um país que não apóia seus bancos poderá ser surpreendentemente pequeno. A Islândia deixou seus bancos privados falirem e seu PIB despencou 15% – do mais alto ao mais baixo ponto – antes, ainda, de iniciar sua recuperação. A Irlanda salvou seus bancos e verificou queda de seu PIB em 14%".

União que não ajuda

Se alguém calcular que o déficit de orçamento da Irlanda decolou ao impensável 32% do PIB e a dívida pública explodiu, de 25% do PIB, em 2007, para 100%, ano passado, e atingirá 120% do PIB, em 2013, com o desemprego atingindo na Irlanda 14,1% – contra 7,3% na Islândia – facilmente chega à conclusão que a "obediente" Irlanda encontra-se em situação muito pior do que a "desobediente" Islândia.

"A lição de moral da história é que, se o choque de uma desvalorização pode municiar a explosão de uma crise violenta e muito mais dolorosa, uma severa política de frugalidade e deflação por causa da dívida provocam mais e maiores prejuízos", conclui o jornal britânico Daily Telegraph.

"Uma lição das opções contrárias da Islândia e Irlanda é que os benefícios pelo fato de um pequena país pertencer a uma grande união monetária não é nada daquilo que outrora parecia que fosse ditirâmbico", escreve a Economist, que continua: "Quando investidores em pânico abandonavam as moedas menores no outono de 2008, o euro surgia como refúgio seguro. Porém, dois anos após, o euro é parecido mais com uma armadilha para países que lutam para reconquistar sua competitividade nas exportações. A Grécia e a Irlanda perderam a confiança dos mercados, apesar de ambos emitirem bônus estatais em euros. Quanto aos islandeses, que, inicialmente, consideravam o euro sua tábua de salvação, agora não querem sequer ouvir sobre ele".

__________________________________________________________

Fonte: Monitor Mercantil