Historicamente, o Rio concentrou as principais divulgações de trabalhos do Ipea, especialmente os dados de conjuntura que tinham divulgação mensal. Hoje, embora a diretoria de estudos macroeconômicos permaneça na sede fluminense do instituto, a periodicidade da divulgação é trimestral e seu novo formato retirou muito do interesse que o boletim de conjuntura do Ipea despertava no mercado, pois fazia previsões de indicadores macroeconômicos importantes.

Há como pano de fundo da questão regional também uma disputa ideológica. Durante muitos anos a hegemonia do pensamento macroeconômico no Ipea esteve com os setores mais alinhados com a chamada visão ortodoxa, caracterizada pela tendência a preconizar políticas fiscal e monetária apertadas, sempre ajustadas a que as forças do mercado tenham liberdade para definir os rumos da economia.
A PUC-Rio e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) são os maiores mananciais de cérebros ligados a essa corrente que predominou no governo Fernando Henrique Cardoso e no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com a chegada de Pochmann à presidência do órgão chega também a vez dos economista heterodoxos, cuja ênfase no papel do Estado como indutor do crescimento econômico supera as preocupações com o controle dos gastos públicos e com o ajuste da taxa de juros.

Unicamp, em São Paulo, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do atual diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, João Sicsú, no Rio, são os dois principais núcleos nacionais dos economistas alinhados a essa última corrente.

Mas em um ponto bem distante do infinito as duas linhas aparentemente paralelas convergem: no horror a que uma indicação puramente política possa colocar na presidência do Ipea um nome divorciado das suas características de órgão de pesquisa e de planejamento, com a consequente perda da reputação adquirida em mais de 45 anos de história.

Alguns avaliam que a transferência do Instituto do comando do Ministério do Planejamento para o da SAE, ocorrido neste governo, potencializa esse risco. Como a SAE tem sido recentemente desaguadouro de nomes pouco prestigiados no núcleo central do poder, o prestigio do próprio Ipea estaria sendo também progressivamente minado.

A luta pelo retorno do Ipea ao guarda-chuva do Planejamento é defendida de forma consensual pelos funcionários do instituto. Mas no momento, a questão é mais de sobrevivência, de evitar que essa casa de excelência das pesquisas econômicas seja conspurcada pelo oportunismo político. Economistas de renome no contexto nacional estão deveras preocupados com o que possa vir a acontecer ao Ipea e já expressaram sua aflição à presidente eleita Dilma Rousseff.

A direção do Ipea, em nota oficial divulgada ontem, informou que não comentaria nada sobre o assunto.

Fonte: Valor Econômico