É óbvio que os poderosos grupos económicos alemães e o potencial exportador da Alemanha lucraram com a desvalorização do euro e as imposições imperialistas às economias mais débeis como Portugal. Mas é duvidoso que se trate de uma tendência duradoura. É aliás significativo o modo como os tecnocratas da UE estão a lidar com a notícia: ao mesmo tempo que alimentam expectativas de recuperação para breve, falam de «incerteza» e «fragilidade» advertindo que as «reformas estruturais» e as politicas de «austeridade» têm de continuar. Perante as acções de massas convocadas para o Outono por toda a Europa procuram assim desmobilizar e diminuir o alcance da luta, anunciando desde já ser impossível atender as reivindicações dos trabalhadores pois isso comprometeria a recuperação. Em qualquer caso de que «recuperação» falam? Da sua, de novos patamares de concentração do capital e de exploração dos trabalhadores e dos povos. A solução de problemas tão graves como o desemprego, o trabalho precário e sem direitos ou o fosso cada vez maior entre ricos e pobres, estão ausentes desta sua «recuperação».

E ntretanto se é verdade que, mesmo segundo os critérios da economia política burguesa, a evolução da crise económica está carregada de incertezas, noutras vertentes da dinâmica do capitalismo as tendências são infelizmente bem nítidas: corrida aos armamentos, alastramento de focos de tensão e de guerra, ataques cada vez mais graves a direitos e liberdades fundamentais, avanço de forças racistas e fascizantes. Quando depois das solenes promessas de Obama, o campo de concentração de Guantanamo continua por encerrar e os «tribunais» militares criados por Bush continuam a funcionar; quando na composição da comissão de inquérito criada pela ONU ao sangrento ataque israelita de 31 de Maio à flotilha de solidariedade com Gaza, pontifica o ex-presidente fascista da Colômbia Álvaro Uribe; quando em França se desenvolvem a partir do poder medidas racistas e xenófobas que levam o Le Monde a titular a toda a largura da primeira página que «M. Sarkozy quer endurecer a repressão contra os delinquentes de origem estrangeira» ou que «a extrema direita quer recolher o que M. Sarkozy semeia»; quando um governo japonês assinala o 65.º aniversário do holocausto nuclear de Hiroshima e Nagasaki, pela primeira vez, na companhia de representantes da potência agressora e declara o apoio do Japão à política de «dissuasão nuclear» dos EUA, precisamente quando os EUA e a Coreia do Sul realizam nas fronteiras da RPDC gigantescas manobras militares simulando provocatoriamente a invasão deste país soberano; quando tudo isto e muito mais acontece como se da coisa mais natural do mundo se tratasse, temos de preparar-nos para o pior e desenvolver esforços redobrados para mobilizar os trabalhadores, a juventude, as massas contra o imperialismo e a reacção, por alternativas de soberania, progresso, cooperação e paz.

E fazê-lo sabendo que «o capitalismo traz a guerra como a nuvem traz a tempestade» e que, enquanto subsistir a exploração do homem pelo homem, não estarão liquidadas as raízes da opressão e da guerra. Mas também com a mobilizadora certeza, apoiada na experiência histórica, de que, se unidas e mobilizadas, as forças do progresso social e da paz podem travar o caminho à reacção e aos mais perigosos desígnios do imperialismo. É com esta perspectiva que o PCP chama a intensificar a solidariedade internacionalista com os povos que estão na primeira linha da resistência ao imperialismo e a transformar a campanha unitária «Paz Sim, NATO Não» numa grande campanha política de massas.

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Fonte: jornal Avante!